Esta semana, um crime bárbaro cometido num dos bairros mais caros do Rio de Janeiro chocou a comunidade médica e colocou em xeque a segurança da cidade para a realização de grandes eventos nacionais e internacionais de Medicina. Três médicos foram assassinados brutalmente a tiros e outro ficou ferido em um quiosque na orla da praia da Barra da Tijuca, zona oeste. As investigações apontam que o episódio pode ter sido mais um resultado trágico da disputa entre o tráfico de drogas e a milícia – um dos médicos teria sido confundido com um miliciano que cumpre prisão domiciliar em endereço nobre do bairro.

As vítimas eram médicos ortopedistas – três de São Paulo e um da Bahia – e estavam na cidade para participar da sexta edição do Congresso Internacional de Cirurgia Minimamente Invasiva do Pé e Tornozelo, com início na quinta-feira (5). Marcos de Andrade Corsato, Perseu Ribeiro de Almeida e Diego Ralf Bomfim morreram na hora. Já Daniel Sonnewend Proença sobreviveu e segue internado em recuperação, com quadro de saúde estável.

A ação brutal ocorreu pouco depois da meia noite de quinta, no Quiosque do Naná 2, no calçadão à beira-mar da Avenida Lúcio Costa, entre os postos 3 e 4, em frente ao luxuoso Windsor Barra, hotel cinco estrelas onde os médicos estavam hospedados e era realizado o evento. Imagens da câmera de segurança do quiosque mostram que os médicos estavam tomando cerveja quando um carro parou e três homens armados desceram. A execução teve 33 disparos e durou menos de um minuto.

O crime bárbaro, que gerou repercussão internacional, pode aumentar a sensação de insegurança no Rio de Janeiro e acirrar ainda mais a disputa pela realização de grandes eventos da área médica – geralmente patrocinados pela indústria farmacêutica nacional e internacional -, que hoje estão concentrados em São Paulo. De quebra, pode trazer reflexos como um todo para o turismo de eventos, importante segmento para alavancar o setor hoteleiro no Rio, depois da queda acentuada na pandemia.

Um médico de São Paulo, ouvido pelo Portal ViDA & Ação, disse que não se sente seguro para participar de eventos médicos no Rio de Janeiro. “Estou inscrito para participar de um congresso em outubro no Rio, mas fiquei com medo da violência na cidade”, contou. A reportagem solicitou informações à rede de hotéis Windsor sobre medidas adicionais que podem ser tomadas a partir do episódio para garantir a segurança dos hóspedes – assim que recebermos, o posicionamento será publicado aqui.

Os médicos ortopedistas Marcos Corsato, Daniel Proença, Diego Bomfim e Perseu Almeida foram atacados quando bebiam cerveja num quiosque da Barra. Só Daniel sobreviveu (Foto: Reprodução)

Eventos médicos patrocinados por indústria farmacêutica escolhem hotéis da Barra

O complexo hoteleiro que tem como destaque o Windsor Barra Hotel, local do congresso que trouxe os médicos à cidade, é o principal ponto de encontro de congressistas da área de saúde no Rio de Janeiro.

De 25 a 28 de outubro, o centro de convenções do hotel recebe outro evento internacional do setor: o XXIV Congresso Latinoamericano e XV Congresso Iberoamericano de Gastroenterología, Hepatología y Nutrición Pediátrica (LASPGHAN 2023).  Já no mês de novembro, o Windsor Barra recebe, de 15 a 18, o XVI Congresso Brasileiro de Cirurgia Oncológica. Em paralelo, acontecem o XXIV Congresso SBOC 2023  e a IV Semana Brasileira de Oncologia.

Em agosto, foi a vez do Congresso Internacional de Cardiologia da Rede D’Or São Luiz, reunindo os principais cardiologistas do país, além de convidados internacionais, para discutir os avanços no diagnóstico, tratamento e prevenção das doenças cardíacas, que são a principal causa de morte no mundo. Em março, o recebeu o XXXVII Encontro de Angiologia e de Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro.

Complexo hoteleiro na Barra concentra principais eventos médicos no Rio

Bem próximo dali, outro hotel da mesma rede, porém, de quatro estrelas, o Windsor Oceânico, recebe igualmente muitos eventos médicos. Nos dias 12 a 14 de outubro, recebe participantes do 52º Congresso Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem. De 21 a 25, também no local, acontece o World Sleep Congress, congresso mundial que reúne especialistas em Medicina do Sono.

No mesmo endereço, foram realizados esta semana o 31º Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia e o 12º Congresso Internacional de Fonoaudiologia. Em setembro, aconteceu também no local o Congresso Latino-Americano de Anestesiologia. Em abril, foi a vez do 33º Congresso Brasileiro de Cirurgia Dermatológica.

Todos vão ser realizados no Centro de Convenções & Hotéis Windsor, que está interligado ao complexo de três hotéis da rede, com mais de 1.200 quartos – Windsor Barra, Windsor Tower e Windsor Oceânico. Durante os grandes eventos, todos ficam lotados.

Sem reservas para o complexo, os congressistas do World Sleep Congress, por exemplo, passaram a ser direcionados ainda em setembro para o Radisson Barra e o Grand Hyatt, hotéis vizinhos do centro de convenções.

Evento promete ‘segurança pública e privada adicional’ na Barra

No site do evento da World Sleep Society – uma organização sem fins lucrativos que atende profissionais que trabalham na área de medicina e pesquisa do sono em todo o mundo -, os participantes do Congresso Mundial do Sono são informados sobre a segurança do bairro.

“A Barra da Tijuca é conhecida por sediar eventos internacionais, incluindo as Olimpíadas de 2016, e como tal mantém segurança pública e privada adicional. Este bairro de classe alta possui condomínios, resorts, shoppings e a maior praia do Rio”, informa.

Hóspedes que não queiram se arriscar a passear pela orla – ou frequentar os quiosques do calçadão onde podem ser confundidos com bandidos – podem dispor no Windsor Barra de “uma piscina na cobertura panorâmica , com um bar de coquetéis, academia moderna e restaurante gourmet elegante”, como anuncia o hotel. As diárias em dias de semana começam a partir de R$ 578 em quarto duplo, podendo chegar a R$ 13 mil, segundo a plataforma Booking.

Não são apenas eventos médicos que escolhem o Windsor Barra. Grandes eventos de diversos setores lotam o hotel luxuoso da rede na orla. Em julho, por exemplo, o hotel sediou o Ortovet Expert 2023, evento que reúne empresas e ortopedistas veterinários. Em setembro, aconteceu também ali a Fides 2023, evento bianual das entidades do setor de seguro privado de mais de 40 países. O evento contou com a presença de diversas autoridades, como o governador Claudio Castro, o prefeito Eduardo Paes, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, e o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco.

 

Vista do Windsor Hotel para a Avenida Lúcio Costa e o calçadão da orla da Barra, onde os médicos foram alvejados (Foto: Divulgação)

Ainda na Barra da Tijuca, o Riocentro é outro ponto preferido para grandes eventos médicos. De 25 a 27 de outubro, o centro de convenções recebe o XXIII Congresso Brasileiro de Cirurgia Bariátrica e Metabólica; de 14 a 11 de novembro, o 61º Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia, e de 23 a 26 do mesmo mês, a XXII Semana Brasileira do Aparelho Digestivo.

Ato médico contra a violência é desmarcado

Logo 24 horas depois do ataque violento, o quiosque já estava reaberto e servia clientes normalmente, para revolta de muitas pessoas. O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) chegou a convocar um ato contra a violência no local do crime, neste sábado (7), mas horas depois voltou atrás e desmarcou a homenagem, “em respeito ao desejo de privacidade das famílias neste momento de dor”.

Na nota, o Cremerj, a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia do Rio de Janeiro (Sbot-rj) e a direção do Congresso também expressaram “solidariedade a familiares, amigos e colegas de trabalho neste momento difícil. A atividade no quiosque marcaria ainda o encerramento do Congresso Internacional de Cirurgia Minimamente Invasiva do Pé e Tornozelo, que suspendeu as cerimônias e festas previstas após a tragédia.

O ato público seria realizado pela MIFAS (International Association of Foot and Ankle MIS Minimally Invasive Surgery) – instituição organizadora do congresso –, em parceria com a Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Pé (ABTPé), entidade da qual os médicos faziam parte, além da Sbot e Cremerj. (Veja a nota do Cremerj na íntegra no link).

Quem são as vítimas do crime bárbaro na Barra

Os quatro médicos chegaram animados ao Rio de Janeiro para participar do Congresso Internacional de Cirurgia Minimamente Invasiva do Pé e Tornozelo, que começaria horas depois. Todos eram especialistas em Ortopedia. Como se conheciam, aproveitaram a primeira noite, logo na chegada, para confraternizar no quiosque em frente do Hotel Windsor Barra, acreditando estarem em território seguro.

Um dos mortos, o médico Diego Ralf de Souza Bonfim, de 35 anos, se especializou em reconstrução óssea pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Ele era irmão da deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL-SP) e cunhado do também deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ).

O médico Diego Ralf de Souza Bonfim era irmão da deputada federal Sâmia Bonfim, do Psol-SP (Foto: Reprodução)

No X (antigo Twitter), Sâmia escreveu sobre a morte do irmão. “Eu e minha família agradecemos por todas as mensagens de solidariedade. Expresso também nossas condolências aos familiares de Marcos e Perseu. Meu irmão era um homem incrível, carinhoso, alegre, nosso orgulho. Que haja celeridade e seriedade na investigação. Estamos destroçados!”

Marcos de Andrade Corsato faria 63 anos no dia 9 de outubro: morreu na hora no quiosque (Foto: Reprodução)

Marcos de Andrade Corsato, que faria 63 anos na segunda-feira (9/10), era médico assistente do grupo de Tornozelo e Pé do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT), do Hospital das Clínicas de São Paulo.  Ele fez graduação e mestrado em ortopedia e traumatologia na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Também pertencia ao corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo e foi professor de ortopedia dos outros dois médicos que também foram mortos no crime.

Em ambos os hospitais, segundo o jornal O Globo, é lembrado como um médico alegre e carinhoso. Em nota, o instituto do Hospital das Clínicas de São Paulo afirmou que recebeu “com consternação” a notícia do falecimento dos três médicos. “O IOT estende as condolências aos familiares e amigos”, diz o texto.

Perseu Ribeiro Almeida foi confundido com miliciano (Foto: Reprodução)

Já o baiano Perseu Ribeiro Almeida, que completou 33 anos na última terça-feira, se formou em Medicina pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), de Salvador (BA), fez residência em ortopedia e traumatologia pelo COT e se especializou em cirurgia em pé e tornozelo pelo IOT da FMUSP.

O único sobrevivente da tragédia, Daniel Sonnewend Proença, 32, é formado pela Faculdade de Medicina de Marília (SP). em 2016, e especialista em cirurgia ortopédica. Daniel levou 14 tiros e teve algumas fraturas, mas passa bem. Nesta sexta-feira (6/10), ele divulgou um vídeo gravado no hospital, após passar por uma cirurgia. “A gente vai sair dessa junto. Valeu pela preocupação”, disse.

Mortes por engano: alvo seria miliciano da Zona Oeste

Miliciano Taillon e Dr Perseu, um dos três médicos mortos: semelhança física seria o principal motivo para o crime bárbaro (Foto: Reprodução de internet)

A principal linha de investigação, desde o primeiro momento, era de que os quatro médicos foram baleados por engano. A hipótese é de que traficantes tinham como alvo Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, um miliciano da região de Jacarepaguá que se parece com uma das vítimas, o médico Perseu Ribeiro Almeida, e cumpre prisão domiciliar no condomínio onde mora, na Avenida Lúcio Costa. Os outros médicos atingidos teriam sido confundidos com seguranças do miliciano.

“Não resta mais dúvida alguma de que os médicos foram assassinados por engano”, declarou o secretário da Polícia Civil do Rio, Renato Torres, na manhã desta sexta-feira (6).

Taillon – que deveria ser o alvo dos bandidos – é filho do ex-sargento da PM, Dalmir Pereira Barbosa, apontado como um dos principais chefes da milícia que atua na Zona Oeste. Citado 28 vezes na CPI das Milícias, Dalmir é acusado de liderar um esquema miliciano-imobiliário de grilagem, construção, venda e locação ilegais de imóveis nas comunidades de Rio das Pedras e Muzema.

Horas depois do atentado, quatro corpos de suspeitos de terem participado do ataque a tiros contra os médicos foram localizados por policiais da Delegacia de Homicídios. Ryan Nunes de Almeida, o Ryan,  Thiago Lopes Claro da Silva e Pablo Roberto da Silva dos Reis – que estavam dentro de um carro nas proximidades do Riocentro, faziam parte da ‘Equipe Sombra’, grupo liderado por Philip Motta Pereira, o Lesk, cujo corpo foi encontrado no segundo veículo, na Gardênia Azul. Outros dois suspeitos de envolvimento no ataque — Bruno Pinto Matias, o Preto Fosco, e Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, o BMW — continuam sendo procurados.

Philip Motta Pereira, o Lesk, e Ryan Nunes de Almeida, o Ryan, encontrados mortos e suspeitos da execução de médicos (Foto: Reprodução/TV Globo)

Motivação política não está descartada e PF também investiga

A ação das forças paramilitares no Rio – as chamadas milícias – e seu confronto com as facções criminosas ligadas ao tráfico de drogas é o principal alvo das investigações desde o primeiro momento. Mas a hipótese de motivação política não está descartada.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou que a Polícia Federal auxiliará nas investigações, “em face da hipótese de relação com a atuação de dois parlamentares federais” – disse. . “Após essas providências iniciais imediatas, analisaremos juridicamente o caso”, escreveu Dino, que prestou solidariedade aos deputados Sâmia Bonfim e Glauber Braga.

Já o presidente do PSOL no Rio de Janeiro, deputado federal Tarcísio Motta, afirmou ao jornal Folha de S.Paulo que “nada indica” que tenha havido motivação política para os assassinatos.

Uma fato curioso chama a atenção de quem acompanha o caso. Reduto de jogadores e artistas, o Quiosque do Naná 2 – onde ocorreu o crime – fica a poucos metros do Quiosque do Naná, muito frequentado por bolsonaristas e milicianos, já que fica quase em frente ao condomínio Vivendas da Barra, onde mora o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro.

No mesmo condomínio de Jair, mora também ex-sargento da PM e miliciano Ronnie Lessa, preso como principal acusado da morte da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, em 2018. Nas comunidades de Rio das Pedras e Muzema, segundo o Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ), Flávio Bolsonaro lucrou com a construção ilegal de prédios erguidos pela milícia e financiados com dinheiro da rachadinha na Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj).

Governador do Rio: ‘Não vamos recuar’

Na manhã de quinta-feira (5), poucas horas após o crime bárbaro, o governador do Rio, Claudio Castro, emitiu uma nota de solidariedade aos familiares das vítimas, informando que determinou ao secretário de Polícia Civil que “empregue todos os recursos necessários para chegar à autoria do crime bárbaro que tirou a vida de três médicos e feriu outro na Barra da Tijuca”.

Na sexta, em coletiva com a imprensa, Castro declarou que o “problema (das milícias) não é somente do estado do Rio de Janeiro, é um problema do Brasil”. Segundo ele, as investigações sobre o caso continuam e serão ampliadas, mesmo com a suspeita de que envolvidos no caso tenham sido mortos pelo “tribunal do crime”.

“Não retrocederemos um milímetro sequer para essas máfias. O Estado não vai recuar. Vamos unir forças para chegar à motivação e aos autores. Esse crime não ficará impune!”., disse o governador.

O encontro, no Palácio Guanabara, teve o objetivo de ajustar a parceria entre as forças de segurança estaduais e federais para elucidar o crime e para o combate a organizações criminosas que vêm atuando no estado. Cláudio Castro falou sobre as estratégias de combate à criminalidade e assegurou que, mesmo com os desdobramentos sobre os ataques contra os médicos na Zona Oeste do Rio, as investigações continuam.

“Estamos diante de um problema que é do país inteiro e não se trata mais somente de facções criminosas e grupos de milicianos. São máfias que vêm avançando cada vez mais nas esferas dos poderes, nos comércios, no sistema financeiro nacional, que possuem suas próprias regras e tribunais”, disse.

Ainda segundo o governador, as investigações seguem avançando, “com inteligência e aparato técnico”, para chegar à cúpula dessas máfias, “que têm criminosos com alto grau de impetuosidade e que cometem crimes bárbaros”. “Não descansaremos. Temos uma polícia competente, preparada e, hoje, equipada”, ressaltou Castro.

O secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, enfatizou o trabalho em conjunto do Governo Federal com as forças de segurança do Estado.

“Vamos apoiar o Rio de Janeiro, ainda mais, no enfrentamento desse crime inaceitável que ameaça a vida e afronta o Estado Democrático. Organizações criminosas cada vez mais organizadas e verticalizadas exigem organização, integração e inteligência do poder público com o apoio da iniciativa privada. Vamos ampliar nossa ação de inteligência no Estado do Rio por meio da Superintendência da Polícia Federal”, citou Cappelli.

Com informações do GovRJ, G1, BBC Brasil e outros

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