Todo mundo sabe que o excesso de gordura corporal tem impactos diretos na saúde. No entanto, as consequências podem ser ainda maiores do que se pensava e podem atingir, inclusive, a visão e causar o glaucoma, uma doença ocular que provoca alterações no nervo óptico e pode levar à cegueira irreversível.

Um estudo recente, publicado na revista Nature e realizado pelo UK Biobank Eye and Vision Consortium (entidade que reúne centros de pesquisa nos Estados Unidos e na Inglaterra) mostrou que uma taxa elevada de gordura no sangue aumenta o risco de desenvolver glaucoma primário de ângulo aberto, o glaucoma mais comum de todos.

O aumento do risco de glaucoma apontado no estudo está associado ao triglicérides, principal molécula de gordura que circula no organismo. Após uma refeição, todas as calorias são transformadas em triglicerídeos, que são então armazenados na células de gordura. A liberação ocorre quando o corpo precisa de energia para realizar as funções do dia a dia.

Entretanto, o consumo excessivo de alimentos ricos em gordura e em carboidratos pode causar um aumento do triglicérides. O uso de certos medicamentos e uma tendência genética a uma doença que causa aumento das taxas de gordura no sangue são os principais fatores de risco para taxas elevadas de triglicérides.

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Relação da gordura com o glaucoma

Segundo Maria Beatriz Guerios, oftalmologista geral e especialista em glaucoma, o estudo apontou que altas taxas de triglicérides no sangue pode deixar o sangue mais grosso. “Este aumento da viscosidade sanguínea causa elevação da pressão intraocular. Outro aspecto é que a má circulação de sangue também prejudica o nervo óptico”.

Apesar dos importantes achados deste estudo, vale salientar que a origem exata do glaucoma ainda não está totalmente esclarecida. Hoje, considera-se uma doença multifatorial, com forte componente genético associado.

“Desta forma, podemos supor que pessoas com propensão genética e expostas a fatores de risco, como altas taxas de triglicérides no sangue podem ter mais chance de desenvolver um glaucoma primário de ângulo aberto, o mais comum de todos”, comenta a especialista.

Outros fatores de risco

Há vários tipos de glaucoma, neuropatia óptica que pode levar à perda irreversível da visão. Os fatores de risco podem variar dependendo do tipo de glaucoma. Entre eles estão:

  • Idade
  • Diabetes
  • Hipertensão arterial
  • Histórico familiar da doença
  • Apneia do sono
  • Alta miopia
  • Fator racial
  • Trauma ocular

“Devido ao fato de que o glaucoma é uma das principais causas de cegueira irreversível do mundo, as pesquisas que estudam os fatores de risco são muito importantes. Vale lembrar que altas taxas de triglicérides no sangue indicam risco aumentado para doenças cardiovasculares, entre outros problemas de saúde. Portanto, cuidar da saúde em geral também pode proteger a pessoa de desenvolver um glaucoma”, finaliza Dra. Maria Beatriz.

Vitamina B3 pode melhorar função da retina nas pessoas com glaucoma

A nicotinamida, uma das formas da vitamina B3, é capaz de melhorar a função da retina em pessoas com glaucoma graças ao seu efeito neuroprotetor. Essa foi a conclusão de um estudo publicado no Clinical and Experimental Ophthalmology, divulgado em setembro de 2022.

Após 12 semanas de suplementação com a nicotinamida, a maioria dos pacientes do grupo controle apresentou melhora na função visual. Os pesquisadores descobriram ainda que os pacientes com glaucoma apresentam baixo nível sérico da nicotinamida. Ela é considerada um cofator para geração da ATP, componente essencial para o bom funcionamento das células.

“O objetivo de tratamentos com efeito neuroprotetor é reduzir a vulnerabilidade das células nervosas da retina e do nervo óptico na presença do glaucoma. Dessa maneira, esse estudo é importante na medida em que mostrou que a suplementação da nicotinamida é um recurso promissor para alcançar esse objetivo”, comenta Dra. Maria Beatriz.

Segundo ela, é importante reforçar que esta é uma terapia complementar aos tratamentos que já estão estabelecidos e baseados nas evidências científicas. “Podemos dizer que é uma descoberta relevante que traz novas perspectivas para o manejo clínico do glaucoma”, reforça Dra. Maria Beatriz.

No entanto, ela afirma que não é recomendado que as pessoas façam a suplementação por conta própria, já que a nicotinamida é uma das formas da B3 com indicação bastante específica, podendo causar efeitos colaterais dependendo da quantidade e da forma de apresentação”, finaliza a médica.

Alimentos que são fontes de vitamina B3

A vitamina B3 – niacina – inclui duas substâncias ativas: a nicotinamida e o ácido nicotínico. Além da suplementação de nicotinamida que o oftalmologista pode prescrever, é possível investir em alimentos que são ricos nessa vitamina.

Veja a lista com as principais fontes de B3:

Bife de fígado (boi)

Amendoim

Frango

Atum em conserva

Semente de gergelim

Salmão

Extrato de tomate

Combate ao envelhecimento

Outra função da nicotinamida é que ela também participa da geração das sirtuínas, proteínas que regulam o ritmo do processo de envelhecimento, popularmente chamadas de “genes da longevidade”. Todas essas substâncias estão envolvidas em sistemas complexos de reparação de ADN, metabolismo e sobrevivência celular.

“Por esses motivos, nos últimos anos a nicotinamida ganhou muita atenção pelo seu papel no envelhecimento e nas doenças neurodegenerativas. Um dos aspectos mais positivos em relação à nicotinamida é que se trata de um composto que pode ser usado com segurança, com efeitos adversos mínimos e um custo relativamente acessível”, diz a oftalmologista.

Estresse oxidativo afeta retina

O glaucoma é a principal causa de cegueira irreversível em todo mundo. Por isso, muitos estudos estão em andamento para buscar tratamentos que consigam impedir a evolução da doença e a consequente perda da visão.  Ela explica que a redução e o controle da pressão intraocular são essenciais para impedir a evolução da doença.

“O glaucoma é uma neuropatia óptica. Isso quer dizer que é uma doença que se desenvolve a partir de lesões nas células nervosas dos olhos, presentes na retina e no nervo óptico. Esses danos são resultado do aumento da pressão intraocular, na maioria dos casos”, esclarece.

Apesar de o foco do tratamento ser a redução da PIO para impedir novas lesões nas células nervosas, há muitos estudos em andamento voltados para o desenvolvimento de tratamentos com efeitos neuroprotetores também, como este com a vitamina B3.

Há evidências robustas que mostram que o estresse oxidativo representa um papel importante na degeneração da retina e na perda da visão. Por isso, terapias antioxidantes são alvos de diversas pesquisas na área do glaucoma e outras doenças que afetam a retina e o nervo óptico.

Com Assessoria

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