Linfoma não Hodgkin (LNH). O inusitado nome entrou no vocabulário dos brasileiros depois que personalidades famosas, como os atores Reynaldo Gianecchini, Edson Celulari e a ex-presidente Dilma Rousseff, foram diagnosticados com esse tipo de câncer, todos com final feliz de sucesso no tratamento. O tipo de câncer ainda pouco conhecido da maioria dos brasileiros, quando comparado a outros tipos, como mama e próstata.

Mas não é à toa que ouvir essas palavras está mais comum. No Brasil, apenas em 2018 foram detectados mais de 12 mil casos de linfomas, sendo 2.530 de Hodgkin e 10.180 não Hodgkin,  sendo 5.370 homens e 4.810 mulheres, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), divulgados em 2018. Por motivos ainda desconhecidos, o número duplicou nos últimos 25 anos, principalmente entre pessoas com mais de 60 anos.

Nas duas maiores capitais do país, a frequência indica um alerta: No Rio de Janeiro, os dados da entidade apontam que a estimativa é cerca de mil novos casos, representando mais de 10% da incidência em todo o país. Já o estado de São Paulo tem estimativa de novos casos de 1.460 entre homens e 1.490 entre mulheres, totalizando cerca de 30% de todos os casos no país.

Linfoma não Hodgkin acomete desde crianças até idosos, sendo responsável por cerca de 90% dos casos de linfoma diagnosticados. Trata-se de um tipo de câncer do sistema linfático. A incidência (número de casos novos) desta doença vem crescendo nos últimos anos e décadas, especialmente em pessoas mais velhas”, ressalta o hematologista Bernardo Lima, do Grupo Oncoclínicas – unidade Botafogo.

Quando o diagnóstico é positivo, fica a cargo do hematologista decidir pelo melhor tratamento, considerando o tipo de tumor, a idade do paciente e o histórico de saúde que ele apresente. O Dia Mundial de Conscientização sobre Linfomas (15 de setembro) foi instituído com o objetivo de alertar as pessoas sobre a importância de diagnosticar a doença precocemente e, assim, elevar as chances de sucesso no tratamento e na cura.

Linfoma não Hodgkin: taxa de cura pode chegar a 60%

Os Linfomas não Hodgkin são um conjunto de tipos de tumores, que têm origem nas células do sistema linfático, essencial para a proteção de doenças. Os diferentes tipos de linfomas são tratados de maneiras diversas. O hematologista Evandro Fagundes, do Grupo Oncoclínicas em Minas Gerais, explica que, dependendo das condições dos pacientes, a taxa de cura pode chegar a 60% dos casos.

“Como nos referimos a um conjunto de doenças, cada um com a sua particularidade, não há como fechar um número exato para taxa de cura e isso dependerá das características da doença e também do estado de saúde de quem está passando pelo tratamento”, comenta. Mas se o avanço da doença ainda é um mistério para a medicina, do outro lado, o acesso à informação pela população em geral se mostra ferramenta importante para a melhora no prognóstico dos pacientes”, ressalta.

Segundo ele, o Linfoma não Hodgkin acomete desde crianças até idosos, sendo responsável por cerca de 90% dos casos de linfoma diagnosticados. Mas vale ressaltar que existem dois grandes grupos de linfomas: o Linfoma de Hodgkin usualmente tem alta chance de cura, e o Linfoma não Hodgkin, o subgrupo no qual há diferentes subtipos de doenças, com comportamentos e características próprias.

Uns têm formas mais agressivas e crescimento rápido, embora haja também grande chance de cura, e outros têm crescimento lento, no qual a terapia pode ser destinada tanto a cura da doença quanto ao controle por tempo mais prolongado possível – neste caso, os pacientes podem chegar a conviver com a doença por longos períodos, inclusive mantendo boa qualidade de vida”.

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Linfoma: quando o câncer ataca nosso sistema de defesa

Maioria desconhece esse tipo de câncer

A grande questão é que, de acordo com o Dr. Celso Massumoto, onco-hematologista e coordenador da Unidade de Transplantes de Medula Óssea do Hospital 9 de Julho, 20% dos pacientes que passam pelo seu consultório não sabem nada sobre a doença ou a conhecem com pouca profundidade. Para o médico, esse desconhecimento causa um retardo preocupante no diagnóstico que, consequentemente, reduz as chances de cura.

“Linfoma é um tumor que se instala em células do sangue chamadas linfócitos, também conhecidos como glóbulos brancos, que são responsáveis pela defesa do organismo. Essas células circulam em dois tipos de vasos do nosso corpo: o sanguíneo, que contém sangue; e o linfático, por onde passa a linfa, uma substância que é derivada do sangue e rica em proteínas”, explica o Dr. Massumoto.

O médico destaca que, dentro do nosso organismo encontram-se os linfonodos, pequenos órgãos que, na parte externa do nosso corpo, se apresentam como ínguas sempre que algo não vai bem com nossa saúde. “Dentro do nosso organismo, o linfonodo é a parte onde há a maior concentração dos linfócitos. Então, quando essa célula é acometida por um tumor, ela faz com que a íngua se apresente, mas com uma diferença: ela cresce progressivamente, de maneira lenta ou rápida, porém sem sinais de que reduzirá de tamanho. Isso caracteriza um linfoma”, detalha o especialista.

Existem mais de 60 tipos de doenças associadas a esse tumor e elas dividem-se entre os Linfomas Hodgkin e os Linfomas não-Hodgkin. A divisão foi feita para registrar os tipos que foram descobertos pelo médico inglês Thomas Hodgkin, daqueles que foram descobertos pelas mãos de outros profissionais. “Independentemente da classificação, porém, o mais importante é destacar que há um percentual de cura quando o diagnóstico é precoce. Por isso, é fundamental manter atenção aos sinais do corpo”, alerta Dr Massumoto.

Os primeiros sinais podem não despertar a suspeita do paciente e, por isso, é importante ampliar esse debate para a população, como reforça o médico: “O linfoma não Hodgkin pode apresentar diversos sinais e sintomas, dependendo da localização no corpo, como o aumento dos gânglios, inchaço no abdômen, sensação de saciedade após a refeição, febre, perda de peso, sudorese noturna e fadiga”, pondera Dr. Bernardo Lima.

Três boas práticas para identificar o linfoma

Por isso, é fundamental sentir o próprio corpo para acompanhar eventuais alterações. “Muitas doenças podem ser tratadas e curadas se descobertas no início”, explica Dr. Massumoto, O médico lista três boas práticas para identificar o linfoma:

  • – Fazer o autoexame – É importante criar o hábito de apalpar as regiões anterior e posterior do pescoço com a ponta dos dedos, além da supraclavicular, popularmente conhecida como saboneteira. As axilas e virilhas também merecem atenção. Ao menor sinal da detecção de ínguas, o médico deve ser comunicado. Ainda que não seja um linfoma, a íngua (linfonodo) está indicando que algo não vai bem no seu organismo e isso precisa ser tratado.

-Ter atençãà associação de sintomas – Se um linfonodo em tamanho aumentado, sem sinais de redução, for detectado juntamente com febre, fadiga, perda de peso sem motivo aparente e coceira no corpo, também é o caso de consultar um médico.

– Seguir as recomendações médicas – Caso o médico suspeite da presença de um linfoma no corpo do paciente, o protocolo é de que o diagnóstico seja dado apenas após a biópsia, que consiste na retirada de parte ou de todo o linfonodo, de maneira cirúrgica, para análise.

Novas opções de tratamento

O crescimento no número de casos também tem estimulado o desenvolvimento de tratamentos, cada vez mais efetivos. Dr. Evandro conta que, inicialmente, as terapêuticas para combater os linfomas mais comuns, que são aqueles que atacam as células do tipo B, são quimioterapia e, ocasionalmente, radioterapia.

“Em geral, o que vemos é que esse tipo de tratamento tem uma efetividade em cerca de metade dos casos”, comenta o especialista. Mas as boas novas vêm exatamente para os que não respondem a essas opções. “É onde a medicina tem mais avançado nos últimos anos nos tratamentos e remédios, principalmente através da terapia celular”, afirma o médico.

O autotransplante, que substitui as células cancerígenas por saudáveis, tratadas em laboratório, é uma delas. A terapia com células CAR T é outra, e a principal novidade da área. Altamente especializadas, foram desenvolvidas, a partir de uma modificação genética das células, para atacar especificamente o tipo do câncer do paciente e recentemente aprovadas pela FDA (Food and Drug Administration), órgão regularizador do setor nos Estados Unidos. As drogas Yescarta e Kymriah obtiveram sucesso em cerca de 80% e 50% dos casos, respectivamente.

Dr. Bernardo também enfatiza  ainda a combinação das formas variadas de abordagens terapêuticas. “Hoje, o tratamento passa por um time multidisciplinar, no qual médico, enfermeiro, farmacêutico e psicólogo atuam em conjunto em benefício do paciente. Temos visto um grande avanço nas possibilidades de tratamentos, com advento de novas medicações sendo desenvolvidas, e também novas combinações de tratamento, o que vem possibilitando, sem dúvida, melhores desfechos aos nossos pacientes”, comenta.

E, ainda que seja prematuro julgar os resultados dessas novas alternativas como definitivos, como reforçam os especialistas, as pesquisas apontam para um futuro promissor no combate aos Linfomas não Hodgkin. “A ciência tem caminhado e investido na qualidade de vida e bem-estar dos pacientes. Principalmente nos linfomas, a opção de uso de células de defesa do próprio paciente reprogramadas em laboratório para combater a doença está trazendo resultados animadores para aqueles que não apresentaram resposta a outras alternativas de tratamento”, finaliza Dr. Evandro Fagundes.

Da Redação, com Assessorias

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