Com 10,6 milhões de casos notificados em 2021, a tuberculose (TB) está entre um dos grandes desafios de saúde global, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O Brasil está entre os 30 países com maior incidência da doença. Anualmente, são registrados mais de 84 mil novos casos e cerca de seis mil mortes, de acordo com o Ministério da Saúde (MS).
No entanto, esses números podem ser ainda maiores, uma vez que a detecção da enfermidade em crianças é, geralmente, subdiagnosticada devido à dificuldade de confirmação bacteriológica e à semelhança dos sintomas com outras infecções respiratórias.
Por isso, desde 2021, o Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS), lidera um estudo sobre tuberculose pediátrica (TBPed) no País, por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), do Ministério da Saúde.
A hipótese inicial indicava uma incidência entre 2% e 3% na população hospitalizada, mas os dados preliminares sugerem uma taxa superior. Até o dia 18 de março deste ano, foram realizadas 2.545 coletas de escarro induzido, atingindo 81% do total de amostras necessárias para conclusão da pesquisa.
Nosso objetivo é aprimorar o diagnóstico e promover mudanças no padrão de investigação da doença. Se não soubermos a real incidência da tuberculose pediátrica, não conseguiremos conduzir adequadamente as estratégias de saúde”, destaca a líder operacional do TBPed, Márcia Polese.
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Estudo investiga tuberculose em crianças de 6 meses a 15 anos
O estudo é dividido em duas linhas de atuação. A primeira delas é o TBPed, que tem o objetivo de identificar a prevalência da doença em crianças de seis meses a 15 anos incompletos. A pesquisa está sendo conduzida em 22 centros distribuídos nas regiões Sul, Sudeste, Norte e Nordeste.
Já foram coletados todos os dados de crianças e adolescentes hospitalizados por problemas respiratórios e continua sendo realizado o recrutamento de participantes ambulatoriais com suspeita de tuberculose.
No Rio Grande do Sul, as cidades de Porto Alegre, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Sapucaia do Sul, Viamão, Cachoeirinha e Passo Fundo participam do estudo. O TBPed está no segundo triênio (2024-2026) e a expectativa é de que o estudo seja finalizado no ano que vem.
Investigação com três diferentes tipos de exames
Já a segunda etapa do estudo é o GTX, que busca comparar três estratégias diferentes para investigar a proporção de contatos (<10 anos) intradomiciliares de pacientes com tuberculose ativa que iniciam o tratamento para tuberculose infecção — quando a pessoa está infectada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, mas não há sintomas.
O GTX também está no segundo triênio, com 47% dos dados coletados e participação de seis centros distribuídos pelos estados do Amazonas, Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. A pesquisa busca comparar três diferentes combinações de exames para identificar se a criança ou o adolescente tem necessidade de tratamento para tuberculose infecção ou tuberculose ativa, utilizando:
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Estratégia padrão recomendada pela OMS e pelo Ministério da Saúde, que inclui rastreamento de sintomas, prova tuberculínica e radiografia de tórax;
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Estratégia com rastreamento de sintomas, prova tuberculínica e teste rápido molecular;
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Estratégia com rastreamento de sintomas e radiografia de tórax.
Após a randomização, se for indicado o tratamento para tuberculose infecção e o participante concorde, ele será acompanhado pela equipe do estudo para monitoramento da adesão e possíveis eventos adversos. “Com essas comparações, poderemos avaliar se as investigações mais simplificadas resultam em um aumento na taxa de indivíduos que iniciam o tratamento da tuberculose infecção”, conclui a líder operacional do TBPed.
Dados são coletados em todo o Brasil com técnica da África do Sul
Para aumentar a precisão diagnóstica, a pesquisa avalia o uso do escarro induzido, técnica que melhora a qualidade das amostras coletadas, reduz custos e garante maior segurança no procedimento. Para aprofundar essa abordagem, membros da equipe foram à África do Sul para aprender como era realizada a aplicação em crianças.
O escarro induzido pega secreções das vias respiratórias inferiores, permitindo uma melhor detecção da tuberculose pulmonar, especialmente em crianças e pessoas com dificuldades em produzir escarro espontaneamente. Com essas amostras conseguimos ver se a pessoa tem a bactéria, mesmo em menor volume de material coletado”, explica o infectologista pediátrico do Hospital Moinhos de Vento, Marcelo Scotta, um dos médicos que fez o treinamento no continente africano.
Fonte: Hospital Moinhos de Vento