O Dia Estadual de Combate ao Câncer de Mama e Cólo de Útero (19 de outubro) foi marcado por denúncias contra as políticas federal e estadual de combate às doenças, no plenário da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Integrantes da bancada de oposição, as deputadas Enfermeira Rejane (PCdoB) e Renata Souza (Psol), respectivamente presidente e vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher (CDDM) criticaram o presidente Jair Bolsonaro e o governador Claudio Castro, ambos do PL, pela falta de investimento em ações para enfrentamento do câncer, sobretudo dos tipos que mais acometem as mulheres, depois do câncer de pele.

Enfermeira Rejane (PCdoB) chamou a atenção para o corte de recursos do governo federal para o Sistema Único de Saúde (SUS), atingindo 45% das verbas destinadas à prevenção e ao controle do câncer, segunda doença que mais mata no Brasil.  A estimativa é que, somente este ano, R$ 78 milhões dos recursos da assistência tenham sido retirados, num momento em que a situação de muitas pacientes de câncer de mama se agravou devido à demora no diagnóstico e no tratamento durante a pandemia do coronavírus, conforme apontam entidades médicas e científicas que monitoram esses dados. 

“Ao desmontar o Plano de Ação para o Controle dos Cânceres de Colo do Útero e de Mama, a medida impactou severamente estados e municípios. Há quatro anos perdemos a lógica de articulação e troca qualificada de recursos financeiros e quadros de servidores especializados, o que sempre influenciou positivamente na eficácia do nosso SUS”, destacou a Enfermeira Rejane. Segundo ela, é preciso um debate para que o poder público aumente o orçamento para oferecer melhor diagnóstico e tratamento para as mulheres vítimas do câncer de mama e de cólo de útero no Estado do Rio.  

Deputada mais votada do Parlamento fluminense, com 174.132 votos, Renata Souza disse que o Estado não dá prioridade no orçamento à saúde da mulher. “Sem dinheiro não tem mamógrafo. Hoje a mulher leva séculos para fazer uma mamografia. Pela lógica orçamentária, a mulher não é prioridade. Um governador alinhado ao presidente que diz que defende a família não empenha recursos para a vida das mulheres no estado. É uma política de morte, de ódio contra as mulheres”, disparou.

Segundo a deputada, para este ano, só R$ 98 milhões foram destinados no orçamento estadual para programas voltados às mulheres como um todo. Porém, apenas R$ 26 milhões foram empenhados (27% do previsto) e desse total, apenas 8% foram efetivamente pagos nos quatro primeiros meses do ano. Para o programa Saúde da Mulher Materna e Infantil, dos R$ 56 milhões previstos, só R$ 4 milhões foram liquidados no primeiro quadrimestre.

“Perguntamos ao procurador-geral de Justiça do Rio onde foram parar recursos e estamos aguardando uma resposta”, completou, informando que aguarda parecer sobre a representação que moveu em maio deste ano. Ela também cobrou mais recursos para políticas públicas voltadas para as mulheres no Estado e disse que o Governo não garantiu recursos necessários para implementar os 12 programas voltados à mulher, a maioria deles gerenciada pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos (Sedsodh), que concentra a maior dotação para este fim (R$ 56 milhões).

A partir de 2023, com mais mulheres na Alerj – a bancada feminina subirá de 8 para 15 parlamentares – a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher ganhará um reforço e aumentará sua responsabilidade, mas ainda terá que lidar com muitos desafios, numa Casa de maioria masculina (45 dos 70 deputados são homens). ““Nosso papel aqui é fiscalizar o Executivo. Tem que ter política o ano inteiro pra respeitar a vida das mulheres. Hoje não tem sequer politicas públicas”, destacou, 

Deputada governista defende a volta do mamógrafo

Membro da CDDM e integrante da bancada governista, a deputada Tia Ju (Rep) defendeu a retomada do serviço itinerante que leva mamografia e exames a vários territórios – o conhecido mamógrafo móvel -, chegando a oferecer apoio da Alerj para que o as carretas voltem a circular nos municípios. “As passagens são caras e o acesso ao Centro de Imagem, no Centro do Rio, fica difícil para quem mora mais longe”, disse ela. 

Outra questão é a ampliação do serviço de fisioterapia para pacientes mastectomizados, garantido por lei aprovada na Alerj. “Só o Inca (Instituto Nacional do Câncer) fazia. Muitas mulheres ou homens que enfrentam a doença acabam ficando incapacitados para o trabalho porque se tornam deficientes do braço e do ombro por conta do linfodema”. Essa condição ocorre principalmente após cirurgia ou radioterapia, quando o vaso linfático é incapaz de drenar adequadamente o fluido corporal, também chamado de linfa.

Sobre a necessidade de incentivar as atividades físicas como prevenção ao câncer, ela lembrou ainda que os projetos esportivos do Governo do Estado foram suspensos pela Justiça e disse que fará um apelo ao Ministério Público do Estado para avaliar essas iniciativas, permitindo a volta das atividades de zumba e ginástica funcional nas comunidades, o que beneficiará mulheres que precisam voltar a se exercitar perto de suas casas.

Medidas preventivas podem reduzir casos em 28%

A superintendente de Atenção Primária à Saúde da SES, Halene Cristina Dias de Armada e Silva, disse que o Inca estima que haja 60 mil casos positivos da doença por ano e esse número pode reduzir em 28% com medidas de prevenção como redução no consumo de álcool e cigarro, alimentação saudável e prática de atividades físicas. Um destaque é a importância da amamentação: mulheres que amamentam por dois anos podem reduzir a chance de câncer de mama em 10%. 

Segundo ela, por determinação do Ministério da Saúde, o rastreio para prevenção e diagnóstico do câncer de mama por meio da mamografia é feito a partir dos 50 anos até os 69, com mamografia bianual. Já o rastreio para o câncer de colo de útero é feito dos 25 aos 64 anos, anualmente, por meio das visitas ao ginecologista.

Ao ViDA &  Ação, Halene explicou que atualmente a SES conta com dois mamógrafos móveis, que estão em funcionamento, atendendo municípios de grande densidade populacional, mediante critério clínico e epidemiológico e solicitação dos prefeitos. As últimas saídas foram para o bairro de Campo Grande, na Zona Oeste, e para o município de São Gonçalo. Além disso, a SES vem realizando grandes feiras de saúde – a próxima será em novembro, no Largo da Carioca, no Centro do Rio.

Ela ainda alertou que, além do autoexame em casa, a mulher deve procurar a rede de atenção primária para um exame mais detalhado por enfermeiro, médico ou outro profissional. “Muitas vezes as lesões são difíceis de perceber e, quando se percebe caroço, repuxar da pele ou pele alterado já está muito avançado. Infelizmente, muitas mulheres não procuram o serviço de saúde”, disse.

Outubro Rosa na Alerj

Na manhã desta quarta-feira (19), Dia Estadual de Combate ao Câncer de Mama e Cólo de Útero (19 de outubro), o plenário da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) se enfeitou de bolas rosas e os convidados receberam fitas na mesma cor logo na entrada. Um evento promovido pela marcou, mais uma vez, a adesão do Parlamento fluminense ao Outubro Rosa, mês que alerta sobre a prevenção e tratamento dessas doenças. 

A programação é organizada anualmente desde 2016, com uma série de atividades realizadas em parceria com instituições de saúde e da sociedade civil organizada. As atividades atendem à Resolução 308/2016, que instituiu no calendário de comemorações oficiais da Alerj a campanha sobre a prevenção e diagnóstico precoce dos dois tipos de câncer que mais atingem a mulher, depois do câncer de pele.

Na abertura da cerimônia, a presidenta da CDDM, deputada Enfermeira Rejane (PCdoB), disse que ao incluir a campanha mundial  em seu calendário, o Parlamento fluminense demonstra seu olhar atento à discussão sobre o câncer de mama e, posteriormente, o câncer de cólo de útero, passando a incorporar, também, a campanha contra o câncer de próstata, que ocorrerá em novembro. 

Rejane lembrou que, graças ao trabalho da Comissão, foram aprovadas leis como a que preserva as mulheres da exposição de fatores de risco e a que prevê fisioterapia a mulheres mastectomizadas, além da que cria o Dia Estadual de Combate ao Câncer de Mama e Cólo de Útero. A cerimônia contou com a presença das deputadas eleitas Dani Balbi (PCdoB) e Marina do MST (PT).

A enfermeira Andrea Sant´Ana (foto) contou sua experiência ao ser diagnosticada com câncer de mama durante a pandemia, em 2020 (veja mais em nossa seção SuperAção, no sábado). Houve ainda a distribuição de uma cartilha ‘Prevenção é o Melhor Remédio’, explicando mais sobre as duas doenças e também as leis estaduais criadas pela Casa para contemplar as pacientes, além de telefones úteis.

Houve apresentação do grupo Ocupação Cultural Artística (OCA), formado durante a pandemia por mulheres da comunidade do Viradouro, em Niterói, denunciando a violência doméstica. O cantor Eraldo Maia, que também é enfermeiro, apresentou ao violão uma música que compôs especialmente para a data, ensinando mulheres a fazer o autoexame da mama. 

Desde o início do mês, como faz sempre em outubro, a Alerj promove a iluminação especial do Palácio Tiradentes, bem como uma série de ações informativas em seus canais de comunicação e redes sociais.

Agenda Positiva

Mutirão de serviços no Largo da Carioca

No Dia Internacional de Combate ao Câncer de Mama, a Secretaria de Estado de Governo realizou um mutirão de serviços e atendeu 196 pessoas, no Largo da Carioca, Centro do Rio. A “Caravana Rosa” levou serviços de beleza, saúde e informações, como o autoexame, que visam a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer, dentro da campanha Outubro Rosa.

Na ação, realizada pelo programa RJ para Todos, da Segov, também contou com atendimentos sociais para a isenção de custos para a emissão de documentos e do projeto “Banho de Cidadania”, um ônibus que ofereceu banho e roupas para a população em vulnerabilidade social.

“A campanha de conscientização e prevenção ao câncer de mama, feita pelo governo do estado, mostra a força da união entre as mulheres e o poder público na missão pelo direito da mulher. Não mostramos apenas a importância do diagnóstico precoce para o tratamento, mas também o acolhimento – relatou o secretário de Governo, Rodrigo Bacellar.

Para a superintendente do RJ para Todos, Gilvânia Coutinho, a campanha é primordial para incentivar nas mulheres a cultura do autocuidado. “A prevenção é primordial para a prevenção do câncer de mama e demais doenças”, explicou

Com Alerj e SeGov

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