Após ser internado no dia 10 de setembro, Anderson Leonardo, de 51 anos, vocalista do grupo Molejo, foi diagnosticado com um quadro de embolia pulmonar, conforme relatado em comunicado divulgado pela assessoria do artista. O cantor enfrenta um tratamento de câncer de testículo, diagnosticado inicialmente como câncer inguinal em outubro de 2022.

A embolia pulmonar ocorre quando um coágulo sanguíneo corre pela circulação até chegar ao pulmão e pode resultar até mesmo em morte súbita. Geralmente, ela é decorrente de um quadro de trombose, como explica Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV).

“A embolia pulmonar é geralmente consequência da trombose, quando um coágulo sanguíneo se desenvolve no interior das veias das pernas devido à circulação inadequada, impedindo assim a passagem do sangue. Em casos graves, esse coágulo se desprende da parede da veia e alcança o pulmão, causando a embolia pulmonar”.

Trombose é o nome popular da Trombose Venosa Profunda (TVP), uma doença cardiovascular que representa a terceira causa de morte cardiovascular no mundo, atrás dos casos de Infarto Agudo do Miocárdio e do Acidente Vascular Cerebral (AVC).  

Em países ocidentais, de um a três casos a cada 1.000 habitantes por ano são acometidos pela TVP dos membros inferiores, que é responsável pela embolia pulmonar. O tromboembolismo venoso é a primeira causa de morte evitável em pacientes internados.

Embora não existam números precisos sobre a incidência no Brasil, o cenário da TVP é preocupante. Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), a trombose representa um sério problema de saúde pública que leva a cerca de 113 internações por dia no Sistema Único de Saúde (SUS),  sendo que 61% desse montante são mulheres.

Entre janeiro de 2012 e maio de 2022, 425.404 brasileiros foram internados para tratamento da doença, sendo que 92% (394.254) dos atendimentos ocorreram em caráter de urgência, ou seja, poderiam ter sido evitados se a doença tivesse sido diagnosticada precocemente, de acordo com dados do SUS.

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Sintomas leves e confusão com gripe, pneumonia e infarto

 

A embolia pulmonar pode acontecer em qualquer ciclo da vida, tanto nos homens como nas mulheres, e passa a ser mais frequente com o avançar da idade. Em algumas ocorrências, a doença é diagnosticada como uma gripe e pneumonia, ou nos casos mais graves, caracterizada como infarto agudo do miocárdio, que é capaz de colocar a vida do paciente em risco.

“A embolia pulmonar pode ser oligossintomática, ou seja, inicialmente os sintomas talvez sejam mais leves, e não chamam tanta a atenção, o que representa um grande perigo, pois podem ser confundidos com outras patologias  o tratamento acaba não sendo adequado”, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular da Regional São Paulo (SBACV-SP), Fábio Rossi.

Nos casos mais graves, ainda é confundida também com o infarto agudo, o que é um problema ainda mais sério, porque o tratamento do Infarto é muito diferente, e a demora no diagnóstico correto da doença é capaz de levar o paciente ao óbito”, explica o médico.

A doença acontece quando uma ou mais artérias do pulmão estão obstruídas por um coágulo de sangue que impede a sua passagem, dificulta a sua oxigenação e provoca sobrecarga do coração.  Na maioria das vezes, a embolia pulmonar é provocada por coágulos sanguíneos que se formam em veias das pernas e, em alguns casos mais raros, na cavidade pélvica ou abdominal.

“Uma outra forma, ainda muito mais rara, é a embolia gordurosa, ou gasosa, que ocorre principalmente no trauma, ou em cirurgias de grande porte na pelve ou nas pernas”, explica o médico.

Qualquer pessoa corre o risco de desenvolver coágulos sanguíneos, mas existem alguns fatores que fazem com que isso aconteça com mais facilidade:

Distúrbios hereditários que afetam o sangue, tornando-o mais propenso a coagular, história de trombose ou embolia na família.

Tratamentos médicos: insuficiência cardíaca, câncer, quimioterapia, cirurgias em geral, principalmente de grande porte que exigem internação, e repouso prolongado. O risco aumenta quando o paciente fica entubado na UTI.

Permanecer por muito tempo deitado após uma cirurgia e fratura na região das pernas.

Longos períodos de imobilidade, como viagens de avião, de carro, ônibus, trens, acima de quatro horas, e também em pessoas que trabalham muito tempo em uma única posição, em pé ou sentado.

Durante a gestação, devido às alterações hormonais e também com o peso do bebê que pressiona as veias na pelve e retarda o retorno do sangue e, em alguns casos, provoca a trombose.

Tabagismo, obesidade e uso crônico de anticoncepcionais.

Principais sintomas que devem ser observados

Falta de ar que aparece de repente e se agrava diante de um esforço físico.

Dor no peito confundida com um ataque cardíaco. Geralmente há piora diante de uma tosse, espirro ou esforço.

Tosse acompanhada de escarro com sangue.

Dores ou inchaço nas pernas.

Febre e suor excessivo.

Batimento cardíaco acelerado ou palpitação.

Tontura e desmaio.

Socorro imediato é fundamental

Em 25% dos casos, que acontecem nas embolias volumosas, a primeira manifestação é a parada cardíaca e o óbito. Por isso, o socorro imediato é extremamente importante.

“A pessoa com embolia pulmonar precisa ser socorrida logo que apresentar os primeiros sintomas. O quanto mais rápido for feito o diagnóstico, melhor. O tratamento é realizado por meio do uso de anticoagulantes, que evita que o trombo aumente de tamanho e que se desprenda e se desloque pela corrente sanguínea, se alojando no pulmão”, alerta Fabio Rossi.

Ainda, conforme o médico, em pacientes internados e de alto risco é indicado o uso de anticoagulantes em baixa dosagem, chamados de profiláticos, que evitam a formação do trombo. Isso deve sempre ser feito com supervisão médica rigorosa, pois esses medicamentos evitam a formação de trombos e coágulos, mas também é possível induzir ao sangramento.

Nos casos em que é feito o diagnóstico, devem ser administrados anticoagulantes em doses mais altas o mais rápido possível. Em quadros mais graves, que existe repercussão hemodinâmica, ou seja, hipotensão e choque cardiogênico, pode ser necessário o uso de medicamentos trombolíticos, que têm o poder de dissolver o coágulo, ou até mesmo de cateterismo e uso de dispositivos que têm a capacidade de aspirar o coágulo.

Nos casos de trombose e embolia pulmonar crônica, ou naqueles em que acontecem múltiplos episódios de recidiva, podem surgir a hipertensão pulmonar, o que prejudica muito a capacidade cardiopulmonar e traz limitações e piora irreversível na qualidade de vida.

“A melhor prevenção envolve a educação de todos os profissionais da saúde sobre quais são os fatores de risco e o alerta sobre a importância do diagnóstico precoce. Ao paciente, devemos recomendar um estilo de vida saudável, que inclui dieta equilibrada, com alimentação rica em vegetais e pobre em gorduras, evitar o hábito do tabagismo, praticar exercícios físicos regulares e controlar o peso. É importante que ele esteja ciente de todos os sinais da embolia pulmonar e que procure o atendimento médico vascular imediatamente, para que o tratamento se inicie o mais rápido possível”, orienta Dr. Fabio Rossi.

Doença silenciosa que pode levar à morte

“A Trombose Venosa Profunda (TVP) ocorre quando há a formação de coágulos de sangue nas paredes internas das veias, trombos que impedem o fluxo natural do sistema cardiovascular. Qualquer veia do corpo pode ser afetada, mas as mais acometidas são a veia femoral (pernas) e a veia ilíaca (abdômen)”, explica  o cirurgião vascular e endovascular Fabio Rossi.

De acordo com o especialista, também professor do Instituto Dante Pazzanese (IDPC), além de gerar úlceras nos membros inferiores de difícil cicatrização e problemas de mobilidade, interferindo diretamente na qualidade de vida e bem-estar do paciente, a TVP, se não tratada e acompanhada por um médico regularmente, pode levar à morte.

“Isso acontece quando o coágulo se desprende e se movimenta na corrente sanguínea, em um processo chamado de embolia, que pode levar a lesões graves na região, e provocar sobrecarga do coração e arritmias, caso da embolia pulmonar, por exemplo”, ressalta o cirurgião.

A trombose pode provoca dor crônica, desconforto, inchaços, mudanças de cor nas pernas, e nos casos mais graves até úlcera varicosa, a TVP pode ser assintomática, ou oligossintomática, condição frequente entre 40% e 50% dos casos, obstáculo que dificulta o diagnóstico precoce da doença.

“Justamente por ser silenciosa, é fundamental que as pessoas e a comunidade médica reconheçam quais são os grupos de riscos com maiores chances de apresentar essa doença, para que possamos orientá-los, e educá-los, evitando as complicações da enfermidade. Precisamos, na verdade, nos preocupar e cuidar melhor da nossa saúde vascular”, argumenta o médico.

Sobrepeso, anticoncepcional e pós-cirúrgico 

Segundo a a cirurgiã vascular Aline Lamaita, a atenção com a doença deve ser redobrada por aqueles que possuem fatores individuais que agravam os riscos de trombose, como sobrepeso, obesidade, tabagismo, gestantes, idosos, deficientes físicos, pessoas com varizes e maior predisposição a coagulação sanguínea.

Pessoas com histórico familiar da doença, profissionais que passam períodos prolongados sentados ou em pé, pacientes oncológicos ou após cirurgias de alta complexibilidade, mulheres, principalmente aquelas que fazem uso de hormônios e pílulas anticoncepcionais por longo tempo também integram o perfil de risco para a doença.

Por conta disso, é importante ficar atento aos sinais da trombose, que incluem dor na perna, principalmente na panturrilha, associada a inchaço persistente, calor, sensibilidade e vermelhidão. Mudança de cor na região e dificuldade de locomoção também podem indicar a presença de um coágulo sanguíneo nas pernas.

Caso você presencie esses sintomas, o mais importante é que você procure tratamento médico para evitar que a trombose evolua para uma embolia pulmonar, que possui como sintomas dor no peito, tosse, cansaço e falta inesperada de respiração.

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Tratamento com medicamentos anticoagulantes

A outra boa notícia é que a Trombose Venosa Profunda (TVP) pode ser tratada. Isso inclui o uso de medicamentos anticoagulantes que vão ajudar na redução da viscosidade do sangue e na dissolução do coágulo, impedindo assim que esse cresça e avance para outras regiões e também evitando a ocorrência de novos quadros de trombose”, afirma a cirurgiã vascular.

“Além do uso de anticoagulantes que evitam a solidificação do sangue, e de trombolíticos que auxiliam na dissolução dos trombos, existem procedimentos minimamente invasivos, como a aspiração mecânica do coágulo, e o implante de stents, recomendados em casos mais graves em que se observam a existência de trombos mais extensos e volumosos, e sem resposta ao tratamento medicamentoso”, explica.

Atualmente, inclusive, existem stents venosos, especialmente criados para tratar esse tipo de doença cardiovascular. Antes os cirurgiões tinham de se adaptar aos dispositivos arteriais que não atendiam adequadamente às necessidades.

“Muitos dos pacientes com obstrução venosa profunda são mais jovens, portanto, é fundamental ter um stent venoso que não seja apenas seguro e eficaz, mas também forte e flexível, e durável a longo prazo”, informa o presidente da SBACV-SP.

Prevenção de novos quadros de trombose

Na maioria dos casos, a trombose se resolve com o tratamento. Porém, o problema pode retornar, principalmente em pessoas com predisposição à trombose. Dessa forma, é importante que sejam tomados cuidados voltados para a prevenção do problema.

“Algumas medidas que visam melhorar a circulação podem ajudar na prevenção do quadro de trombose. O recomendado então é que você pare de fumar, consuma bastante água, adote uma alimentação balanceada, realize exercícios físicos regularmente e evite passar muito tempo na mesma posição, seja no horário de trabalho ou em longas viagens, levantando-se de hora em hora para se movimentar um pouco”, destaca a cirurgiã vascular.

De acordo com a Dra. Aline Lamita, o uso de meias elásticas também pode ser indicado, já que essas meias comprimem os vasos sanguíneos, melhorando o retorno venoso e, consequentemente, prevenindo problemas vasculares como varizes e trombose.

“Porém, o mais importante é que você consulte um cirurgião vascular regularmente, principalmente se você tiver predisposição ou agravantes individuais associados à doença. Apenas ele poderá acompanhar sua situação, realizar um diagnóstico correto e, se for o caso, indicar o melhor tratamento para você”, finaliza.

Fabio Rossi lembra que a doença pode ser prevenida com hábitos saudáveis de vida, incluindo uma alimentação equilibrada, prática regular de atividade física, controle de peso, uso de meias de compreensão e checkups médicos frequentes.

Com Assessorias

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