Com o objetivo de contribuir para a melhoria do controle do câncer no país, a partir dos aprendizados com a pandemia de Covid-19, a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) lançou nesta terça-feira, 7 de junho, em evento online, um documento inédito, com informações e recomendações. O Documento de Posição apresenta caminhos para políticas públicas e para melhorar a governança da saúde na área oncológica. Confira o Documento de Posição na íntegra: bit.ly/documento-posicao-
Para a sua concepção, a entidade reuniu representantes de públicos estratégicos para discutirem experiências e visões distintas sobre os aprendizados da pandemia da Covid-19 para serem, também, trabalhadas para o controle do câncer, não necessariamente o de Mama. O documento sintetiza essas discussões e aponta recomendações para que o governo, as entidades do setor privado e da sociedade civil se unam em defesa da redução da morbimortalidade pela doença.
“Estamos entregando um documento para ser uma referência em um cenário preocupante que temos acompanhado. A Oncologia precisa ser vista como uma questão de alta prioridade em saúde e queremos que as soluções apresentadas possam contribuir para a união de esforços que resultem em inovações e adaptações para controlarmos a doença, assim como tivemos no enfrentamento a pandemia”, afirma a presidente da Femama, Maira Caleffi.
Segundo ela, assim como a Covid-19, o câncer representa uma questão de grande relevância na saúde pública. “Iniciativas importantes ocorreram no país nos últimos anos, mas é preciso fazer mais e avanços não podem retroceder. A pandemia trouxe desafios em diversos aspectos.
Apesar da instabilidade na prestação de serviços e interrupção ou atraso nos atendimentos, vimos que a união de esforços e a definição de prioridades permitem inovações e adaptações. Queremos levar esse aprendizado para a oncologia também”, enfatiza.
Detecção precoce do câncer não é seguida
Com o surgimento da Covid-19, a Portaria 3.712/2020, que tem o intuito de ampliar a detecção precoce do câncer de mama e colo de útero, não foi atendida. Além disso, houve impacto nos atendimentos oncológicos, evidenciando a fragmentação do Sistema de Saúde.
Por outro lado, a pandemia de Covid-19 mostrou que a união de esforços e a prioridade dada ao tema possibilitaram inovações e adaptações, direcionaram recursos, aceleraram decisões, provando que é possível enfrentar o problema quando há reconhecimento público da gravidade, aliada a vontade política e união.
A Femama considera o câncer uma crise de saúde pública que, se não enfrentada de forma assertiva e com a tempestividade e estrutura necessárias para tratá-la como uma prioridade, pode se tornar uma séria emergência em saúde pública, como já foi declarado em outros países. Diante desse contexto, a FEMAMA promoveu uma reflexão sobre o cenário da saúde na pandemia, reforçando o seu compromisso com a qualidade de serviços de saúde disponíveis aos pacientes oncológicos.
“A pandemia mudou o cenário do câncer, impactando negativamente no diagnóstico precoce, com mais chances de recuperação ou da adoção de tratamentos iniciais, além de descontinuidade de tratamentos reduzindo índice de cura. Com isso, as projeções indicam um aumento na mortalidade em função da doença”, explica Maira Caleffi.
O câncer em números no Brasil e no mundo
Estimativas do Observatório Global de Câncer, entidade vinculada à OMS, apontam que a doença constitui a principal causa de mortalidade em todo o mundo, com mais de 19 milhões de novos casos, quase 10 milhões de mortes e mais de 50 milhões de pessoas convivendo com a doença em 2020, último ano com dados disponíveis.
Esses números são ainda mais preocupantes diante do fato de que muitos tipos de câncer podem ser curados se detectados precocemente e tratados de forma efetiva. No Brasil, os últimos dados disponíveis do INCA, para 2020, mostram que o câncer representa a segunda causa de morte predominante na população brasileira, e que anualmente ocorrem mais de 450 mil novos casos.
Estudos internacionais também mostraram que muitos pacientes deixaram de ser atendidos, casos não foram diagnosticados e diversos tratamentos interrompidos. Na Europa, o Comitê de Câncer do Parlamento Europeu mostrou que houve uma redução significativa de novos diagnósticos e testes de rastreamento ocasionados pela Covid-19, resultando em atrasos no tratamento. Além disso, outros estudos mostraram que pacientes com câncer infectados pela Covid-19 apresentavam um risco aumentado para complicações graves e maior mortalidade, impondo dificuldades adicionais.
METODOLOGIA
O estudo foi realizado após uma série de encontros virtuais com lideranças da entidade e das suas ONGs associadas, que somam mais de 70 membros do Governo, pacientes, profissionais da saúde, representantes da indústria farmacêutica e operadoras de saúde e de entidades do setor.
Foram estruturados questionamentos prévios para serem abordados durante os encontros seguindo uma estratégia baseada na metodologia usada na Iniciativa de Controle Integrado do Câncer na América Latina (ICCI-LA). “Provocamos um debate aberto a os públicos de interesse para buscarmos envolvimento e engajamento que resultasse em ações viáveis e concretas”, complementa Maira.