Dos 80 mil registros de casos de tuberculose no Brasil em 2023, cerca de 18 mil foram confirmados no Estado do Rio de Janeiro. Somente na capital, há 96 casos a cada 100 mil habitantes. É a terceira capital com a maior incidência no Brasil, fica atrás de Manaus (AM) e Recife (PE), segundo dados do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinan). Já os dados de cobertura de atenção básica foram coletados nos Paineis de Indicadores da Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde.
Apesar de transmissível e grave, a tuberculose tem cura, mas muitos pacientes acabam abandonando o tratamento. Estudos mundiais apontam que pessoas com tuberculose têm seus gastos aumentados em cerca de 20%, incluindo os custos com a alimentação durante o tratamento, mesmo recebendo atendimento gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Para evitar isso, o Governo do Estado implementou o cartão-alimentação mensal de R$ 250 para ajudar quem recebe o diagnóstico. O cartão-alimentação já foi entregue a 6 mil pacientes. A recarga é feita mensalmente e não há faixa de renda per capita para ter acesso ao benefício. O valor não entra no cálculo de renda de benefícios assistenciais, como o Bolsa Família e o período de recebimento varia de seis a 18 meses, dependendo do tipo de tuberculose e do laudo médico. O benefício é suspenso quando o paciente interrompe ou finaliza o tratamento.
O cartão-alimentação para pacientes com tuberculose é administrado em cooperação técnica com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Para gestão estadual dessa concessão, foi elaborado o Sistema de Suporte ao Auxílio-Alimentação (SISAA), em que os pacientes diagnosticados e que estão em tratamento são cadastrados pelas unidades municipais de atendimento para receber o benefício.
Pacote de medidas inclui painel de monitoramento
O benefício faz parte de um pacote de medidas que inclui investimentos para aquisição de equipamentos e insumos que ampliam e aprimoram o diagnóstico da doença. Um painel de monitoramento de dados também faz parte da estratégia da da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) para reduzir incidência e mortalidade por tuberculose.
As medidas fazem parte de um conjunto de ações contidas no Plano de Enfrentamento à Tuberculose no Estado do Rio, elaborado pela equipe técnica da SES-RJ, com a participação da sociedade civil, e apresentado e aprovado pela Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) em 2021.
Para dar mais transparência e facilitar o monitoramento das informações, a Secretaria criou o Painel da Tuberculose, plataforma online com os dados sobre a doença no Estado e que pode ser acessado em https://monitorar.saude.rj.gov.br/, na aba Vigilância em Saúde.
Tendência de aumento de casos no Estado do Rio
Dados levantados pela Gerência de Tuberculose da SES-RJ mostram que o número de casos notificados no Sistema Nacional de Notificação (Sinan-TB) apresenta tendência de aumento, com exceção da queda em 2020, devido ao impacto da pandemia da Covid-19, quando muitos diagnósticos não foram realizados. No entanto, a proporção do aumento tem apresentado desaceleração: em 2022, foi de 7,37% em relação a 2021 e, em 2023, alta de 3,19% em relação ao ano anterior.
Esse movimento pode indicar um cenário de redução de casos para os próximos anos. Os dados são do “Boletim Epidemiológico – Tuberculose 2025”, produzido pelos técnicos da SES-RJ e que será lançado em 28 de março, durante evento em alusão ao Dia Mundial de Combate à Tuberculose, que é celebrado em 24 de março.
Visitas domiciliares e atenção primária no controle de tuberculose no Rio
Doença é transmitida em casa, e detecção precoce é fundamental
Os cuidados de atenção primária e as visitas domiciliares de profissionais de saúde aos pacientes são as principais estratégias para tratar e interromper a transmissão de tuberculose na cidade do Rio de Janeiro, mostra um estudo publicado no dia 12 de março, no periódico científico Cadernos de Saúde Pública. O artigo é parte do trabalho de doutorado em epidemiologia da médica de família e comunidade Fernanda Lopes, na Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP-Fiocruz).
Foram analisados dados de casos de tuberculose no município do Rio entre 2014, quando foram implementados os testes rápidos para detecção da doença, e 2022. Os pesquisadores buscaram identificar como a cobertura da atenção primária, as visitas domiciliares e outros fatores, como a pandemia de Covid-19, influenciaram a detecção de casos de tuberculose.
Todo médico que trabalha no Rio precisa considerar que a presença de tosse por duas semanas pode ser tuberculose”, diz Yara Hahr, pesquisadora da Fiocruz, médica epidemiologista e orientadora de Lopes. Segundo ela, a principal estratégia para conter a tuberculose é o diagnóstico rápido e iniciar o tratamento de forma precoce.
Só que é um tratamento longo, de pelo menos seis meses, e incômodo, então precisa garantir aderência. A tecnologia dos testes rápidos ajuda muito, mas sozinha não faz milagre, o serviço tem que chegar às pessoas, ser acessível e a atenção primária e as visitas possibilitam isso.”
Para as pesquisadoras, o estudo demonstra como é preciso manter e ampliar os serviços oferecidos pelo SUS para prevenção, detecção e tratamento por meio da atenção primária, especialmente no Rio. A implantação de teste rápido não foi suficiente para aumentar a detecção de forma satisfatória. A ida de profissionais de saúde à casa dos pacientes permite busca ativa e previne transmissões, mostra estudo da FiocruzHouve associação direta entre as visitas e o detecção dos casos.
A tuberculose é uma doença de transmissão respiratória, ocorre dentro das casas, então, na visita do profissional de saúde, você detecta os casos, avalia as condições de moradia, quantas pessoas moram ali e que podem ter sido contaminadas. A presença dos profissionais permite uma busca ativa por casos e a prevenção da transmissão, além da oferta e controle do tratamento de forma mais eficaz”, explica Lopes.
Capacitação dos profissionais de saúde
A qualificação da rede de atenção à saúde, com foco na ampliação da vigilância, prevenção, diagnóstico e tratamento e na promoção do cuidado integral à pessoa com a doença é uma estratégia importante. Nessa direção, a SES vem promovendo capacitações e oferecendo apoio logístico aos municípios (veículo e motoboy) para fortalecimento das ações e fluxos.
Entre junho e agosto de 2024, a SES capacitou os coordenadores de tuberculose dos municípios para fazer os cadastros dos pacientes no SISAA. Além do cartão, a SES investiu na ampliação e aprimoramento da rede laboratorial. Um exemplo é a implantação de uma rede de equipamentos de Teste Rápido Molecular para Tuberculose (TRM-TB), distribuídos pelas regiões do estado, com o objetivo de descentralizar a realização de exames para diagnóstico.
A articulação intersetorial tem sido intensificada e ampliadas as estratégias de comunicação, especialmente junto às áreas de maior vulnerabilidade, buscando reduzir o preconceito e disseminar mensagens capazes de esclarecer a população sobre a doença. A cooperação com a OPAS tem sido fundamental em todas as etapas deste processo”, disse a secretária de Estado de Saúde, Claudia Mello.
Com informações da SES-RJ e Agência Bori e Agência Brasil (atualizado em 24/3/25)
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