Em 2024 o Brasil pode ter uma das piores epidemias da história. Com base em previsões feitas com o InfoDengue, da Fiocruz, o país pode chegar a ter entre 4,2 milhões e 5 milhões de casos até o final de 2024, dado superior ao maior número registrado em 2015, ano da pior epidemia, que teve 1.688.688 casos de dengue.

Com o avanço dos casos de dengue houve um grande aumento na procura por atendimento médico em postos de saúde e na demanda por leitos de internação, resultando em uma mobilização dos serviços de saúde em todo o país. Mas ainda há muitas dúvidas em relação ao diagnóstico e tratamento, bem como a evolução da doença.

“A dengue é uma doença infecciosa e integra o grupo das arboviroses – doenças caracterizadas por serem causadas por vírus transmitidos por vetores artrópodes – sendo transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. É uma doença febril aguda e sistêmica, ela pode apresentar casos assintomáticos a graves, e se não tratada corretamente, pode levar ao óbito”, informa a Fernanda Pimentel, diretora médica da Baxter. 

dengue não tem um tratamento antiviral específico. O que se faz é repouso, muita hidratação e analgésicos para aliviar as dores. No entanto, quando o paciente evolui para os sintomas graves, um deles pode impedir a parte mais importante do restabelecimento: a hidratação do corpo. Isso porque o vômito e as dores abdominais muitas vezes impedem que o paciente tome água, nesses casos é preciso correr e buscar a hidratação via soro em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e hospitais.

De acordo com as diretrizes da Organização de Saúde Pan Americana 2022, a hidratação oral é essencial para tratar os casos de dengue. Deve ser iniciada após os primeiros sintomas (febre alta, dor de cabeça ou no fundo dos olhos, fraqueza, dor intensa no corpo ou nas juntas) para diminuir a progressão da doença para formas graves e o aparecimento de complicações.

“A ingestão de água é importante porque a doença retira o líquido de dentro dos vasos sanguíneos, o que pode comprometer a circulação, podendo ocorrer o extravasamento de plasma,”, alerta o médico intensivista Danilo Klein, gerente médico da Baxter.

Soro caseiro não pode substituir o hospitalar

A quantidade de água para cada paciente pode variar conforme o peso, o recomendado para pacientes com casos leves que receberão hidratação oral é de 60 ml/kg/dia de líquidos por quilo, ou seja, uma pessoa com 50kg deve ingerir 3 litros totais de água por dia.

Em casos de dengue grave um dos principais tratamentos são as soluções intravenosas de hidratação, como o soro hospitalar. Mas engana-se quem acha que o soro caseiro de uso oral, feito com água, açúcar e sal, pode substituí-lo e ser eficaz para a pronta recuperação do paciente nessa fase da doença.

“O soro hospitalar é um dos mais importantes medicamentos, ele não faz apenas a hidratação do paciente, como faz parte do tratamento do choque hipovolêmico, que acontece quando se perde grande quantidade de líquidos e sangue. As soluções intravenosas implicam em melhores desfechos clínicos quando usadas de forma correta por profissionais habilitados”, acrescenta o médico.

Sinais de alerta para o agravamento da doença

Quando o paciente avança para sintomas graves, é preciso hidratação via soro no hospital, pois esse é o tratamento mais importante para quem está com dengue

Os sintomas mais comuns são febre alta, geralmente 39° a 40°, dor de cabeça, prostração, dor no corpo e atrás dos olhos. Manchas vermelhas na pele também podem ocorrer. Perda do apetite, náuseas, vômitos e diarreia são outros sinais. A fase mais crítica da dengue costuma ocorrer quando a febre cessa.

Se houver dor abdominal (dor na barriga) intensa e contínua, vômitos persistentes, sangramento de mucosas ou desmaios, é preciso procurar a emergência mais próxima imediatamente, pois o quadro pode ter evoluído para dengue hemorrágica. Outros sintomas nesta fase são acúmulo de líquidos em cavidades corporais (ascite, derrame pleural, derrame pericárdico), hipotensão postural e/ou lipotimia, letargia e/ou irritabilidade.

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Foto: Ilustrativa/ Shutterstock

Flávia Cunha Gomide Capraro, médica infectologista do Hospital Sugisawa, mostra que, em geral, os sintomas são leves a moderados. “O primeiro deles, que surge abruptamente, costuma ser a febre, depois dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dores no corpo, dor abdominal, fadiga, fraqueza, manchas, erupções e coceiras na pele. Então é preciso buscar orientação médica. Também é necessário parar e fazer muito repouso e hidratação”.

Caso os sintomas se agravem é preciso voltar ao médico, para definir o acompanhamento. “Os sintomas graves da dengue são vômitos (que impedem que a pessoa se hidrate em casa), dor abdominal, confusão mental, sangramento gengival, pontinhos vermelhos na pele, entre outros. A desidratação é o problema mais grave para quem está com dengue, pois prejudica a recuperação. Mesmo que o paciente não tenha diarréia, o vômito gera desidratação moderada a severa. Nestes casos, é preciso que receba soro e acompanhamento médico no hospital”, ressalta.

Diagnósticos de dengue se multiplicaram em janeiro

No Hospital Sugisawa, em Curitiba, as suspeitas de infecções por dengue se multiplicaram em janeiro e fevereiro de 2024 e já são maiores do que a soma de diagnósticos do ano passado. Só entre junho e dezembro de 2023, o Hospital Sugisawa solicitou 146 exames para confirmação de dengue, dos quais 16 deram positivo. Já em janeiro e fevereiro (até dia 22), foram 147 solicitações de exames, dos quais 23 foram positivos para a doença.

Crédito: Arquivo – agosto de 2010 / Ministério da Saúde / via Flickr

O alerta acendeu no mês de dezembro. Até então, a média de exames solicitados era 18 por mês. Em dezembro, foram 35 solicitações e 1 confirmação. Isso depois do Sugisawa ter ficado quatro meses consecutivos sem nenhuma confirmação de dengue.

Em janeiro, a situação “explodiu”. Foram 85 solicitações de exame e 12 confirmações da doença. Ou seja, em dezembro, apenas 2,8% das suspeitas se confirmaram. Em janeiro, 14% de todas as suspeitas positivaram para dengue. E a tendência é que no fechamento dos números do mês de fevereiro a situação seja ainda mais alarmante.

Outro fato que colocou a equipe do Hospital Sugisawa em alerta máximo é que, até então, os casos de dengue atendidos no hospital, que é sediado em Curitiba, eram importados. Ou seja, o paciente foi picado pelo mosquito em outras regiões e voltou de viagem doente. Desde janeiro, casos autóctones (infecção na cidade de residência) começaram a ser atendidos no Sugisawa.

Prevenção da dengue

A infectologista Flávia Capraro ressalta que é preciso evitar toda e qualquer água parada. “A fêmea do mosquito aedes aegypti prolifera seus ovos na água parada. E é pela picada do mosquito que o ser humano é infectado. O uso de repelente também é altamente recomendado”.

A vacina está disponível na rede particular, porém com a alta procura, já está em falta em muitos locais. E na rede pública, está sendo incorporada nos sistemas de saúde.

 

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