“O diagnóstico da esquizofrenia deixa você sem chão no primeiro momento. Mas hoje aprendi que nada na minha vida pode levar o nome dela. A esquizofrenia não é uma coisa, como um livro ou um caderno, que nós lemos ou escrevemos, é uma forma de estar no mundo. E para cada pessoa que vive com ela a vivência é única, a esquizofrenia não define a minha vida”.

O relato é de Jorge Cândido de Assis, que há quase 40 anos convive com a esquizofrenia, uma grave doença mental ainda pouco compreendida e muito estigmatizada. Técnico em eletrotécnica e tendo cursado cinco anos de Física e outros cinco de Filosofia na Universidade de São Paulo (USP), Jorge tem se dedicado a compartilhar seus conhecimentos a respeito da doença e sensibilizar as pessoas, alertando sobre a possibilidade de ter qualidade de vida, mesmo tantos anos depois de descobrir a doença.

“Desde que entendi o meu diagnóstico, me comprometi a falar sobre a esquizofrenia com o objetivo de levar esperança realista a cada pessoa que está passando por esse processo”, garante.

Uma das doenças que mais são alvo de discriminação

Celebrado em 24 de maio, o Dia Nacional da Pessoa com Esquizofrenia é um marco para lembrar os desafios enfrentados pelos pacientes e familiares e conscientizar sobre os estigmas que cercam a doença.

De acordo com Rodrigo Bressan, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do King’s College London, na Inglaterra, e presidente do Instituto Ame Sua Mente, a esquizofrenia é uma doença que suscita diversos estereótipos e uma das que mais sofrem discriminação.

No entanto, o quadro pode ter diferentes evoluções: com diagnóstico precoce e adesão correta aos tratamentos adequados, é possível chegar a atingir a remissão completa dos sintomas, e estabilização do quadro para que a pessoa tenha uma vida autônoma e de qualidade.

Por outro lado, o cenário oposto, ou seja, sem o manejo adequado, a esquizofrenia pode se tornar crônica e incapacitante.  “Além da gravidade, o principal fator que determina a progressão é a adesão a um tratamento multidisciplinar, que inclui medicações e psicoterapia”, esclarece.

Jorge concorda e explica que seguir o tratamento é a base de tudo. “Acompanho todas as orientações médicas e tomo as medicações, que são a parte fundamental para minha qualidade de vida e controle da doença”, diz.

Muitas pessoas têm vida normal como outras com doenças crônicas

A maioria das pessoas com esquizofrenia, quando tratadas efetivamente desde o início do diagnóstico, consegue evitar episódios psicóticos e ter uma evolução favorável. “É preciso dizer que muitos profissionais, tais como médicos, advogados e engenheiros, que são portadores de esquizofrenia, têm uma boa vida familiar e laboral. Basta cuidar do tratamento, como se fosse qualquer outra doença crônica”, explica o especialista.

Jorge, por exemplo, dá aulas como professor convidado do Curso de Medicina da Unifesp é membro da equipe do Proesq – Programa de Esquizofrenia da Unifesp e do Conselho Consultivo da Abre – Associação Brasileira de Esquizofrenia. Em seu currículo também está a autoria de livros em que a doença é abordada.

O mais recente – Entre a Razão e a Ilusão, Desmistificando a Esquizofrenia, da editora GRUA Livros, que tem o apoio da Janssen, farmacêutica da Johnson & Johnson, e do Proesq – acaba de ter sua terceira edição publicada no Brasil, além de também ter tradução para o inglês e distribuição global através da editora Springer. 

Informação para quebrar barreira contra o preconceito

Escrito em parceria com o psiquiatra Rodrigo Bressan e a terapeuta ocupacional e de família Cecília Villares, o exemplar convida o leitor a construir um entendimento próprio sobre a jornada da pessoa e convivência com essa condição ao longo da vida.

Segundo Jorge, o texto discute, com uma linguagem acessível, desde o porquê a esquizofrenia surge até a importância do apoio de familiares e amigos.

“Fico grato de, por meio do meu trabalho, poder ajudar outras pessoas com a minha história. No Brasil, faltam locais para a troca de informações”.

Para Rodrigo Bressan, disseminar conhecimento e abrir espaços para debates a respeito da doença é fundamental, já que o estigma se impõe como uma enorme barreira para o tratamento.

“Atualmente, fala-se muito sobre saúde mental, mas pouco sobre os efeitos do preconceito na vida de pessoas que sofrem de algum transtorno e em suas famílias. Precisamos levar uma mensagem de esperança para as pessoas com esquizofrenia e seus familiares”, afirma.

Brasil tem 1,6 milhão de pessoas com a doença

Delírios, alucinações, alterações de comportamento, redução do afeto com as pessoas, isolamento social e dificuldade em iniciar e manter atividades são características da esquizofrenia, uma das doenças psiquiátricas mais graves. São cerca de 1,6 milhão de brasileiros que, além da doença, sofrem com o estigma, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Considerada a terceira doença que mais afeta a qualidade de vida entre a população de 15 a 45 anos de idade, ela é definida como um transtorno mental grave que compreende manifestações variadas de pensamento, percepção, emoção, movimento e comportamento.

Não existe um exame laboratorial ou de imagem que identifique a esquizofrenia. O diagnóstico é clínico e baseado em critérios definidos, como o primeiro deles a presença de sintomas, e o segundo, a exclusão de determinadas condições.

Esquizofrenia não tem cura, mas tem tratamento e controle

Apesar de não ter cura, é possível com o tratamento mais adequado a pessoa se recuperar e voltar ao convívio social e ao mercado de trabalho, evitando novos surtos psicóticos que podem causar perdas biológicas cerebrais.

De acordo com Dr Bressan, quando a esquizofrenia não está controlada adequadamente com as medicações, o paciente pode ter crises psicóticas, alteração de comportamento e eventualmente internações.

“A cada episódio psicótico existe uma progressão da doença e uma piora da resposta às medicações, além de uma redução do volume cerebral. Mas, quando tratada correta e continuamente, os sintomas estabilizam e o paciente pode ter uma vida autônoma, produtiva e com qualidade de vida”, complementa o Dr. Bressan.

Tratamento alternativo para esquizofrenia

O tratamento para a esquizofrenia deve englobar abordagens múltiplas com o psiquiatra e equipe de saúde multidisciplinar, incluindo tratamentos medicamentosos, acompanhamento psicológico e de terapia ocupacional, além da atenção de familiares e da rede de apoio.

A Paliperidona, uma medicação injetável de ação prolongada já aprovada no Brasil pela Anvisa. representa uma evolução na manutenção do tratamento para quem tem esquizofrenia. Estudos recentes demonstraram que mais de 90% dos pacientes que receberam o tratamento com Peliperidona não apresentaram recaídas por cerca de um ano e meio.

“Pacientes esquizofrênicos têm dificuldade em manter o tratamento convencional, uma vez que precisam tomar os medicamentos todos os dias e acabam esquecendo. A Paliperidona surgiu como uma alternativa que facilita esse processo, uma vez que, dependendo do grau da esquizofrenia, o medicamento pode ser aplicado apenas uma vez por mês ou a cada três meses”, ressalta o psiquiatra Luiz Fernando Petry.

Ele é médico responsável pela clínica curitibana TrialCare – Evolução em Tratamentos, uma instituição da área da saúde voltada para tratamentos de doenças psiquiátricas, que passou a oferecer o tratamento com Paliperidona. “Apesar de ser mais caro do que os medicamentos tradicionais, o tratamento com a Paliperidona apresenta menor chance de falhas, reduz os surtos e o risco de recaídas”, complementa Dr. Petry.

Agenda Positiva

Iluminação especial no Dia da Pessoa com Esquizofrenia

Para lembrar o Dia Nacional da Pessoa com Esquizofrenia (24 de maio), a Câmara dos Deputados será iluminada com projeção sobre a campanha de conscientização da doença. A iluminação será simultânea no Congresso Nacional, em Brasília, e também em prédios públicos de Recife, Belo Horizonte e Amazonas. A celebração tem o objetivo de gerar novos debates sobre a condição, fomentar a importância de tratarmos o assunto com mais naturalidade e também discutir possibilidades futuras para estes pacientes.

Na Câmara Federal, o evento reúne representantes das principais associações de saúde que abordam o tema como a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Esquizofrenia (Abre), da Secretaria Nacional de Saúde e dos Conselhos Nacionais dos Secretários de Saúde (Conass) e de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), além da Boehringer Ingelheim, representando o setor farmacêutico.

Serviço

Título: Entre a Razão e a Ilusão, Desmistificando a Esquizofrenia
Autores: Jorge Cândido de Assis, Cecília Cruz Villares e Rodrigo Affonseca Bressan
Editora: GRUA Livros
Ano: 2023
Edição: 3
Páginas: 224
Onde comprar: Link

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Com Assessorias

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