Palmas para o senhor presidente da República, que conseguiu com sua campanha negacionista da crise atrair para o Brasil o título de referência mundial negativa no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus. Um estudo realizado pelo Imperial College de Londres revela que Brasil pode passar de 10 mil mortes por Covid-19 até domingo (3). Até esta quarta-feira, o país registrava 5.466 óbitos pela doença – 449 a mais em 24 horas. O país tem a maior taxa de transmissão do planeta – para cada caso, há três outros infectados.

Uma das mais conceituadas instituições em modelagem matemática, o Imperial College analisou a situação em 48 nações e concluiu que o Brasil  tem uma das piores situações do mundo, com o número de casos “em provável crescimento” e um registro “muito grande” de óbitos. De quarta-feira (29/4) até domingo, o número de óbitos deverá ser “muito alto” (acima de 5 mil) no Brasil e nos Estados Unidos. Numa previsão menos pessimista, os cientistas previam 5,6 mil óbitos (o que se somaria aos 5.466 registrados até esta quarta), enquanto nos EUA poderia ficar entre 13 mil e 15 mil.

“Viramos referência mundial negativa”, resume o infectologista Antônio Flores à Agência Estado. “Tem a ver com nossas estratégias de testagem, não satisfatórias; da forma como o distanciamento social foi implementado em diferentes regiões e das mensagens conflitantes do governo. Ter uma mensagem consolidada é importante para que a comunidade tenha confiança na resposta; e aqui vemos protestos contra o isolamento”, diz.

O levantamento lista os países em que a disseminação do coronavírus está “provavelmente declinando”, como França, Itália e Espanha e outros em que há estabilidade ou crescimento lento, como Alemanha, Reino Unido e os EUA. A pior previsão é para nove países em que a epidemia ainda se encontra “em provável crescimento”, o que inclui Brasil, Canadá, Índia, México e Rússia.

O Imperial College vem publicando projeções desde que a epidemia chegou à Europa. Foi por causa dos seus números que o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, se convenceu de que o isolamento social era necessário para evitar uma catástrofe. “O Brasil adotou medidas de distanciamento social precocemente, diferentemente dos EUA, e achatamos a curva (de crescimento da epidemia), adiamos o pico, mas isso tem de ser acompanhado pela oferta de leitos”, comentou o infectologista Roberto Medronho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ministro da Saúde: isolamento diferente em cada estado

Criticado por ter falado em relaxar o isolamento, o ministro da Saúde, Nelson Teich, citou estudo da pasta para mudar a diretriz de isolamento para tentar ajudar estados e municípios a tomarem as melhores decisões, de acordo com a população e cada necessidade local. A ideia seria manter o isolamento só para alguns grupos – como idosos, casos confirmados e aqueles em contato com doentes – e para as regiões mais críticas. A mudança dependerá de uma queda na curva de casos e a decisão será de Estados e municípios.

“Cada estado vai poder usar essa diretriz para a sua própria realidade. Vamos colocar as variáveis e cada estado vai ver como se encaixa e pode usar para orientar suas ações”, disse ele, em audiência no Senado via videoconferência na tarde desta quarta-feira (29). No entanto, ponderou que o posicionamento do ministério não mudou até agora e manteve a orientação para o distanciamento social. “O fato de estar planejando agora não quer dizer que vai liberar ou sugerir flexibilização no momento em que a curva ainda está ascendente”, afirmou.

O isolamento é uma ferramenta, que pode ser bem ou mal-usada. Não podemos ter uma resposta simplista para um problema complexo para um país tão heterogêneo, como o Brasil. Ficar em casa vai ser melhor para algumas pessoas e regiões, mas não para todas”, esclareceu Teich.

Como uma das formas de entender qual melhor modelo seguir e obter maiores informações, o Ministério da Saúde também vai trabalhar com pesquisas internacionais. “Além disso, vamos entrar em contato com os países que tiveram maior sucesso para termos detalhes do que foi feito nesses lugares”, disse o ministro.

Compra de respiradores

Em relação à distribuição de respiradores, equipamentos usados no tratamento de pacientes graves com dificuldade para respirar, o ministro informou que o Governo Federal enfrenta o desafio na disponibilidade destes equipamentos. “Apesar do grande esforço que estabelecemos com a indústria nacional, o cronograma de entrega desses equipamentos atende, em parte as nossas necessidades. Por isso, estamos buscando alternativas”, informou.

O Ministério da Saúde possuía uma compra de 15 mil respiradores produzidos na China que precisou ser cancelada porque o fornecedor não conseguiu entregar os aparelhos. Diante disso, ao longo de três meses, uma rede de empresas brasileiras ajudará a atender as necessidades do Sistema Único de Saúde, com 14.100 respiradores mecânicos. A partir das entregas pelas empresas fabricantes, o Ministério da Saúde distribuiu 272 respiradores e outros 185 serão entregues nesta semana pelas empresas brasileiras.

Ajuda aos estados que mais precisam

Após distribuição de R$ 5 bilhões para que os estados e municípios pudessem reestruturar suas redes de saúde, ele destacou que, agora, em uma nova fase da doença no país, priorizará os estados com maior quantidade de casos e, portanto, maior necessidade de ampliação da estrutura de atendimento à população.

De posse de informações atualizadas de estados e municípios, percebendo os diferentes perfis de comportamento da doença por região, bem como padrão de evolução da epidemia em cada localidade, definimos que as nossas ações devem se pautar por distribuição não-linear de insumos e de meios, o que definirá o peso de distribuição de recursos e também a prioridade no socorro a estados e municípios a partir da situação crítica vivenciada pelo ente federal”, explicou.

Segundo ele, o Ministério da Saúde tem trabalhado diariamente com foco e observação de todos os estados e municípios, acompanhando de perto a evolução de casos e óbitos em todos os lugares para auxiliar na melhor tomada de decisão em cada caso. “Vamos fazer tudo o que tem de ser feito para sairmos dessa crise o mais rápido e com a menor mortalidade possível”, disse o ministro da Saúde, Nelson Teich.

APOIO AO ESTADO DO AMAZONAS

Para auxiliar o estado do Amazonas, que possui um dos maiores números de casos e óbitos, proporcionalmente, o ministro da Saúde destacou que o Ministério da Saúde já enviou R$ 68,7 milhões para reforço de ações hospitalares e serviços de Atenção Primária voltados exclusivamente para o combate do coronavírus, além de 13.928 testes RT-PCR e 46.560 testes rápidos.

O estado também já recebeu 1,2 milhão de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como álcool em gel, avental, luvas, máscaras N95, máscaras cirúrgicas, óculos de proteção, sapatilhas e toucas. O estado também recebeu 55 respiradores para auxiliar nos casos mais graves da doença. Nesta quinta-feira (30), decola um avião levando mais respiradores, EPIS e outros materiais.

Essa é a primeira ação estratégica e está sendo voltada para Manaus, estamos indo buscar esses equipamentos direto nas linhas de produção. Não há nenhuma vantagem de um estado ou cidade ter prioridade em relação aos outros, isso é representado pela total situação de calamidade que cada região está vivendo. Nenhuma região está deixando de ser observada nem deixando de receber tudo o que foi combinado”, explicou o secretário-executivo do Ministério da Saúde, general Eduardo Pazuello.

Acesse aqui a apresentação completa

Teich também classificou o papel do Ministério da Saúde como uma “força nacional de apoio, calibrando os esforços e modulando as ações. O ministro da Saúde também destacou que, desde que assumiu à pasta, se dedicou a aperfeiçoar a dinâmica de aquisições, ampliar a parceria com a iniciativa privada, acelerar as entregas de insumos e de serviços e estreitar, cada vez mais, a nossa relação com estados e municípios”, disse.

TELEMEDICINA

O atendimento médico à distância também ganhou relevância nacional nas ações de combate ao coronavírus e outras doenças. Agora, a população brasileira não precisa sair de casa para receber diagnóstico e orientações sobre sinais e sintomas da doença. Com os serviços do TeleSUS, por telefone, ligando para o Disque Saúde 136; pelo Chatbot, disponível na página do Ministério da Saúde, ou baixando o aplicativo Coronavírus SUS gratuitamente, qualquer pessoa pode tirar dúvidas e até se consultar com um profissional de saúde. Até o momento, 5,7 milhões de pessoas já buscaram os serviços do TeleSUS.

A telemedicina vai ser útil e vai nos permitir desenvolver coisas futuras. É mais uma ferramenta. Aproxima as pessoas, permite contato à distância e interação social. No entanto, vamos ter que rever a melhor forma de usar essa ferramenta. Isso já está sendo trabalhado”, explicou o ministro da Saúde, Nelson Teich.

Cada senador teve cinco minutos para contextualizar seus pontos de vista e elaborar os questionamentos, respondidas pelo ministro em igual tempo, a cada bloco de três perguntas. A audiência pública foi comandada pelo presidente do Senado, senador Davi Alcolumbre. Este é um momento no Brasil que demanda ação conjunta do Governo Federal, estados, municípios, deputados e senadores. Nunca vi um momento que exigisse tamanha união de lideranças no enfrentamento de um problema comum. Este é um momento histórico de união do país”, declarou Teich.

Número de casos chega a 78.162

Segundo informações repassadas pelos estados ao Ministério da Saúde, o país tinha até as 14 horas de quarta-feira um total de 78.162 pessoas, sendo 6.276 casos novos em 24 horas. A taxa de letalidade é de 7%. Dos 78.162 casos confirmados atualmente, 34.132 estão recuperados (44%) e 38.564 estão em acompanhamento. Existem ainda 1.452 óbitos que estão em investigação.

Atualmente, todos os estados brasileiros registram casos e mortes por coronavírus. São Paulo concentra a maior parte das notificações, com 26.158 casos e 2.247 mortes. Rio de Janeiro aparece em segundo lugar, com 8.869 casos e 794 óbitos. O estado que registra menos notificações é Tocantins, com 116 registros e três mortes.

Foram também registradas mortes no Ceará (441), Pernambuco (538),  Amazonas (380), Maranhão (166),  Pará (137), Bahia (96), Paraná (82), Minas Gerais (80), Espírito Santo (76),  Paraíba (58), Rio Grande do Norte (53), Rio Grande do Sul (50), Santa Catarina (44), Alagoas (41), Amapá (31), Distrito Federal (28), Goiás (27),  Piauí (24), Acre (17), Rondônia (15), Sergipe (12), Mato Grosso (11), Mato Grosso do Sul (nove), Roraima (seis) e Tocantins (três).

Perfil – Pessoas acima de 60 anos se enquadram no grupo de risco, mesmo que não tenham nenhum problema de saúde associado. Além disso, pessoas de qualquer idade que tenham comorbidades, como cardiopatia, diabetes, pneumopatia, doença neurológica ou renal, imunodepressão, obesidade, asma, entre outras, também precisam redobrar os cuidados nas medidas de prevenção ao coronavírus.

▶️ 78.162 diagnosticados com Covid-19
▶️ 5.466 óbitos (7%)
▶️ 38.564 em acompanhamento* (49%)
▶️ 34.132 recuperados* (44%)
▶️ 1.452 óbitos em investigação

*estimativas sujeitas a revisão

Clique aqui para ver o detalhamento por UF de casos e mortes por coronavírus

 

Com Agência Brasil, Agência Estado e Ministério da Saúde

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2 Comments
  • […] acordo com um estudo do Imperial College de Londres, o Brasil pode registrar 9.700 mortes por Covid-19 até o próximo domingo e tem, neste momento, a […]

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  • […] Para o pesquisador, o número de mortes deve ser muito maior do que o divulgado oficialmente, por conta da subnotificação.  “O Brasil está perdendo 90% dos seus casos. Se não é o pior país, é o segundo pior. A gente retomou um crescimento que parece o começo da pandemia, com entre dois e três infectados por pessoa infectada e estamos com um caso de subnotificação seríssimo de 90%”, disse, citando um estudo feito pelo Imperial College. […]

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