A terceira quinta-feira de novembro é marcada pelo Dia Mundial de Conscientização sobre o Câncer de Pâncreas, uma doença relativamente rara, mas considerada uma das mais agressivas e letais. No Brasil, a condição afeta quase 11 mil pessoas por ano, representa 5% das mortes no universo oncológico e, geralmente quando detectada em fase avançada, limita bastante as possibilidades de cura.
Estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostra que, em todo o país, serão registrados 10.980 novos casos de tumor de pâncreas por ano, até 2025. Somente no Estado do Rio de Janeiro, serão 1.070 diagnósticos.
No Brasil, ainda de acordo com o Inca, sem considerar as ocorrências de pele não melanoma, a doença ocupa a 14ª posição, entre as neoplasias mais frequentes. É responsável por cerca de 1% de todos os tipos de tumores diagnosticados e por 5% do total de mortes causadas pela doença.
O câncer de pâncreas é uma das neoplasias mais desafiadoras na oncologia, sendo uma doença de difícil detecção, com comportamento agressivo no corpo e alta taxa de mortalidade. Um dos grandes desafios dessa doença é que, em sua maioria, o diagnóstico ocorre em estágios avançados, dificultando o sucesso do tratamento.
De acordo com a oncologista Débora Passaro, do Instituto de Oncologia de Sorocaba (IOS), essa é uma das doenças de maior índice de mortalidade entre os tipos de câncer. “O câncer de pâncreas ocupa o sexto lugar em mortalidade entre os cânceres e, apesar de raro, é altamente agressivo, com uma taxa de letalidade elevada,” afirma. A doença já acometeu famosos como o ator Jackson Antunes e o bilionário da Apple, Steve Jobs.
Histórias de superação
O economista e administrador aposentado Gustavo Kastrup, 90 anos, é um exemplo de superação. Em 2020, descobriu um tumor na cabeça do pâncreas. “Eu fui ao cardiologista porque eu tinha uma dor insistente. Ele me fez todos os exames cardiológicos possíveis e não encontrava nada. Até que me mandou para uma ecografia abdominal e lá estava o câncer, do tamanho de uma laranja”, contou Gustavo, acometido por adenocarcinoma de pâncreas.
Aos 86 anos, o aposentado foi submetido a uma cirurgia de alta complexidade que durou nove horas, realizada logo após ele se recuperar de Covid. “A recuperação foi desafiadora, porque além da idade, eu uso marcapasso e tenho três stents no coração. E a cirurgia foi muito delicada porque na região do pâncreas que estava o tumor passam muitas artérias. O cirurgião precisou de habilidade para lidar com elas”, disse o paciente.
“Hoje estou curado do câncer, sem nenhum sinal de recidiva. Levo uma vida ativa, normal. Como minha feijoada e tomo o vinho que gosto”, comentou o paciente, emocionado ao relatar que sua família, com três filhas, sete netos e bisnetos, tem sido sua motivação.
Não importa a idade. E esse caso do Gustavo é emblemático. Mostra que, procurando o tratamento adequado, o paciente pode ser curado”, comentou o cirurgião Eduardo Ramos, do Centro de Cirurgia, Gastroenterologia e Hepatologia (Cighep), localizado no Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG), que operou o paciente.
Maria Daria Lima, de 77 anos, teve também um adenocarcinoma de pâncreas, e obteve cura após cirurgia e quimioterapia. E a cura veio da insistência de Maria, que sentia dor abdominal e seu diagnóstico era sempre o de gastrite. Inconformada, buscou outros especialistas, até que um deles detectou o cisto na cabeça do pâncreas e metástases no corpo. O câncer foi descoberto em 2015 e permanece sem doença até os dias de hoje.
A minha insistência e descoberta precoce fez a diferença. Hoje vivo normalmente, sem nenhuma sequela. É preciso ficar alerta ao menor sinal de que algo não vai bem. Diante de um diagnóstico ruim, não entre em pânico, siga à risca as orientações do médico e mantenha a fé”, aconselha Maria.
Assim como Gustavo, ela também fez quimioterapia antes da cirurgia para reduzir o tumor e as metástases, o que ajudou muito no processo cirúrgico. Isso, explica o médico, mostra que nem sempre a ordem cirurgia e depois quimio ou radioterapia são a sequência correta para todos os pacientes.
Principais fatores de risco e influência genética
Segundo especialistas, apenas cerca de 15% dos casos têm origem hereditária, com a presença de mutações genéticas específicas como BRCA1, BRCA2, PALB2, além de síndromes como Peutz-Jeghers e pancreatite hereditária.
O câncer de pâncreas é mais comum em indivíduos acima dos 60 anos, na presença de fatores de risco como idade avançada, inflamações pancreáticas, obesidade, diabetes, consumo excessivo de álcool e tabagismo aumentam a probabilidade de desenvolvimento da doença. Além disso, aspectos genéticos e histórico familiar podem desempenhar um papel significativo.
O câncer de pâncreas é uma doença complexa e desafiadora, com um prognóstico ainda pouco otimista devido à dificuldade de detecção precoce e à agressividade dos tumores. A conscientização dos fatores de risco e sintomas, bem como o incentivo à pesquisa e aos novos tratamentos, é essencial para enfrentarmos essa neoplasia com mais recursos e melhorar as chances dos pacientes”, destaca Pedro Abreu, oncologista da Oncoclínicas Rio de Janeiro.
A maior incidência se dará entre as mulheres. Vale ressaltar que o risco de se desenvolver esse tipo de tumor cresce com a idade avançada, a partir dos 60 anos. O tipo mais comum da doença é o adenocarcinoma, que se origina no tecido glandular, e corresponde a 90% dos casos.
Acredita-se que um em cada cinco pacientes seja portador de uma variante patogênica hereditária, como as mutações nos genes BRCA1, BRCA2 e PALB2 ou síndrome como Peutz-Jeghers. Também, até 10% dos pacientes têm histórico de familiar de primeiro grau com câncer de pâncreas”, explica a oncologista.
Diagnóstico e sintomas
Outro grande desafio é a ausência de sintomas nos estágios iniciais na maioria dos pacientes, o que dificulta o diagnóstico precoce. Em muitos casos, o câncer de pâncreas é descoberto tardiamente, quando já se encontra em estágio avançado.
Quando localizado na cabeça do pâncreas, o paciente pode apresentar icterícia ainda no estágio inicial. No entanto, o câncer de pâncreas é frequentemente assintomático em fases iniciais, e a maioria dos pacientes só descobre a doença tardiamente. Os principais sintomas são inespecíficos, como fraqueza, perda de peso, diminuição do apetite, dores abdominais e nas costas. O diabetes de início recente em adultos também não deve ser ignorado”, destaca Dra. Débora.
Sendo assim, a detecção precoce é um dos maiores desafios no combate ao câncer de pâncreas. Embora não exista um exame de rastreamento recomendado, a tomografia computadorizada é considerada o exame padrão para investigar a presença da doença, e a ressonância magnética pode auxiliar na avaliação da possibilidade da remoção cirúrgica do tumor. “Recomendamos a tomografia de rastreio em pacientes que têm familiares de primeiro grau com câncer de pâncreas,” orienta a oncologista.
Câncer de pâncreas tem chance de cura quando há rotina de exames anuais
Em geral, o tumor no pâncreas costuma ser agressivo. Mas pode ser eliminado quando detectados precocemente e é prescrito o tratamento adequado
O câncer de pâncreas é uma doença silenciosa e com diagnóstico frequentemente tardio. Mas não significa que seja uma sentença de morte. Pelo contrário, é uma doença que tem chances de cura e o paciente pode ter muita qualidade de vida. Tudo vai depender de exames de monitoramento. E é para conscientizar sobre o tema que o Novembro Roxo é o mês de prevenção ao câncer de pâncreas,
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o tumor no pâncreas é um dos cânceres com maior taxa de mortalidade devido ao diagnóstico tardio. No Brasil, são estimados cerca de 10.980 novos casos anuais entre 2023 e 2025, com uma prevalência maior entre homens e mulheres acima de 65 anos. Entre os principais fatores de risco estão a idade avançada, genética e condições como obesidade, diabetes e hábitos como tabagismo.
De acordo com o Eduardo, exames de imagem como ultrassonografias e tomografias muitas vezes não detectam o câncer de pâncreas em estágio inicial. Isso ocorre devido à localização anatômica da glândula e a profissionais que não possuem o olhar apurado para interpretar os sinais sutis da doença. “Esse tipo de câncer é de difícil detecção e é um exame operador-dependente, ou seja, depende que o radiologista saiba detectar o câncer nas imagens. Isso reforça a importância de um acompanhamento contínuo e especializado”, alerta Eduardo.
Para os pacientes que recebem o diagnóstico, o tratamento depende da fase em que o câncer é descoberto. O cirurgião explica que, na maioria dos casos, a cirurgia combinada com quimioterapia é o caminho mais indicado para melhorar a sobrevida e a qualidade de vida. E a quimio pode ser usada tanto antes, como após a cirurgia.
Por que Steve Jobs não se curou do câncer?
Mesmo dono de uma fortuna bilionária, capaz de pagar por qualquer tipo de tratamento no planeta, muitos se perguntam por que Steve Jobs não conseguiu se salvar de um câncer de pâncreas. Conforme Eduardo, o câncer que o bilionário teve é um tumor neuroendócrino, que afeta de 5% a 10% dos pacientes. É diferente do adenocarcinoma, que é mais comum.
“O tumor neuroendócrino de Jobs é de crescimento lento e tende a ter uma sobrevida muito maior. E há diversos tratamentos: injeções, quimio e cirurgia. Porém, como é silencioso, quando se descobre já pode ter metástases hepáticas. No caso de Jobs, o diagnóstico já tinha lesão pancreática e metástase hepática. Chegou a operar pâncreas, fez até transplante hepático por causa das metástases, mas acabou falecendo do tumor, por causa do diagnóstico tardio”, lamentou o médico, alertando a importância de se realizar exames e consultas de rotina, anualmente, para se localizar tumores de forma precoce.
Novas tecnologias e vacina experimental
Apesar das dificuldades no diagnóstico e no tratamento do câncer de pâncreas, pesquisas recentes trazem esperança. A vacina experimental desenvolvida pela BioNTech, usando tecnologia de mRNA semelhante à das vacinas contra a Covid-19, está em fase inicial de testes, com resultados animadores que indicam uma resposta imunológica duradoura em alguns pacientes.
“Estamos otimistas e esperançosos de que, no futuro, novas terapias possam aumentar a taxa de cura e melhorar a qualidade de vida de nossos pacientes”, conclui o cirurgião do Cighep, alertando que o acompanhamento médico rotineiro, e que leva ao diagnóstico precoce, não seja esquecido. Eduardo e sua equipe operam cerca de 80 a 100 pacientes por ano com câncer de pâncreas e de fígado. Uma grande parte deles tem sucesso no tratament
Hábitos saudáveis podem reduzir os riscos
O Mês de Conscientização sobre o Câncer de Pâncreas busca sensibilizar a população para os fatores de risco e a importância da consulta médica regular, especialmente para quem possui histórico familiar de câncer. Evitar o tabagismo, reduzir o consumo de álcool e adotar um estilo de vida ativo e saudável são passos fundamentais para reduzir os riscos.
“Pacientes sedentários e obesos têm maior risco de desenvolver a doença. A prática de hábitos saudáveis é uma medida importante na prevenção,” reforça Dra. Débora. A médica orienta que a cirurgia é o principal tratamento que possibilita a chance de cura. “Radioterapia e quimioterapia são indicados em casos mais avançados. Os cuidados paliativos são essenciais para aliviar os sintomas e oferecer algum conforto ao paciente e familiares”, finaliza.
A principal dificuldade no combate ao câncer de pâncreas é o diagnóstico tardio. Não existe, até o momento, uma estratégia eficaz de rastreamento populacional como temos para outros tipos de câncer, como a mamografia para câncer de mama ou a colonoscopia para câncer de cólon”, explica o oncologista Thiago Assunção, do Instituto Paulista de Cancerologia (IPC) .
Diferentemente de outros tipos de câncer, o câncer de pâncreas não conta com exames de triagem amplamente recomendados para a população em geral. Por isso, a prevenção é focada principalmente na adoção de hábitos de vida saudáveis, como evitar o tabagismo, o consumo excessivo de álcool, controlar o peso e monitorar condições como o diabetes mellitus.
Cerca de 85% dos casos de câncer de pâncreas estão relacionados a fatores de risco modificáveis, o que reforça a importância de uma vida saudável como uma das principais armas de prevenção”, destaca o Dr. Thiago.
Em relação ao tratamento, apesar dos grandes avanços observados na oncologia nas últimas décadas, o câncer de pâncreas não teve o mesmo progresso. A cirurgia permanece como a principal opção de tratamento curativo, mas é indicada apenas quando o tumor é ressecável. Em muitos casos, a quimioterapia é necessária, seja antes da cirurgia (para reduzir o tamanho do tumor), após a operação (para prevenir a recorrência) ou no controle da doença metastática.
As terapias que revolucionaram o tratamento de outros tumores sólidos, como a imunoterapia e o uso de anticorpos droga-conjugados, não mostraram o mesmo sucesso no câncer de pâncreas. Ainda estamos buscando alternativas mais eficazes para combater essa doença de maneira mais efetiva”, comenta o oncologista
O combate ao câncer de pâncreas é um grande desafio, mas estamos empenhados em melhorar cada vez mais o diagnóstico e tratamento dessa doença, buscando sempre novas alternativas que possam beneficiar nossos pacientes”, conclui Dr. Thiago.
Com o diagnóstico precoce ainda sendo uma barreira, a conscientização sobre os fatores de risco e a busca por hábitos saudáveis permanecem como elementos cruciais na prevenção dessa doença tão agressiva.
Fatores de risco
Obesidade, diabetes tipo 2, tabagismo, consumo excessivo de álcool, baixo consumo de fibras, frutas, vegetais e carnes magras e, ainda, condições genéticas ou hereditárias, como síndrome de Lynch, câncer pancreático familial e pancreatite hereditária.
Sintomas
São sutis e frequentemente confundidos com problemas digestivos comuns, levando ao atraso do diagnóstico. E não costumam aparecer em estágios iniciais da doença: fraqueza; perda de peso e apetite, dores abdominais e nas costas, urina escura, icterícia, náuseas, trombose venosa profunda, diabetes de início recente e piora abrupta de um diabetes já antigo.
Prevenção
A principal recomendação é adotar um estilo de vida saudável e fazer exames de rotina. É necessário evitar a exposição ao tabaco, mesmo de forma passiva, e manter o peso corporal adequado (sobrepeso e obesidade).
Com Assessorias