De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil já tem a quinta maior taxa de feminicídios entre 84 nações pesquisadas, apesar de possuir diversas políticas de proteção à mulher – como a Lei Maria da Penha. No Estado do Rio de Janeiro, a cada sete dias uma mulher é vítima de feminicídio.  Somente em janeiro deste ano, 38 tentativas de feminicídio foram registradas no Estado do Rio de Janeiro. Cinco resultaram em morte, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP).

Os números foram apresentados pela juíza Adriana Mello, responsável pelo juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), na quarta-feira (21), durante audiência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) que investiga os casos de feminicídio no Estado do Rio.

De acordo com Adriana, o número é alarmante. Ela lembrou que em 2017 foram registrados 68 casos, mais da metade do número registrado em um mês de 2019. Segundo ela, uma das justificativas para esse aumento foi a inclusão, em 2015, do termo feminicídio no Código Penal brasileiro.

No ano passado foram registrados 71 casos de feminicídio e 288 tentativas. Dessas mulheres, 53% tinham entre 16 e 30 anos e cerca de 69% eram negras ou pardas. Do total, 62% dos crimes ocorreram em residências e apenas 24% em vias públicas. O número de vítimas diminuiu de 2018 para 2019, comparando os meses de janeiro e fevereiro dos respectivos anos: 14 contra oito casos no mesmo período deste ano.

Houve de fato uma pequena redução do número de casos de feminicídio, embora o cenário ainda continue muito grave. No ano passado, uma mulher era vítima de feminicídio a cada cinco dias, esse ano essa margem sobe para sete dias. A estimativa é um pouco melhor, mas ainda é alarmante”, pontuou Adriana.

Ciúme, divórcio e porte de armas como causas

Entre os indicadores que, segundo ela, contribuem para a prática do feminicídio se destacam o ciúme excessivo por parte do parceiro, o início de um processo de divórcio e o porte de arma.

Em torno de 47% dos casos de feminicídio são praticados com arma de fogo. Em 2016, 550 mulheres morreram com tiros dentro de casa. Esse dado é preocupante e precisa ser estudado. Armas cortantes, como facas e estiletes, também são utilizados na ação do crime, assim como a asfixia”, relatou.

Comissão que investiga feminicídios no Estado do Rio ouve relatos de delegadas (Foto: Octacílio Barbosa / Alerj)

Segundo ela, as mulheres negras também estão mais vulneráveis. “Houve um aumento de 54% do índice de feminicídio com mulheres negras e um decréscimo na morte de mulheres brancas. Há um recorte de raça bem importante que precisa ser analisado.”

Em 2018 foram registrados, em média, por mês, mais de mil indiciamentos, o que significa dizer que mais de mil casos de feminicídio foram evitados no Estado do Rio. Só no ano passado foram efetuadas 855 prisões desses agressores e esse ano já foram realizadas 184 prisões, o que corresponde em relação ao ano anterior, a um aumento de 229% do número de prisões.

“Acabou essa falácia de que ‘em briga de marido e mulher não se mete a colher’. Pelo contrário, toda a sociedade tem a responsabilidade social de assim fazê-lo e a Polícia Civil tem o dever institucional de aprimorar as ferramentas que façam com que esse homem não saia impune desse tipo de agressão”, afirmou a delegada Juliana Emerick, diretora da coordenadoria geral das Delegacias Especializadas de Atendimento a Mulher (Deams).

Pacientes de clínicas psiquiátricas, desaparecidas ou suicidas

A presidente da Comissão, deputada Martha Rocha (PDT),  propôs que fosse incluído no levantamento do ISP registros de mulheres internadas em clínicas psiquiátricas, que se suicidaram, ou desapareceram. “Queremos que o ISP paute essas indicações para que possamos mostrar que os dados que temos sobre o feminicídio podem não ser concretos. Por trás de uma notícia de suicídio pode estar também a tentativa de um feminicídio, assim como a internação compulsória de uma mulher em uma clínica ou simplesmente o seu desaparecimento”, informou a parlamentar.

Em resposta, a delegada disse que vai incluir esse recorte nos dados do ISP. “Vamos tentar fazer esse cruzamento, principalmente, com o apoio da Polícia Civil que tem acesso a esses números e incluí-los nos nossos próximos estudos”, garantiu. Adriana também lembrou que o Dossiê da Mulher, produzido pelo ISP anualmente, onde é possível encontrar esses estudos, terá lançamento no dia 30 de abril.

Como a Medicina pode ajudar a reverter essas estatísticas

O avanço dos assassinatos de mulheres no país e como a Medicina pode contribuir para reverter essas tristes estatísticas estão na pauta de palestras gratuitas nesta segunda-feira (25), a partir das 9h30, no auditório do Hospital Evandro Freire,  na Ilha do Governador, Rio de Janeiro.

O evento contará com a presença de Alexandre Trajano, médico e professor de Obstetrícia da Uerj e Unigranrio; e Gabriela Von Beauvais, delegada de polícia, assessora de planejamento e projetos da Polícia Civil.

Alexandre Trajano inicia o debate abordando o tema “Medicina, gênero e violência institucional contra a mulher”. Para o especialista, o tema permeia até hoje todos os setores da vida médica e merece a devida atenção para que esse quadro seja revertido. Em seguida, Gabriela Von Beauvais, especialista em gênero e direito, fará uma apresentação sobre o aumento do número de casos de feminicídio no Brasil.

A abertura do encontro ficará sob a responsabilidade do diretor do Hospital, Tiago Velloso. As vagas são limitadas e a participação é mediante confirmação pelo telefone (21) 3353-6135 – ramal 1047.

MAIS AGENDA POSITIVA – MÊS DA MULHER

Palestras gratuitas sobre câncer de mama

O câncer de mama representa cerca de 22% dos novos casos de câncer diagnosticados anualmente, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA).  É o tipo mais comum entre as mulheres no mundo. É relativamente raro antes dos 35 anos, com maior incidência a partir desta idade, especialmente após os 50 anos. A doença é causada pela multiplicação desordenada de células da mama. Esse processo gera células anormais que se multiplicam, formando um tumor.

Esclarecer sobre a doença é o principal objetivo de um evento gratuito que acontece neste sábado (23), às 16h, promovido pelo grupo de apoio Flor de Lótus para acolher e apoiar mulheres em situações de câncer de mama  A primeira edição do projeto, idealizado pela médica Clarissa Thiers, será realizado na Solace Institute, que fica na Barra da Tijuca.

A neuropsicóloga Paula Emerick, da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, faz palestra sobre como os pacientes devem lidar com esta nova realidade. Em seguida, as cardiologistas Clarissa Thiers e Ana Patricia Oliveira falam sobre todas as técnicas que podem ser adotadas para auxiliar no tratamento do câncer.

Às 18h, o cirurgião plástico Rodolfo Chedid traz novidades da medicina sobre reconstrução da mama, seguido da aula de automaquiagem da maquiadora Paula Olive, e do fotógrafo João Barbosa – que encerra o ciclo. Mais informações pelo e-mail grupoflordelotus@gmail.com.

Projeto eleva auto-estima de mulheres cegas

O projeto Muito Além da Beleza, criado com o objetivo de elevar a autoestima de mulheres cegas e com baixa visão, por meio do ensino de técnicas de automaquiagem, chega à sua 7ª edição, com uma nova turma de 15 alunas. O curso foi criado com o objetivo de proporcionar autonomia e independência para que mulheres com cegueira e baixa visão possam produzir sua própria make, com dicas de escolha de cores até a aplicação dos produtos.

Planejado a partir de uma ação de parceria entre Sandra Tacla e Henrique Malveis, da Tacla Consultoria de Comunicação, a rede Jacques Janinee a Laramara – Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual, o Muito Além da Beleza já formou gratuitamente mais de 60 mulheres, desmistificando estigmas e preconceitos para a valorização da beleza individual das participantes.

As aulas, que terão início no dia 27 de março e irão até 24 de abril, ocorrerão todas às quartas-feiras, das 9h às 11h, na sede da Laramara (rua Conselheiro Brotero, 338, Barra Funda), na zona oeste da capital.

As aulas são divididas em cinco módulos, que incluem aulas práticas de preparação da pele, funcionalidade dos produtos, combinação de cores, truques de como delinear os olhos, esfumar a sombra e segredos para aplicar cílios postiços – para isso serão utilizados produtos identificados com texturas diferentes, braille ou tipos ampliados para pessoas com baixa visão, que serão doados pela patrocinadora Vult Cosmética e pela apoiadora KISS New York. O curso ainda contará com a participação da digital influencer Mariana Saad no dia 17 de abril, para que as alunas possam tirar suas dúvidas sobre make.

Da Redação, com Assessorias

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