O câncer de pulmão que matou nesta segunda-feira (7) a atriz Aracy Balabanian, de 83 anos, assim como vitimou este ano a apresentadora Glória Maria e a cantora Rita Lee, 75 – continua sendo o mais letal entre todos os tipos de câncer. Somente em 2020, foram registradas 28.620 mortes por câncer de pulmão no Brasil, conforme dados do Atlas de Mortalidade por Câncer – SIMEm todo o mundo, são 1,8 milhão de mortes anuais (18% de todas as mortes por câncer), segundo o Globocan, da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC/OMS).

A principal causa da causa, o tabagismo – responsável por 80% a 90% dos casos – é conhecida. Houve avanços nos últimos anos no entendimento dos diferentes tipos de câncer de pulmão, propiciando abordagens mais assertivas para cada grupo de pacientes, com cirurgia, radioterapia e tratamento sistêmico com quimioterapia, radioterapia e imunoterapia. Há também o conhecimento sobre a tomografia computadorizada de baixas doses em pessoas com histórico de tabagismo, sendo usada como método de rastreamento, ser capaz de descobrir a doença mais cedo e reduzir a taxa de mortalidade.

Apesar de tudo isso, em pelo menos 75% dos casos são diagnosticados em estágio avançado. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), quando diagnosticado em estágio inicial, este tipo de tumor apresenta taxa de sobrevida de 56% (pacientes vivos após cinco anos do início de tratamento). Então, o que fazer para diagnosticar mais cedo o câncer de pulmão?

“A única forma de conseguir aumentar o número de diagnósticos iniciais é implementando política de rastreamento para câncer de pulmão”, explica o cirurgião oncológico Antônio Bomfim Rocha, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO).

Exame de rotina para fumantes, como a mamografia para mulheres

De forma geral, o objetivo do rastreamento é promover melhor qualidade de vida, fornecer tratamento em tempo oportuno, incentivar o não tabagismo, possibilitar a detecção precoce e analisar indicadores. Entre fumantes e ex-fumantes, a recomendação é que seja realizado o exame de rotina de rastreamento do câncer de pulmão, da mesma forma que já um padrão para outras patologias, como câncer de mama.

Porém, a utilização dessa estratégia precisa ser ampliada pela população. Por isso, a campanha Agosto Branco reforça a importância de se falar sobre o rastreamento, tanto para a sociedade geral como para com os profissionais da saúde, já que o compartilhamento de informações sobre prevenção e saúde pneumológica é de extrema importância.

“O diagnóstico tardio representa a maior desafio para o tratamento do câncer de pulmão, considerado um “tumor silencioso”, já que a maior parte dos diagnósticos acontece com a doença já em estágio avançado”, confirma Carolina Salim Gonçalves Freitas Chulam, oncologista do Centro de Referência de Pulmão e Tórax do A.C.Camargo Cancer Center. Ela também reforça a importância do rastreamento e do acompanhamento médico. “A prevenção, a detecção precoce e os tratamentos personalizados trazem maiores chances de cura, sobrevida e qualidade de vida”, ressalta.

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Imunoterapia é esperança, mas SUS não oferece

Outra forma de reduzir a mortalidade por câncer de pulmão é ampliando o acesso aos avanços terapêuticos a toda a população. Segundo a SBCO, esta é uma das doenças oncológicas que mais mostra evidências de se beneficiar de terapias-alvo e de imunoterapias, tratamentos da era da Medicina de Precisão.

Apesar de ser apontada como um recurso importante para aumentar a sobrevida de pacientes com câncer de pulmão, a imunoterapia ainda é um privilégio de quem pode pagar um bom plano de saúde ou um tratamento particular.

A apresentadora Ana Maria Braga fez um desabafo recentemente sobre os momentos em que enfrentou o câncer, defendendo a importância de disponibilizarem a imunoterapia no Sistema Únicos de Saúde (SUS).

“Eu sou uma reminiscente dos vários cânceres. Eu tive um câncer de pulmão. E como parte do controle, todo paciente de câncer tem que fazer exames de tempos em tempos”, relembrou.

Ainda segundo a SBCO,  em 2020, com tratamento restrito à quimioterapia, os pacientes com câncer de pulmão agressivo e metastático tinham sobrevida média de 12 meses.

Hoje, as terapias-alvo e, mais recentemente, as imunoterapias, permitem que os pacientes com câncer de pulmão, que têm indicação e acesso a esta terapia-alvo, tenham média de até 90 meses de sobrevida e com menor toxidade.

“Por essa razão, o acesso dos pacientes à terapia alvo é essencial. Isso porque a cirurgia não é a opção de escolha para o câncer de pulmão que é diagnosticado em fase avançada (o que representa 75% dos casos)”, alerta a entidade que representa os cirurgiões especializados em tumores oncológicos.

Cirurgia robótica é outro avanço importante

Nos últimos 15 anos, houve diversos avanços nas tecnologias para tratar esse tipo de câncer. Paralelamente ao cenário de diagnóstico tardio e mortalidade, a cirurgia robótica também avançou, como explica o cirurgião oncológico Antônio Bomfim Rocha, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO).

“Tivemos a possibilidade de fazer o tratamento de forma minimamente invasiva, tanto do diagnóstico quanto das cirurgias mais complexas. A cirurgia robótica é uma das intervenções mais modernas no mundo, e que já é uma realidade em várias regiões do Brasil”.

As vantagens da cirurgia robótica para o câncer de pulmão são vastas, segundo ele. “Ela proporciona uma qualidade no tratamento oncológico, o que resulta em menos sofrimento ao paciente. Ela também permite que os pacientes voltem às suas atividades habituais com mais rapidez, uma vez que as cirurgias tendem a ter menos complicações.

Diante doa avanços nos tratamentos, houve um aumento da sobrevida em pacientes com câncer de pulmão. Conforme o Observatório do Câncer, que considera os tratamentos realizados no A.C.Camargo Cancer Center, entre os homens, a sobrevida passou de 10,4% (2000-2004) para 51,1% (2015-2017), já nas mulheres de 18,8% (2000-2004) passou a 59,0% (2015-2017).

Mortes podem ser reduzidas com tomografia de baixas doses

Em 2011, o mundo recebeu mais uma importante contribuição científica que mostrou a redução de mortalidade por câncer de pulmão. Pesquisadores do National Lung Screening Trial (NILST) dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH) concluíram que o rastreamento pela Tomografia Computadorizada de Baixas Doses (TCBD), quando comparada com a radiografia tradicional de tórax, conseguiu reduzir em 20% a mortalidade do câncer de pulmão.

O estudo foi publicado no New England Journal of Medicine, um dos periódicos científicos mais importantes do mundo. Ao longo da última década, o trabalho, com mais de 5 mil citações na literatura médica, influenciou estratégias de diagnóstico precoce ao redor do mundo, inclusive no Brasil, mas o exame não é adotado como estratégia de rastreamento populacional no país para a população com histórico de tabagismo, como é preconizado.

O médico cita o exemplo da China – um dos países com melhores resultados na política de rastreamento: “Fazem tomografias de rotina em toda população acima dos 50 anos de idade, principalmente entre aqueles que fumam ou são expostos ao uso do cigarro, em todas suas formas. A tomografia de tórax precisa fazer parte do checkup anual – especialmente para quem tem mais risco de adquirir o câncer de pulmão: fumantes e pessoas acima de 50 anos”, reforça Rocha.

Fumantes devem fazer tomografia a partir dos 50 anos

Lucas Sant´Ana, coordenador do Oncocenter Dona Helena, serviço especializado em oncologia do Hospital Dona Helena, de Joinville (SC), lembra ainda que alguns estudos sugerem que pacientes com alto risco, como os fumantes, façam anualmente uma tomografia computadorizada, a partir dos 55 anos, a fim de tentar identificar o câncer de pulmão em uma fase mais precoce.

“Notou-se que essa medida pode ajudar a detectar tumores menores e aumentar a chance de cura. No entanto, a melhor estratégia para prevenção é eliminar ou pelo menos reduzir significativamente o uso do fumo”, ressalta.

Já para Carolina Salim, oncologista do A.C.Camargo Cancer Center, a recomendação deve ser antecipada para os 50 anos. “Recomendamos que aqueles pacientes com mais de 50 anos, que fumam mais de 20 maços/ano ou que pararam de fumar há menos de 15 anos, devem fazer uma tomografia de baixa radiação anualmente”, afirma.

A Dra. Carolina reforça que, para além da prevenção do câncer de pulmão, este público deve procurar um pneumologista para avaliar risco de enfisema, bronquite, entre outras doenças pulmonares. “É comum atendermos pacientes que fumam há mais de 50 anos e nunca passaram por um pneumologista”, alerta.

De acordo com o cirurgião oncológico Héber Salvador, presidente da SBCO, a entidade tem cada vez mais investido em campanhas de informação para combate ao tabagismo, que é a principal causa de morte evitável do mundo. Para ele, a formação e acompanhamento do cirurgião especialista em câncer também são pilares para a garantia de tratamentos com sucesso e mais chances de cura.

Com Assessorias

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