Marisse Bonfim, coordenadora fiscal da Hughes, foi diagnosticada com câncer de mama aos 39 anos, depois de detectar um nódulo durante o autoexame. Hoje curada, diz que o acesso à informação foi essencial. “Saber como fazer o autoexame e diferenciar os tipos de nódulos foi muito importante para o meu caso, já que levou à detecção precoce da doença. Agora me sinto emocionada de participar desta campanha, que leva informação para outras mulheres, principalmente para aquelas que moram longe dos postos de saúde”, afirma ela.
Com o avanço da tecnologia na área médica, a cura do câncer se tornou uma realidade. No entanto, uma outra dificuldade vivida por pacientes é a reinserção no mercado de trabalho – algo ainda mais desafiador para mulheres, que historicamente têm que lidar com a cultura majoritariamente machista no mundo profissional.
Os sinais de que as organizações ainda precisam evoluir suas práticas relacionadas ao tema também estão em uma pesquisa realizada pela oncologista Luciana Landeiro, publicada na Revista Câncer, uma das principais publicações internacionais na área de oncologia. O estudo mostra que apenas 29% das mulheres diagnosticadas com câncer de mama puderam desfrutar de algum ajuste em seus empregos para melhor se adaptarem à vida profissional.
“As chances de um paciente com câncer de mama voltar a atuar profissionalmente estão cada vez maiores, então as empresas precisam estar preparadas para lidar com essa realidade. Muitas vezes os profissionais são dispensados só por serem portadores da doença, o que pode configurar discriminação, e há companhias que não sabem que podem contratar ex-pacientes de câncer como PCDs (pessoas com deficiência), por exemplo. Há um grande desconhecimento sobre o assunto”, afirma Maira Caleffi, médica da Femama (Federação Brasileira das Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama).
Câncer no mercado de trabalho
A campanha OutubroRosa, que tem como objetivo principal alertar sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama, é bem disseminada pela sociedade. No entanto, ainda parece ter pouco engajamento por parte do setor privado, que muitas vezes não oferece as condições adequadas para a reintegração de ex-pacientes. A Femama relata ter contado com o apoio financeiro de 12 empresas para a edição de 2019 da campanha, somente duas a mais do que em 2018.
Dados de uma pesquisa coordenada pelo Go All (coalizão composta por ONGs e empresas do setor farmacêutico em prol do acesso a tratamentos oncológicos), em parceria com a ABRH-Brasil (Associação Brasileira de Recursos Humanos), mostram que as empresas ainda não estão preparadas para lidar com esse problema: 58% não possuem práticas de prevenção, acompanhamento, tratamento e reinserção de colaboradores com câncer.
O estudo mostra ainda que somente 9% das companhias mantém práticas consolidadas em relação à doença, enquanto 11% aplicam iniciativas incipientes, que demandam aprimoramento. Neste cenário, apenas 17% realizam campanhas ou disseminam informações sobre o câncer entre seus colabores com frequência.
De acordo com especialistas, o preconceito de gestores, a insegurança dos pacientes, a dificuldade de reintegração com a equipe e a falta de apoio das empresas são os principais obstáculos que dificultam a retomada da vida profissional pelas pessoas com câncer.
“Com o aumento da expectativa de vida dos pacientes com câncer, as empresas precisam adotar políticas para reinserir esses colaboradores. Essa é uma maneira de, não apenas evitar a perda de talentos, mas também contribuir com a autoestima e qualidade de vida dos pacientes recuperados”, explica Mônica Gregori, sócia da Cause, consultoria gestora do Go All.
O Go All é um movimento sem fins lucrativos, composto por organizações de diversos setores da sociedade especialistas em saúde, como organizações não governamentais, indústria, academia, empresas e profissionais do setor, que se unem para criar uma agenda de trabalho colaborativa em torno de um propósito comum: trabalhar para que cada cidadão brasileiro tenha acesso aos avanços da oncologia contemporânea. goalloficial.com.br/
Confira o artigo de Marisse na íntegra:
O câncer ainda é visto, de maneira geral, como sinônimo de grande adversidade para muitas pessoas. Com o avanço tecnológico dos últimos anos, porém, as chances de um diagnóstico precoce e as taxas de sobrevida aumentaram consideravelmente. Isso significa que muitos ex-pacientes podem seguir a vida normalmente, o que inclui voltar ao mercado de trabalho. A questão é como o mercado está preparado para receber tais profissionais no retorno da licença ao fim do período de tratamento. Na minha experiência eu sentia que venceria a batalha contra o câncer, mas um dos momentos mais difíceis foi o retorno ao trabalho.
Fui diagnosticada com um tumor benigno na mama aos 39 anos. Logo em seguida, sempre realizando o autoexame, percebi outro nódulo, que a princípio foi dado também como benigno. Mas suas características eram diferentes do anterior, o que me fez buscar uma segunda opinião médica, quando então foi detectado um tumor maligno: um câncer de mama. Como o tratamento era muito extenuante, precisei me afastar do trabalho. Quando terminei a terapia, apta a retornar às minhas atividades e cheia de planos, senti que a empresa onde trabalhava não soube lidar com minha volta.
É difícil para os dois lados, pois o mundo não para durante nosso tratamento, mas não houve um cuidado com relação à minha reinserção. O olhar de compaixão e ao mesmo tempo de dúvida no ambiente é algo que nos fere. Muitos duvidavam da minha capacidade de tocar projetos mais longos, apesar de eu já estar saudável. Com o tempo, fui reconquistando meu espaço, até que decidi procurar novos horizontes profissionais.
Isso demonstra, de forma não generalizada, que as empresas, mesmo fazendo campanhas de prevenção no OutubroRosa, ainda não se sensibilizaram com todas as questões que envolvem o câncer de mama, e uma delas é como lidar com o retorno das mulheres que tiveram a doença aos seus postos de trabalho. Assim, as reações iniciais são quase sempre de pena ou de dúvida em relação à capacidade daquela colaboradora, que precisará provar seu valor mais uma vez para a organização. Muitas não conseguem se reposicionar no mercado de trabalho e partem para atividades alternativas, ou começam a duvidar da própria capacidade, abandonam as carreiras e passam a apresentar sintomas de depressão.
No Brasil, a taxa de retorno ao trabalho após dois anos do diagnóstico de câncer de mama é de 60%, segundo pesquisa do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). O levantamento também revela que mulheres com remuneração acima de dois salários mínimos ou que passaram por cirurgia que preserva a maior parte da mama tiveram mais chance de se recolocar no mercado de trabalho. Outro fator que auxilia essas funcionárias é a flexibilidade no ambiente de trabalho, mas apenas 29% conseguem esse benefício.
Esses dados indicam que as campanhas do OutubroRosa devem ir além da prevenção ao câncer de mama e do autoexame. Deve ser discutida também sob a ótica da recolocação dessas mulheres no mercado, de que maneira isso pode ser feito, formas adequadas de tratamento, bem como políticas para facilitar a reinserção dessas profissionais”.
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