No Brasil, 55,5% da população se identificam como negra, esses dados são do último censo do IBGE, realizado em 2022. Mesmo sendo maioria populacional, pessoas pretas e pardas ainda lidam com forte discriminação no Brasil, como parte integrante da estrutura social ao qual a sociedade se constitui.

Nesse sentido, há uma notável sub-representação de pessoas negras em cargos de alta gerência no mercado de trabalho, refletindo em menores salários: o rendimento médio mensal de pessoas brancas (R$ 3.273) corresponde a  64,2% a mais do que de pessoas negras (R$ 1.994), segundo dados do IBGE.

Além disso, pessoas negras recebem menos cuidados em saúde – o artigo “Dermatologia na pele negra” publicado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia explicita que as pesquisas voltadas para a pele humana tem em sua grande maioria a pele branca como referência.

Além de uma menor atenção à saúde dessa população, historicamente essas pessoas lidam com estereótipos e desprezo estético, sendo a beleza uma construção social ao longo da história humana associada a traços eurocêntricos, principalmente por meios de comunicação. Aos poucos, no entanto, importantes movimentos sociais promovem discussões visando uma maior consciência acerca desses temas.

Segundo a pesquisa TODXS/10 – o mapa da representação na publicidade brasileira realizada em parceria pela ONU Mulheres e Aliança #Sem Estereótipos, mostra uma evolução, com mais mulheres e homens negros em  papéis de protagonismo. Mas mesmo com essa evolução, ainda há um longo caminho pela frente;

Entre os papéis de protagonistas masculinos na TV, só 20% são ocupados por homens negros, 74% por brancos; em relação a papéis femininos, 27% são ocupados por mulheres negras, 62% por brancas. A maior presença de uma representatividade na televisão e na publicidade contribui para a quebra de estigmas e reafirma a beleza de outros corpos, durante muitos anos marginalizados.

Novembro Negro: reforço de identidade deve acontecer todos os dias

A valorização de pessoas negras deve ocorrer todos os dias, mas a chegada de datas comemorativas faz ecoar ainda mais esse reforço. É o caso do Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado neste 20 de novembro, destacando a força dessas mulheres em suas conquistas, conhecimentos e luta por seus direitos e conscientização.

Voz ativa na valorização de corpos com traços negróides, visando sempre uma maior aceitação, a biomédica esteta Jéssica Magalhães diz que datas como o 25 de julho são muito relevantes para valorizar essas identidades.

Mesmo que esse reforço de identidade deva acontecer todos os dias, principalmente na televisão, datas como essa ajudam a lembrar como a nossa ancestralidade, a nossa cor e identidade precisam ser destacadas. É um lembrete para todos os dias combatermos a discriminação”.

Há dez anos dedicando a sua experiência ao cuidado da pele preta, ela acredita que trabalhar com estética ajuda a combater o preconceito perpetuado por séculos, a partir de um outro conceito de beleza, valorizando corpos com traços antes discriminados.

É de suma importância valorizar os diversos corpos em nosso país. A diversidade étnica é um elemento central. Eu acredito em uma estética focada na pele negra. Esse foco ajuda muito no processo de aceitação e reforço de identidade”, comenta.

Assim, compreender as características únicas da pele negra são essenciais para um cuidado personalizado e mais seguro. Jéssica acredita na importância dos procedimentos estéticos como ferramentas de promoção da autoestima, respeitando sempre a identidade e a individualidade de cada pessoa.

No entanto, a falta de estudos focados no cuidado da pele negra, bem como a perpetuação de estereótipos traz dificuldades, exigindo abordagens muito cuidadosas com cada caso. “Devido à falta de conhecimento na literatura, a nossa prática clínica, no dia a dia, vem para suprir essa demanda e realizar um bom atendimento”, comenta.

Em uma sociedade ainda marcada por preconceito, datas como esta são relevantes nessa luta por uma aceitação de corpos antes marginalizados. A atuação de profissionais como Jéssica Magalhães também é essencial para esse combate ao preconceito, muito marcado por estereótipos errôneos e danosos à população negra.

A biomédica destaca ainda a importância de uma conscientização dos profissionais sobre a beleza natural dos corpos, evitando impor padrões de beleza. “Precisamos entender a necessidade de cada caso, sempre respeitando as características naturais das pessoas com procedimentos personalizados, evitando transformar as pessoas em arquétipos de padrões de beleza”, complementa.

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