Nem todos os casais têm o sonho de serem pais, mas gerar um filho ainda é o projeto de vida de muitos. Ao longo desse projeto, são colocadas em pauta algumas questões sociais, de saúde e financeira. Mas um dos grandes fatores que pode atrapalhar esse projeto é a infertilidade, que pode vir a representar sofrimento e muita dor ao casal.   

A infertilidade atinge cerca de 15% da população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e é atestada quando um casal mantém relações sexuais por um período de 12 meses sem fazer uso de métodos contraceptivos e mesmo assim não consegue engravidar.  

Segundo a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, a infertilidade conjugal é equiparada, ou seja, não se pode dizer que mulheres são mais inférteis que os homens, nem o contrário disso. Embora se saiba disso, é fato que as mulheres são mais cobradas socialmente, para que sejam mães, e quando isso foge a sua capacidade, causa muita tristeza.   

Foi o caso da empresária e digital influencer Camila Pavan. Tentante por mais de 10 anos com o marido Adriano Garbelini, ela não conseguia levar nenhuma gestação até o fim devido a um problema genético de distrofia muscular. Diagnosticada com Atrofia Muscular Espinhal (AME) aos 9 anos de idade, ela enfrentou uma série de dificuldades no processo de maternidade, resultando em dois abortos espontâneos.

Sem conseguir completar o período total de gestação, Camila decidiu fazer o processo de ‘barriga solidária’, com apoio da cunhada, mas infelizmente com algumas semanas de gestação, o feto foi para a trompa, resultando numa gravidez ectópica, sendo necessária a remoção da trompa. 

Foi um quadro doloroso na vida do casal, mas mesmo assim Camila e Adriano não desistiram. Após diversas pesquisas, Camila encontrou na Ucrânia a oportunidade de ser mãe, através da barriga de aluguel.  Todo o processo que o casal passou foi supertranquilo, e mesmo à distância, acompanharam toda a gestação até o parto da pequena Pietra.   

A dor da infertilidade é um sentimento que só quem trilha esse caminho conhece. Conseguir ter minha bebê, mesmo sendo através de um método tão pouco conhecido, fez com que todas as dores que passamos ficassem tão pequenas diante da felicidade de estar com a minha filha nos braços”, afirma Camila, que é formada em Gestão Financeira.

Entenda a luta do casal

A história de Camila e Adriano foi contada no país inteiro após passarem dias angustiantes para conseguir ter em seus braços a pequena Pietra, gestada em uma barriga de aluguel na Ucrânia, em meio à pandemia da Covid-19.  O casal, que está junto desde a adolescência, sempre sonhou em ter um filho, mas após dois abortos espontâneos, revolveu procurar ajuda e saiu em busca de entender como funciona o processo de barriga de aluguel.

No Brasil essa prática não é permitida, mas é legalizada em países como Estados Unidos e Ucrânia. A primeira parada foi nos Estados Unidos, onde Camila passou por uma série de exames, e os médicos constataram que na infância ela recebeu o diagnóstico errado, e não possuía AME e sim Miopatia de Bethlem, outro tipo de distrofia muscular. Por este motivo, era muito arriscado ela engravidar, pois a doença genética poderia passar para seu bebê.

De volta ao Brasil, Camila tentou fazer o processo de barriga solidária com sua cunhada, essa modalidade é permitida no país, desde que a grávida tenha um parentesco de até 4° grau com o pai ou mãe do bebê, mas o procedimento acabou não dando certo. Com isso o casal saiu em busca da clínica ideal para realizar a barriga de aluguel, e encontraram em Kiev, na Ucrânia, o lugar perfeito, que unia segurança, preço fixo e um ótimo acompanhamento de todo o processo.  

Na clínica, colheram o material genético de Adriano e Camila escolheu por meio de uma seleção natural o óvulo de uma doadora anônima, levando em conta as preferências dessa mulher (peso e gostos), para escolher alguém que fosse fisicamente mais parecida com ela. Por determinação do casal, a escolha da mulher que gestaria o bebê ficou a cargo da clínica, sob a exigência de que a pessoa escolhida fosse extremamente responsável.

Durante todo o processo de gestação, o casal de brasileiros recebia ultrassons, medidas do bebê e fotos da barriga, sempre através da clínica que cuidou para que tudo saísse perfeitamente bem. A poucos dias do nascimento de Pietra, o mundo estava no auge da pandemia da Covid- 19, as fronteiras dos países todas fechadas, e Camila e Adriano precisavam viajar até a capital ucraniana.

No meio de muitas incertezas, o casal conseguiu passagens em um voo de repatriação de ucranianos que sairia de Munique, na Alemanha no dia 1 de junho. Para conseguir embarcar nesse avião, tiveram de fazer escala em Amsterdã, na Holanda. Em seguida, foram para a Alemanha e de lá, seguiram até Kiev.

Chegando no destino, o casal precisou fazer o teste da covid-19 e ficar nove dias de quarentena em um hotel designado pelo governo do país. Com o resultado negativo dos testes, Camila e Adriano foram liberados e puderam aguardar o nascimento de Pietra, ocorrido no dia seguinte, 11 de junho.

Após dois dias o casal já estava com a filha nos braços, mas optou por esperar passar 55 dias na Ucrânia, até que a bebê ganhasse uma certa imunidade para poder atravessar o Atlântico até chegar em São José do Rio Preto (SP), onde a família reside.

  

Como funciona a ‘barriga de aluguel’ 

Os casais que sofrem com a infertilidade conjugal podem recorrer a um especialista que fará uma avaliação minuciosa sobre o motivo de não estarem conseguindo engravidar. As opções de tratamentos para infertilidade tanto no homem quanto na mulher dependem muito de quais fatores levaram a dificuldade para engravidar. O auxílio de um médico se faz necessário, para que sejam diagnosticadas as causas e o melhor tratamento.   

Em casos como o da Camila, em que foi detectado um problema que contraindicava a gestação, as opções de ‘barriga solidária’ e ‘barriga de aluguel’ podem ser consideradas, para gestar o bebê sem complicações físicas para ele ou para a mãe. 

A gestação por substituição ou barriga de aluguel, como é popularmente conhecida, é realizada por casais que não podem engravidar, pessoas solteiras que desejam ter um filho com seus genes ou por casais homoafetivos. O procedimento, que ainda não é permitido no Brasil, consiste no aluguel de um útero, mediante a pagamento, para gestar o embrião do casal que não pode engravidar. Assim, a criança gestada em outra barriga nasce com os genes dos pais solicitantes.   

Neste processo o solicitante paga por uma clínica, que vai gerar o embrião por fertilização in vitro. Este embrião é introduzido no útero de uma mulher, que carrega o bebê por nove meses até o nascimento da criança, que quando nasce é entregue aos pais que contrataram a barriga.   

A grande maioria dos casais que buscam o útero de substituição o faz quando a mulher não pode engravidar, seja por não possuir útero ou pela presença de doenças graves preexistentes. No caso da Camila, foi um pouco diferente. Como ela sofre com uma doença genética, se ela utilizasse o seu óvulo, provavelmente sua bebê nasceria com o mesmo problema que ela. Então o casal optou por usar o esperma de Adriano, e um óvulo de uma doadora, com as mesmas características físicas de Camila.  

https://www.youtube.com/watch?v=t8T5EyqK35o&feature=youtu.be

Amor de Mãe: tema em novela e redes sociais

O tema barriga de aluguel, que ainda é tabu no Brasil e em alguns lugares do mundo, veio à tona novamente na novela Amor de Mãe, da Rede Globo. No episódio de 30 de março, o personagem Magno (Juliano Cazarré), juntamente com Lídia (Malu Galli), pergunta para Leila (Arieta Corrêa), ex de Magno, se ela aceita doar seus óvulos para que eles possam fazer uma barriga de aluguel nos Estados Unidos, em troca de dinheiro. 

Muitos canais também abordam o tema nas redes sociais. Após o longo período de tentativas, que culminou num final feliz, Camila Pavan resolveu ajudar a todos que sonham em ter um bebê. Através das redes sociais, realiza lives, publica posts tirando dúvidas sobre fertilidade, gravidez, maternidade de substituição e mostra como tem sido as fases de crescimento da sua filha Pietra.  

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