Depois de iniciar com semanas de calor, o inverno começa a apresentar seus típicos dias frios. Enquanto as temperaturas caem, cresce a preocupação com os casos de infarto. Em países mais frios, que atingem temperaturas abaixo de zero, o cenário é ainda pior: nos Estados Unidos, por exemplo, mais pessoas morrem de ataques cardíacos na última semana de dezembro do que em qualquer outra época do ano.

Um estudo realizado pela Associação Americana do Coração (American Heart Association) mostrou que a incidência de problemas cardíacos durante o inverno aumenta em 25%. Quando a temperatura alcança médias diárias abaixo de 14°C, os casos de morte por infarto do miocárdio sobem para até 30% e a cada 10°C a menos na temperatura, o risco de infarto cresce em 7%.

No Brasil, os pesquisadores conseguiram quantificar uma relação que já era prevista, mas precisava ser comprovada: o aumento do número de infartos durante o inverno. O frio pode aumentar em 30% os casos de infarto do miocárdio e de Acidente Vascular Cerebral (AVC), segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Cardiologia (INC) mostram que, em 2022, o número de infartos foi 27% maior na temporada de frio do que no verão, tanto em homens quanto em mulheres.

Por que as baixas temperaturas afetam o coração

O frio está relacionado a várias condições do nosso corpo que ampliam a probabilidade de um infarto, como o aumento da pressão arterial e da atividade nervosa simpática, que acelera os batimentos cardíacos e causa constrição dos vasos sanguíneos do coração”, explica a médica  cardiologista Chiu Yun Yu Braga, supervisora do Internato de Urgência e Emergências do curso de Medicina da Universidade Positivo (UP).

Em baixas temperaturas, vasos sanguíneos se contraem para evitar a perda de calor, deixando o coração em estresse adicional que pode levá-lo ao colapso.  De acordo com o cardiologista do Hcor Jorge Koroishi, isso acontece porque o organismo responde ao frio exigindo mais esforço do coração para manter o calor corporal e um suprimento sanguíneo adequado.

As baixas temperaturas desencadeiam a constrição dos vasos sanguíneos, reduzindo o fornecimento de oxigênio ao músculo cardíaco. Com isso, aumentam os riscos de formação de coágulos sanguíneos e de elevação da pressão arterial e dos níveis de colesterol, que podem favorecer as complicações cardíacas”, explica.

Quem mais enfrenta riscos?

O problema pode afetar homens e mulheres, de qualquer faixa etária, mas o risco aumenta de acordo com a idade e com as condições de saúde. “Para indivíduos que realizam tratamento de doenças cardíacas pré-existentes, a sobrecarga ao trabalho cardíaco aumenta significativamente o risco de sofrer angina, ataques cardíacos, arritmias e várias outras doenças cardiovasculares durante o inverno”, revela o especialista do HCor.

Segundo a cardiologista Chiu Yun Yu Braga, os grupos de risco são idosos, hipertensos, diabéticos, fumantes e pessoas com colesterol elevado. No entanto, o risco de problemas cardíacos não se limita a essas pessoas, e durante o inverno, quando a chance de ocorrer um infarto é maior, os cuidados devem ser redobrados

É importante tratar as doenças que aumentam o risco de infarto. Para prevenir, é indicado reduzir a exposição ao frio, manter-se bem hidratado e adotar hábitos de vida saudáveis”, indica a médica.

Doenças respiratórias típicas do inverno podem ser gatilhos para infartos

Pneumonia, bronquite e até gripe propiciam alterações metabólicas que comprometem os vasos sanguíneos, causando sérios problemas cardiovasculares

A relação entre estas doenças respiratórias esquenta a discussão sobre o aumento do número de infartos no inverno. Para Chiu Yun Yu Braga, “as doenças respiratórias, comuns no inverno, também podem mascarar uma doença cardíaca, que pode levar ao infarto”.

É só o tempo mudar para a rinite, a sinusite e outras inflamações aparecerem. As doenças respiratórias, que causam sintomas como garganta inflamada, tosse, febre e dor facial, comuns nas épocas de baixas temperaturas, afetam quase metade da população brasileira. Agravadas pelo tempo frio e seco, elas podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares, como os infartos, principalmente em quem já passou dos 60 anos.

A queda na temperatura, muitas vezes, deixa as pessoas mais suscetíveis a contrair gripes e resfriados. De maneira geral, não são condições graves para indivíduos saudáveis, mas para aqueles que já possuem uma doença, como a cardíaca, pode até ser fatal”, alerta Dr Koroishi.

De acordo com o cardiologista do Hcor Leopoldo Piegas, o fenômeno pode ser explicado pelo fato de o quadro respiratório favorecer a formação de coágulos sanguíneos, de inflamações, de alterações no fluxo do sangue e de toxinas que danificam os vasos.

Com isso, ocorrem determinadas alterações agudas na parede da artéria coronária, responsável por irrigar o músculo cardíaco, que provoca a obstrução da passagem de sangue, levando ao infarto”.

Somado ao comprometimento causado pelas doenças respiratórias, em temperaturas mais baixas, ocorre um estreitamento do diâmetro das artérias, que pode prejudicar o fluxo adequado de oxigênio ao coração. “Com o desequilíbrio, começa a acontecer um processo de morte do músculo cardíaco (necrose), que também pode resultar no infarto agudo do miocárdio”, completa o médico.

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Fique atento aos sinais mais comuns de um infarto

cardiologista Chiu Yun Yu Braga destaca que é fundamental estar atento a alguns sinais que podem indicar um possível infarto, como dores no peito após esforço físico, falta de ar, cansaço e sensação de desmaio, por exemplo. Segundo a médica, o próprio infarto pode ser a primeira manifestação de doenças cardiovasculares, portanto, a prevenção é imprescindível.

Entre os sintomas mais comuns do infarto estão dor no peito, no braço esquerdo, pescoço, costas ou no estômago, falta de ar e náuseas, que também podem ser iniciadas após esforço ou situações de estresse e, até mesmo, em repouso. “A dor pode ser em aperto, opressão, queimação ou de difícil caracterização. O fato é que qualquer sintoma deve ser investigado”, ressalta.

  • Dor súbita no peito, que irradia para pescoço, costas, ombro e braço;
  • Falta de ar;
  • Suor frio;
  • Tontura e desmaio;
  • Náusea, falta de apetite e indigestão;
  • Fadiga repentina.

Dicas de prevenção de infarto no inverno

Por isso, além do cuidado com a exposição ao frio, os cardiopatas precisam redobrar a atenção com a prevenção das doenças infecciosas comuns nesta época do ano. Segundo Dr. Piegas, é importante ter ciência de que uma doença respiratória e o frio podem, sim, ocasionar um infarto.

Como o número de casos de gripe, por exemplo, cresce exponencialmente nessa época do ano, as complicações cardiovasculares acompanham essa curva e podem ser fatais para milhares de pessoas. Para prevenir que isso aconteça, é fundamental que todas as pessoas estejam com a vacinação antigripal em dia. A imunização é capaz de reduzir o risco de sofrer um infarto em cerca de 30%”, alerta.

Evite ficar exposto ao tempo frio por longos períodos, use roupa apropriada, prefira realizar atividades físicas em ambientes fechados, adote uma alimentação saudável e consuma bebidas e comidas quentes para ajudar o corpo a manter o calor e circulação sanguínea adequada. No mais, mantenha as consultas de rotina com o seu médico, pois pode ser necessário fazer ajuste na medicação nesta época do ano.”, completa o médico do HCor.

Para aqueles que fazem parte de um grupo de risco mais suscetível, que possuem doença coronariana pré-existente, que já sofreram infarto e/ou que têm mais de 60 anos, os cuidados devem ser redobrados. “Além da vacinação e da proteção contra o frio, com o devido acompanhamento com o cardiologista, pode ser necessário um ajuste na medicação, a fim de estabilizar as doenças e prevenir graves complicações nessa época fria do ano”, explica Leopoldo Piega.

Internações por infarto aumentaram mais de 150% em 14 anos

Obesidade, sedentarismo, temperaturas baixas, pandemia e idade dos pacientes estão relacionados ao crescimento

Os problemas cardiovasculares são a principal causa de morte entre homens e mulheres no Brasil. De 2017 a 2021, 7.368.654 pessoas morreram devido a essas doenças no país. O estudo do INC mostrou que o número de internações por infarto aumentou no Brasil entre 2008 e 2022. Entre os homens, a média mensal passou de 5.282 para 13.645, um aumento de 158%. Entre as mulheres, a média foi de 1.930 para 4.973, alta de 157%.

Esses dados são baseados no Sistema de Internação Hospitalar do Datasus, do Ministério da Saúde, e cobrem todos os pacientes brasileiros que utilizam os serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), tanto em hospitais públicos quanto em hospitais privados conveniados.

A falta de acompanhamento médico durante a pandemia, especialmente para pacientes portadores de doenças cardiovasculares, também contribuiu para o aumento desses casos. “Muitos pacientes deixaram de receber qualquer tipo de acompanhamento. Com o fechamento dos estabelecimentos de saúde, não houve atendimento adequado para doenças cardiovasculares. Mesmo após a pandemia, as consultas ainda não foram normalizadas”, revela a cardiologista Chiu Yun Yu Braga.

Com Assessorias

 

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