Conforme o Ministério da Saúde (MS), os linfomas – tipo de câncer que afeta o sistema linfático, responsável pelas defesas do organismo e combate às infecções e outras doenças – são a oitava forma de câncer mais comum no Brasil, com incidência em torno de seis pessoas a cada 100 mil habitantes. Só em 2024, deverão ser registrados 15.120 casos da doença, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Qando não tratada, pode progredir e causar febre sem motivo no fim do dia, suor noturno e perda de peso súbita, podendo inclusive levar à morte. Apenas em 2021, 531 pessoas morreram em decorrência da doença no Brasil.
A maioria dos pacientes pode ser curada com o tratamento disponível atualmente no Sistema Único de Saúde (SUS). Não foi o que aconteceu com o medalhista de ouro olímpico André Felippe Falbo Ferreira, o Pampa, campeão com a seleção brasileira de vôlei nas Olimpíadas de Barcelona, em 1992.
O ex-jogador estava internado em São Paulo e lutava contra um Linfoma de Hodgkin, tipo de câncer que se origina no sistema linfático pelo qual se espalha pelo corpo. Ele faleceu aos 59 anos no dia 7 de junho deste ano.
Com o objetivo de levar informação, promover a sensibilização e combater os linfomas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) criou o Agosto Verde Claro. A campanha alerta a população sobre esse tipo de câncer no sangue, que pode ter grandes chances de recuperação e cura, caso seja diagnosticado precocemente.
Principais sintomas
Febre persistente, suores noturnos, perda de peso inexplicável, fadiga e aumento de inguas no pescoço, na virilha ou nas axilas. Todos esses sintomas precisam ser investigados e podem estar relacionados ao linfoma, tipo de câncer que tem origem no sistema linfático, que é parte do sistema imunológico do corpo.
Os sintomas são bastante característicos e o diagnóstico inclui exame físico, para a avaliação dos linfonodos aumentados, exames de imagem, de sangue e a realização de biópsia, com a retirada do tecido para análise microscópica das características
Os linfomas se originam no sistema linfático, composto por linfonodos e tecidos que produzem as células (linfócitos) responsáveis pela defesa do nosso organismo, por meio da produção de anticorpos e vasos linfáticos, que conduzem essas células pelo corpo. Os linfomas são uma espécie de tumor e provocam o crescimento desenfreado dessas células.
Lorena Bedotti, hematologista do Grupo SOnHe, explica que o surgimento dos linfomas ainda não está bem elucidado, porém pode estar associado, em alguns casos, à doenças hereditárias, doenças em que a imunidade do paciente está comprometida e à doenças virais; e reforça a importância de campanhas como a do agosto verde-claro.
É fundamental levar conhecimento e confiança à população, justamente para que a doença seja diagnosticada nos estágios iniciais, aumentando as chances de cura”, pontua a hematologista.
A principal recomendação é de que as pessoas sempre estejam atentas ao principal sinal inicial: o surgimento de caroços indolores em qualquer lugar do corpo, como pescoço, virilhas e axilas, que podem gerar desconforto.
Se o paciente tem um nódulo na axila, no pescoço ou na virilha, é preciso saber se isso está associado a algum quadro infeccioso ou não. Se ele está gripado, resfriado, tem alguma infecção local, esse gânglio provavelmente é uma sequela. Por exemplo, se a pessoa tem uma dor de dente e aumentou um linfonodo no pescoço, se o paciente fez a barba e se cortou, se depilou a axila e apareceu um linfonodo que cresceu de forma rápida e está dolorido e se tem infecção naquele local, provavelmente é um quadro infeccioso”, explicou a hematologista da Oncologia D’Or, Renata Lyrio .
Segundo ela, é indicado procurar o oncologista se existe um linfonodo e o paciente não tem nenhuma queixa infecciosa e se houve o crescimento de forma espontânea e o aumento é progressivo. Ainda é preciso ficar mais atento se houver febre e perda de peso. “Se a pessoa se sente doente, indisposta, também é sinal de alerta”, disse Renata.
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Linfoma de Hodgkin e não Hodgkin
O linfoma é um termo genérico para designar um grupo de tumores que se originam nas células brancas do sangue (linfócitos) e se desenvolvem nos gânglios linfáticos (linfonodos). Eles se dividem entre linfoma de Hodgkin e não Hodgkin.
O primeiro responde por cerca de 20% dos casos da doença e acomete principalmente adolescentes e jovens (dos 15 aos 25 anos), com um segundo pico de frequência em idosos (com mais de 75 anos). É um linfoma de bom prognóstico e associado a alta chance de cura.
O Linfoma não Hodgkin (LNH) é o nono câncer mais comum entre a população, enquanto o Linfoma de Hodgkin ocupa a 20 posição, sendo mais identificado em adolescentes, adultos jovens e idosos.
Cada um tem características e tratamentos distintos. Ambos podem afetar qualquer pessoa, independentemente da idade, e a conscientização sobre os sinais e sintomas é fundamental para um diagnóstico precoce e um tratamento eficaz”, destaca o médico hematologista Afonso Celso Vigorito, do Vera Cruz Oncologia, em Campinas (SP).
No caso, o linfoma de Hodgkin se espalha de forma ordenada de um grupo de linfonodos (órgãos formados por tecido linfoide e que estão distribuídos por todo o corpo, como por exemplo: axilas, virilha e pescoço) para outro grupo e o linfoma não–Hodgkin, se espalha de maneira desordenada e pode começar em qualquer lugar do corpo.
Especialistas da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) comentam que, devido à manifestação no sistema linfático, o Linfoma de Hodgkin pode se manifestar em qualquer parte do corpo, principalmente, por meio de ínguas em regiões como o pescoço, as axilas e a virilha. O diagnóstico é realizado por meio de exame de biópsia.
O linfoma não Hodgkin compreende 50 neoplasias diferentes que ocorrem em crianças, adolescentes e adultos, tornando-se mais frequente à medida que as pessoas envelhecem.
Segundo a literatura médica, 85% dos linfomas não Hodgkin afetam as células B, cuja função é produzir anticorpos contra antígenos. Os outros 15% afetam as células T, que destroem micro-organismos e células anormais e regulam a atividade de outras células do sistema imunológico.
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De acordo com a classificação, os linfomas podem ser agressivos crescem e se espalham com grande rapidez, precisando de tratamento imediato. Já os indolentes aumentam e se disseminam lentamente e, apesar de dispensarem tratamento em caráter emergencial, devem ser acompanhados por um hematologista.
Jamille Cunha, hematologista do Vera Cruz Indaiatuba, fala sobre os principais sintomas: inchaço indolor dos linfonodos, febre persistente, suores noturnos, perda de peso inexplicável e fadiga.
Caso algum desses sintomas persista, é crucial procurar um médico para uma avaliação detalhada. O diagnóstico geralmente é realizado por meio de biópsias e exames de sangue e de imagem, como tomografia computadorizada e PET Scan”, explica.
Tratamentos diversos
Os especialistas destacam que, no caso de linfomas, não há uma forma própria de prevenção, como por exemplo no caso do câncer de pulmão, em que a cessação do tabagismo reduz de forma significativa os riscos.
Nos linfomas, a melhor forma de atuar é na detecção e diagnóstico precoce, que pode permitir o tratamento ainda em estágios iniciais, contribuindo com sucesso dos resultados e, em boa parte dos casos, com a cura.
O tratamento varia conforme o tipo de linfoma e o estágio. Atualmente, pode ser feito com quimioterapia, imunoterapia, terapia-alvo, radioterapia, transplante de células-tronco, cirurgia ou a terapia celular, conhecida como CAR-T- cell (sigla em inglês para receptor antigênico quimérico de células T).
Mais de 77% dos casos diagnosticados são referentes ao Linfoma de não Hodgkin e muitos subtipos dele respondem bem ao tratamento quando diagnosticados em estágio inicial”, reforça Jamille Cunha, hematologista do Grupo SOnHe. Ainda segundo ela, o Linfoma de Hodgkin tem uma taxa de cura superior a 85%.
Vigorito, que destaca, também, que atualmente há muitos recursos para promover o bem-estar e qualidade de vida dos pacientes. “Graças aos avanços na medicina, muitos conseguem alcançar a cura e viver vida longa e saudável”.
Nova medicação aprovada na Anvisa
Dra Renata ressaltou que, nos últimos anos, houve grandes avanços no tratamento da enfermidade. No início do ano, por exemplo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o Epcoritamabe, anticorpo biespecífico para tratar um tipo agressivo de câncer do sangue: o linfoma difuso de grandes células B recidivado (que voltou) ou refratário (que não melhora com as terapias disponíveis). Esse é o subtipo mais comum dos linfomas não Hodgkin, que responde por 30% dos casos de linfomas. Os anticorpos biespecíficos são uma nova classe de medicamentos, criados por engenharia genética.
Essa terapia possui dois braços. Um deles se liga ao tumor e o outro a células T do sistema imunológico, fazendo com que elas ataquem as células cancerígenas. Em pouco tempo, a droga será aprovada para linhas mais precoces de tratamento e para outros tipos de linfoma, como o linfoma folicular e o linfoma do manto”, disse.
Da Agência Brasil e assessorias