O sono de má qualidade e os distúrbios relacionados ao sono estão associados a um risco maior de desenvolver glaucoma, uma doença ocular grave que pode levar à cegueira. A conclusão é de um importante estudo, publicado no Bristish Medical Journal (BMJ). De acordo com o estudo, a duração curta ou longa do sono foi associada a um risco aumentado de glaucoma de 8%; a insônia, de 12%; o ronco de 4% e a sonolência diurna frequente de 20%.
Em comparação com pessoas com um padrão de sono saudável, os que roncam e aqueles que experimentam sonolência diurna tinham 10% mais probabilidade de ter glaucoma, enquanto os insones e aqueles com um padrão de duração de sono curta/longa tinham 13% mais probabilidade de ter glaucoma.
As descobertas são importantes na medida em que reforçam a necessidade de melhorar a qualidade do sono em pessoas com alto risco de desenvolver glaucoma, bem como a necessidade de triagem precoce para glaucoma em pessoas com distúrbios crônicos de sono. Pacientes que têm o sono interrompido por ronco (apneia do sono) devem ser monitorizados.
Relação entre o sono e o risco de glaucoma
Segundo a oftalmologista Maria Beatriz Guerios, especialista em glaucoma, existem algumas explicações biológicas plausíveis para as associações encontradas entre os distúrbios do sono e glaucoma.
“Uma das principais relações do sono com o glaucoma é que os danos glaucomatosos são causados pelo aumento da pressão intraocular (PIO). Quando estamos deitados, a pressão dentro do olho aumenta. Este aumento também ocorre quando há um desequilíbrio em certos hormônios do sono, como a melatonina”.
Ainda segundo a especialista. insônia ou o sono de má qualidade também é mais prevalente em pessoas com depressão e ansiedade. Nesta população, também temos produção desregulada de cortisol, que pode elevar a PIO.
“Por fim, o ronco, nome popular para a apneia do sono, tem um outro mecanismo de danos no nervo óptico. Neste caso, o glaucoma tem relação com episódios repetitivos e prolongados de falta de oxigenação no nervo óptico”, explica a especialista.
Existe também outra hipótese relacionada ao estresse causado pela insônia, que pode estimular a secreção de neurotransmissores, influenciando a regulação da PIO e do fluxo sanguíneo. A diminuição do fluxo sanguíneo ocular é um fator de risco bem conhecido para o desenvolvimento e progressão do glaucoma.
Leia mais
Glaucoma: longas filas no SUS podem agravar os casos
Glaucoma: SUS já livrou 1,3 milhão de pessoas da cegueira
Glaucoma: doença silenciosa que pode levar à cegueira irreversível
Como tratar os distúrbios do sono?
O ideal é procurar um médico especialista em medicina do sono, normalmente são neurologistas. Se você dorme menos de 7 horas por dia, dorme demais durante o dia, desperta inúmeras vezes durante a noite, tem dificuldade para pegar no sono e apresenta ronco, procure ajuda.
“Felizmente, a má qualidade do sono e outros distúrbios, como a apneia do sono, são modificáveis ou tratáveis. Portanto, as descobertas deste estudo reforçam a importância de diagnosticar e tratar os problemas do sono, principalmente em pessoas com outros fatores de risco para desenvolver glaucoma”,m finaliza Dra. Maria Beatriz.
Caso você já tenha diagnóstico de algum distúrbio do sono, procure um oftalmologista para uma avaliação completa da sua saúde ocular. O diagnóstico e o tratamento do glaucoma nas fases iniciais podem prevenir a progressão da doença, ou seja, pode evitar a perda total da visão.
Leia também
Glaucoma: como age esse ‘ladrão silencioso da visão’?
Por que as mulheres são as principais vítimas do glaucoma?
Gordura corporal em excesso pode levar ao glaucoma
Em 80% dos casos o paciente não apresenta sintomas
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o glaucoma afeta entre 1% e 2% da população mundial e é considerada a maior causa de cegueira irreversível no mundo. Até 2040, serão mais de 111,8 milhões de pessoas em todo o mundo. Dados da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG) apontam que, somente no Brasil, somam mais de 2,5 milhões com a doença.
O glaucoma ocorre devido ao aumento da pressão intraocular, que provoca a atrofia do nervo óptico, responsável por conectar o olho ao cérebro, provocando a morte das fibras nervosas. Ao interromper a transmissão dos sinais entre esses dois órgãos, a doença provoca uma perda irreversível da visão.
Conforme destaca o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (SBO), em 80% dos casos o paciente não apresenta sintomas logo que se instala a doença.
Apesar da gravidade do quadro, quatro em cada dez pessoas não sabem , que é o glaucoma, de acordo com levantamento realizado pelo Ibope Inteligência. No mês de maio uma campanha traz à tona debates sobre a prevenção e o combate à doença.
No dia 26 de maio, é comemorado o Dia Nacional de Combate ao Glaucoma, data instituída para chamar a atenção da população para a importância do acompanhamento oftalmológico adequado como forma de diagnosticar e tratar precocemente a doença.
E quais são os fatores de risco do glaucoma?
Há alguns fatores de risco para o desenvolvimento da doença, como hereditariedade, traumas oculares, atividades que possam aumentar a pressão intraocular, pessoas acima de 40 anos e sedentarismo.
Pacientes diabéticos, hipertensos, com alterações na tireoide ou artrite reumatoide devem prestar especial atenção à saúde dos olhos, mantendo consultas regulares com o oftalmologista.
Os principais fatores de risco do glaucoma são:
- Histórico familiar da doença
- Idade maior que 40 anos
- Tabagismo
- Hipertensão arterial
- Diabetes
- Alta miopia
- Fator racial – mais comum em afrodescendentes e asiáticos
Tipos da doença
Há dois tipos de glaucoma: o agudo e o crônico. “No glaucoma agudo, também chamado de ângulo fechado, a pressão sobe subitamente a valores muito altos e provoca muita dor no olho, levando, via de regra, o paciente a buscar serviços de emergência.
Já no glaucoma crônico simples, também chamado de ângulo aberto, a pressão sobe a valores que não provocam dor, mas podem afetar o nervo óptico e evoluir por muito tempo até que seja diagnosticado pelo exame de pressão ocular e da campimetria visual”, destaca Jordão.
Leia ainda
Entenda o glaucoma, a doença de Marquinhos da Flauta
Maio Verde: 5 dicas para evitar e identificar o glaucoma
Há muito de belo para se ver: cuidado com o glaucoma
Diferença entre os sintomas
Trata-se de um processo lento, que pode progredir durante anos, até o aparecimento dos primeiros sintomas que não surgem de forma aparente na fase inicial, na maioria dos pacientes. Quando há algum sinal, a doença já está causando a perda gradativa da visão em grande parte dos casos.
No início, o glaucoma pode não apresentar sintomas significativos, por isso a importância do acompanhamento oftalmológico regular. Na fase aguda, o paciente com glaucoma pode apresentar visão embaçada, perda gradual da visão lateral, sensibilidade à luz, dores na testa, náuseas, vômitos e olhos vermelhos e inchados.
A maioria das pessoas não apresenta sintomas, mas com o passar dos anos e se não tratado devidamente, o paciente com glaucoma tende a ter a visão periférica prejudicada.
No glaucoma crônico os principais sintomas são:
– Perda do campo visual periférico
-Visão turva
Nos casos de glaucoma agudo:
-Dor intensa e súbita
-Olhos vermelhos
-Baixa de visão
Cegueira causa pelo glaucoma pode ser evitada
O glaucoma pode ser combatido por meio de acompanhamento médico preventivo. O aumento da pressão intraocular pode ser identificado nas consultas regulares a um oftalmologista. A cegueira causada pelo glaucoma pode ser evitada seguindo as orientações médicas.
Para evitar complicações e um diagnóstico tardio, o aconselhável é consultar um oftalmologista uma vez por ano. Entretanto, para quem já realiza tratamentos, principalmente em casos de enfermidades progressivas, o correto é ir às consultas em períodos mais curtos.
“Pelo menos uma vez ao ano, é necessário ir ao oftalmologista para a prevenção de doenças oculares. Caso ocorra a manifestação de algum sintoma, esse tempo deve ser reduzido para o devido tratamento. No caso do glaucoma, por ser uma doença crônica e sem cura, o acompanhamento adequado irá impedir o avanço da doença, o que evitará a perda da visão”, destaca Por isso, a realização de exames regulares pelo oftalmologista é fundamental”, explica o oftalmologista da Hapvida NDI, Antônio Jordão.
Tratamento do glaucoma
De acordo com o oftalmologista, o tratamento do glaucoma consiste no uso de medicações, geralmente colírios, para reduzir a pressão. “A depender da resposta do paciente, podem ser aplicados outros métodos como laser ou até cirurgias, cujo objetivo será sempre a redução da pressão ocular”, finaliza.
O tratamento inicial do glaucoma de ângulo aberto mudou recentemente. O laser é o método terapêutico de escolha inicial, seguido de colírios. Manter a pressão ocular sob controle é o fator mais importante no tratamento, todavia, sabe-se que fazer exercício físicos, manter a pressão arterial controlada, assim como diabetes é importante.
Com Assessorias