câncer de mama, durante muito tempo, foi cercado de estigmas e silêncio. Falar sobre a doença era praticamente um tabu, tanto no Brasil quanto no mundo. As mulheres evitavam discutir o assunto e, consequentemente, não buscavam realizar os exames preventivos essenciais para a detecção precoce. Mas esse cenário vem mudando.

Dados da Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (FIDI) mostram que o volume de exames de mamografia aumentou 106% de 2018 para 2023.  Nas 78 unidades de saúde da Fidi nos estados de São Paulo e Goiás que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS), apenas em 2024 já foram realizadas 120.171 mamografias . Nota-se uma maior porcentagem de mulheres entre 50 e 60 anos mais engajadas na realização de mamografia.

Este crescimento se dá principalmente pelo Outubro Rosa, uma das campanhas mais importantes para a saúde preventiva da mulher. Com o objetivo de conscientizar sobre o câncer de mama, a ação ressalta a relevância da prevenção e do diagnóstico precoce, especialmente por meio da mamografia.

A mamografia era vista como um exame doloroso e cercado de mitos. Muitas mulheres tinham receio de realizá-lo por falta de informação e medo do diagnóstico. Campanhas de conscientização como o Outubro Rosa ganham força no Brasil, ajudando a derrubar esses tabus e estimulando mais mulheres a realizarem o exame de forma preventiva”, disse a médica radiologista com especialização em mama da Fidi, Vivian Milani.

Além disso, segundo ela, a falta de recursos e equipamentos nos hospitais públicos limitava o acesso ao exame, sobretudo em regiões mais remotas do país, mas este cenário mudou significativamente nos dias de hoje. Mesmo em meio aos avanços, o aumento significativo dos casos de câncer de mama tem alertado os especialistas.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres no Brasil e no mundo. Apenas no Brasil, são estimados 74 mil novos casos por ano, o que torna o rastreamento e o diagnóstico precoces fundamentais para reduzir a mortalidade. O Estado de São Paulo é o que mais representa casos de câncer de mama, sendo estimados cerca de 20.470 mil apenas em 2023.

Lei da Mamografia: um marco para a saúde da mulher

mamografia foi um importante marco na saúde da mulher no Brasil, principalmente após a implementação da Lei da Mamografia, em 2008. Essa legislação garantiu o direito de mulheres realizarem mamografias gratuitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), revolucionando a forma como o câncer de mama é enfrentado no país.

Antes dessa conquista, a mamografia não era amplamente acessível, e a falta de rastreamento contribuía para diagnósticos tardios, muitas vezes em estágios avançados da doença, o que dificultava o tratamento e reduzia as chances de cura.

Considerado o principal método para detecção precoce, este exame pode identificar tumores ainda em estágios iniciais, antes mesmo que sintomas físicos sejam percebidos, aumentando significativamente as chances de cura. Os avanços tecnológicos na área de diagnóstico por imagem e o fortalecimento de programas de rastreamento têm sido exemplo de políticas públicas eficazes.

Mesmo diante de um impacto positivo com relação à crescente busca pelo diagnóstico precoce, muitas mulheres ainda não fazem a mamografia regularmente, seja por desinformação ou por dificuldades de acesso ao sistema de saúde”, afirma Dra. Vivian Milani.

Por isso, o Outubro Rosa é um lembrete não apenas da importância do exame, mas também da necessidade de seguir lutando por mais igualdade na saúde. A prevenção é a chave para mudar a história do câncer de mama no Brasil, e a mamografia é uma das ferramentas mais poderosas nesse processo.

Agenda Positiva

Cremerj recebe mamografias e ultrassonografias

O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) receberá, em sua sede, a Unidade Móvel de Mamografia e de Ultrassonografia para a realização de exames para as mulheres. A iniciativa, que acontece em alusão ao Outubro Rosa acontecerá nesta quinta-feira, 31 de outubro, das 8h às 17h, somente com agendamento prévio no site do Conselho.

A Unidade Móvel de Mamografia e de Ultrassonografia ficará estacionada na Rua Barão de Itambi, em frente à Praça Chaim Weizmann (a Praça dos Médicos). A ação ocorre em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro.

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Palavra de Especialista

A evolução da mamografia: do tabu à esperança na luta contra o câncer de mama

Por Vivian Milani*

Cada vez mais mulheres estão conscientes da necessidade da realização deste exame de prevenção e incentivam suas familiares e amigas a realizarem mamografia. Algumas mulheres, que passaram pelo tratamento do câncer de mamas, buscam suas amigas, em casa, para realizarem a mamografia, as vezes dizendo, “não tenha medo, este exame salvou a minha vida”. 
Em 1999, quando iniciei na residência médica, na área de Diagnóstico por Imagem, e escolhi como especialidade a área de mama, percebia que a palavra câncer era cercada de muitos tabus. Naquela época, falar sobre o tema era incomum entre as mulheres, e a mamografia no Brasil estava em estágios iniciais de implementação como exame mais importante ao rastreamento do câncer de mama. Infelizmente, já havia desinformação em torno do exame, sendo considerado “perigoso” para a saúde e doloroso, o que desmotivava muitas mulheres a realizá-lo. 
O exame, feito em estruturas bem mais simples do que as disponíveis atualmente, rapidamente se destacou pela sua capacidade de detectar lesões pequenas, permitindo o diagnóstico precoce e aumentando as chances de salvar vidas. Profissionais da área logo perceberam o potencial desse procedimento na saúde feminina e passaram a se especializar na interpretação de laudos mamográficos.  
O cenário da mamografia transformou a vida de muitos radiologistas, que viram no diagnóstico precoce uma oportunidade de contribuir para a saúde das mulheres. Apesar do ceticismo que alguns enfrentaram inicialmente, pelo fato do exame mamográfico ser considerado “muito simples”, um raio- X  das mamas, o tempo provou que a mamografia era, e continua sendo, um método essencial no combate ao câncer de mama
Entretanto, apesar dos progressos no diagnóstico e tratamento do câncer de mama, muitos desafios permanecem. A desinformação, por exemplo, continua sendo um grande obstáculo. Nos últimos anos, tem havido um aumento nas dúvidas e receios das mulheres em relação à mamografia, influenciadas por informações incorretas divulgadas especialmente nas redes sociais. Mitos, como o de que a mamografia “causa câncer” ou que é um exame ultrapassado, precisam ser combatidos com dados e educação. 
câncer de mama é o tipo de câncer que mais mata mulheres no Brasil. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a previsão para o triênio 2023-2025 é de 73 mil novos casos. No entanto, quando detectado em estágio inicial, as chances de cura podem chegar a 98%. Esse sucesso se deve, em grande parte, ao diagnóstico precoce proporcionado pela mamografia
No Brasil, a jornada de atendimento para o câncer de mama no Sistema Único de Saúde (SUS) geralmente começa na atenção primária, onde as mulheres são encaminhadas para a realização de mamografias de rastreamento, recomendadas a cada dois anos para mulheres entre 50 e 69 anos. Caso haja suspeita de câncer, a paciente é direcionada para exames complementares e, se necessário, para biópsias e consultas com mastologistas. 
E vale pontuar a agilidade do SUS no tratamento de câncer de mama. Em 99,57% dos casos de carcinoma in situ, o tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento no SUS foi de até 30 dias. Esse avanço é fundamental para aumentar as chances de cura e melhorar a qualidade de vida das pacientes. 
Voltando à eficácia da mamografia, o exame, que utiliza radiação ionizante em doses seguras, é o método mais eficiente para detectar lesões mamárias ainda em fases iniciais, quando as chances de cura são maiores e o tratamento pode ser menos invasivo. O incentivo à realização regular do exame permanece como um desafio constante para os profissionais de saúde. 
Diversos casos de sucesso reforçam a importância da mamografia. Há relatos de pacientes que, graças a exames de rotina, conseguiram detectar lesões milimétricas e tratar o câncer sem a necessidade de quimioterapia, levando vidas normais após a cura.
A humanização no atendimento também é fundamental no tratamento do câncer de mama. Um ambiente acolhedor e uma equipe que transmita empatia e segurança faz absoluta diferença, ajudando as pacientes a enfrentarem o processo com mais tranquilidade e confiança. 
Apesar de o câncer de mama ainda ser a principal causa de morte por câncer entre mulheres, a maior conscientização e o acesso mais amplo à mamografia têm permitido diagnósticos mais rápidos e tratamentos menos agressivos. É crucial continuar reforçando a mensagem de que a mamografia é segura, eficaz e salva vidas.
Além disso, é necessário que o sistema de saúde brasileiro continue avançando rumo a uma política de rastreamento mais acessível e estruturada, garantindo que mais mulheres tenham a chance de um diagnóstico precoce e, consequentemente, de cura.  
Cada exame realizado pode fazer a diferença, e cada vida salva é um motivo para persistir nessa luta. O objetivo é ver um futuro em que o acesso à saúde seja ampliado. A dedicação dos profissionais de saúde à promoção da mamografia como ferramenta de diagnóstico precoce é um passo fundamental nessa direção. 
*Vivian Milani é médica Radiologista Especializada em Mama da Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (FIDI). 

Sobre a Fidi

Fundada em 1985 por médicos professores integrantes do Departamento de Diagnóstico por Imagem da Escola Paulista de Medicina, atual Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a FIDI é uma Fundação privada sem fins lucrativos que reinveste 100% de seus recursos em assistência médica à população brasileira, por meio do desenvolvimento de soluções de diagnóstico por imagem, realização de atividades de ensino, pesquisa e extensão médico-científica, ações sociais e filantrópicas.

Com 2.065 colaboradores e um corpo técnico formado por mais de 400 médicos, a FIDI está presente em 78 unidades de saúde nos estados de São Paulo e Goiás, e é a maior prestadora de serviços de diagnóstico por imagem do SUS, realizando aproximadamente 5 milhões de exames por ano, entre ressonância magnética, tomografia computadorizada, ultrassonografia, mamografia, raios-X e densitometria óssea.

Com informações da Fidi 

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