“Descobri o glaucoma quando tinha 42 anos, após um acidente no qual o assoalho da órbita do meu olho se rompeu. Não tive sintomas, apenas conhecia o antecedente familiar da doença, do avô materno”, conta o engenheiro de alimentos Gilberto Guitte Gardiman, de 67 anos, sobre a detecção da pressão alta nos olhos. “Desde então, sigo fazendo o tratamento, que consiste na aplicação de colírios e no monitoramento periódico por meio de exames”.

Gilberto faz parte das 64 milhões de pessoas entre 40 e 80 anos em todo o mundo (cerca de 1% da população global ou quase um milhão somente no Brasil) que sofrem com o glaucoma, uma doença oftalmológica causada principalmente pela elevação da pressão intraocular e que provoca lesões no nervo óptico, o que gera perda do campo visual e pode levar à perda progressiva e irreversível da visão. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 111,8 milhões de pessoas devem ser acometidas pela condição até o ano de 2040.

Para controlar a doença, Gilberto mantém um controle rigoroso de cuidados com a higiene no entorno dos olhos e faz o uso constante de colírios indicados pelo médico, sempre adaptando horários e atividades para não comprometer o uso da medicação. “Não tenho medo do glaucoma. Ao longo destes anos, as médicas e os médicos que me acompanharam conseguiram manter a pressão dos olhos em bons níveis na maior parte do tempo. E, com eles, aprendi a resolver problemas de vermelhidão nos olhos e nas pálpebras, secura nos olhos, tersóis. Sigo a vida me adaptando”, conclui.

Doença ainda não tem cura, alertam especialistas

Pedro Duraes é médico oftalmologista e professor do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa (Foto: Divulgação)

Neste 26 de maio, Dia Nacional de Combate ao Glaucoma, oftalmologistas alertam para os cuidados com uma das principais doenças que podem levar à cegueira, ficando atrás somente da catarata. Pedro Duraes, médico oftalmologista e professor do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro (Unisa), lembra que o glaucoma é uma doença que ainda não tem cura, sendo o diagnóstico e o tratamento precoce essenciais para o paciente.

“Apesar de qualquer pessoa poder ser diagnosticada com glaucoma, estudos mostram que esta condição é mais comum em alguns recortes populacionais: em geral, pessoas pretas ou que sejam parentes de portadores de glaucoma, idosos, portadores de alta miopia, diabéticos e usuários crônicos de colírios com corticoides têm mais propensão à doença”, destaca.

De acordo com o especialista, os sinais mais frequentes de glaucoma ocular são as manchas escuras no campo visual periférico: inicialmente, a visão da pessoa fica restrita ao centro do olhar e prejudicada nas laterais, como se ela estivesse olhando por um túnel – essas manchas são chamadas escotomas.

“Progressivas, à medida que a doença vai aumentando, essas manchas também crescem de tamanho, deteriorando ainda mais a visão. Outros sintomas frequentes e adjacentes à condição são olhos avermelhados e lacrimejantes, maior sensibilidade à luz, dor nos olhos e na cabeça”, esclarece.

Segundo ele, o grande risco do glaucoma são seus sintomas iniciais, silenciosos e imperceptíveis. Normalmente, quando o paciente desenvolve os sintomas, o glaucoma já está avançado, com cerca de 50% das células ganglionares já atrofiadas.

Carolina Gracitelli é médica oftalmologista no Vera Cruz Hospital (Foto: Matheus Campos)

Segundo a oftalmologista Carolina Gracitelli, do Vera Cruz Hospital, por ser uma doença assintomática, a enfermidade é a principal causa de cegueira irreversível no mundo. Ela alerta para os fatores de risco: “No início, o paciente não sente nada, não há sinais visíveis no olho. As pessoas com histórico familiar em parentes de primeiro grau devem ter cuidado redobrado. Genética, idade avançada, aumento da pressão intraocular, algumas etnias, miopia e diabetes são outros gatilhos”, detalha.

Ela lembra que há vários tipos de glaucoma, tais como o de ângulo aberto, ângulo fechado, secundário e congênito. “O mais comum é o primário de ângulo aberto, em que a visão vai se perdendo aos poucos e não se consegue recuperar o que foi perdido. Por isso, o quanto antes for diagnosticado, mais chances de evitar a perda definitiva da visão e, portanto, é importante fazer visitas regulares a um especialista”, pontua.

Diagnóstico e tratamento

Na visão da Dra. Carolina, a prevenção está na frequência com que se vai ao oftalmologista. “Todas as pessoas acima dos 40 anos e aquelas que possuem alguns fatores de risco devem fazer um exame oftalmológico completo a fim de detectar sinais prematuros do glaucoma, entre outras doenças”.

O diagnóstico final é feito por meio de exames e os mais comuns são a campimetria e a tomografia de coerência óptica. Segundo a Dra Carolina, um exame completo que mede a pressão intraocular, examina a parte do segmento anterior e o fundo do olho.

“No Vera Cruz Oftalmologia temos disponível exames para fazer de forma muito eficiente o diagnóstico e o acompanhamento da doença. Usamos um aparelho chamado Campo Visual, que mede a perda da visão do paciente e mapeia onde há dificuldade de enxergar; temos a tomografia de coerência óptica, que quantifica a perda dessas células responsáveis pela visão; a retinografia, que faz uma foto da estrutura do fundo do olho – o nervo óptico; e a paquimetria que mede a espessura da córnea”, explica.

O tratamento, definido caso a caso, tem como objetivo reduzir ou estabilizar a pressão intraocular. Na maioria das vezes, ele é bem simples e envolve a aplicação de colírios, melhorando expressivamente a qualidade de vida do paciente. Em casos mais avançados, o especialista responsável pode recomendar a aplicação de laser ou cirurgia.

“O segredo é manter os cuidados de prevenção dos olhos: além de visitar periodicamente seu oftalmologista, não usar colírios sem prescrição médica. É importante lembrar que, como muitas outras especialidades na saúde, a oftalmologia deve estar na lista de consultas periódicas para qualquer idade. Depende de cada um cuidar da própria saúde e não deixar de lado o cuidado com os olhos. Há muitas belezas na vida para perdermos a chance de vê-las”, destaca.

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