Um estudo internacional on-line com 1.701 brasileiros com diabetes identificou que 59,5% dos entrevistados apresentaram redução nas atividades físicas, 59,4% observaram variação na glicemia e 38,4% adiaram ou cancelaram suas consultas médicas durante a pandemia.
Segundo a médica clínica e nutróloga Gisele Figueiredo Ramos, do Vera Cruz Hospital, o sedentarismo, descontrole glicêmico e a falta de acompanhamento médico adequado podem causar uma descompensação do diabetes e, consequentemente, complicações da própria doença.
Mesmo com a chegada das vacinas e a flexibilização das atividades econômicas, muitas pessoas se sentiram inseguras de retornar suas atividades cotidianas e até fazer exames periódicos, o que preocupa especialistas. A situação pode ser agravada se o paciente for infectado pelo novo coronavírus”, alerta.
Muitos brasileiros também descobriram a doença neste período. Foi o caso do empresário Victor Astini Muniz, de 35 anos, diagnosticado com diabetes tipo 2 durante a pandemia.
“Eu já estava acima do peso há uns dois anos, ganhei mais peso ainda em 2020 durante o isolamento social. Fiz um checkup e busquei acompanhamento profissional para perder peso. Não imaginava que estava com diabetes, sabia que poderia estar pré-diabético ou perto disso. Ao receber o diagnóstico, me senti um pouco frustrado por saber que eu poderia ter tomado uma atitude antes”, lamenta o paciente.

Neste dia 26 de junho é comemorado o Dia Nacional do Diabetes, uma síndrome metabólica de origem múltipla, decorrente da falta de produção de insulina pelo pâncreas, o que ocasiona valores elevados de açúcar no sangue.

Uma questão de saúde pública

Atualmente, a doença atinge 463 milhões de pessoas no mundo, segundo o Atlas de Diabetes de 2019 da Federação Internacional de Diabetes (IDF). O Brasil possui a quinta maior população afetada entre os adultos de 20 a 79 anos: são cerca de 16 milhões de diabéticos e 40 milhões de pré-diabéticos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). A estimativa da incidência da doença em 2030 é de 21,5 milhões de pessoas, fazendo com que essa enfermidade se torne uma questão de saúde pública.

O diabetes mellitus é caracterizado pela incapacidade do organismo de controlar adequadamente os níveis de glicose no sangue.  Existem diferentes tipos de diabetes, como a tipo 1 (que concentra entre 5% e 10% do total de pessoas), a diabetes tipo 2, a diabetes gestacional, sendo que a obesidade também é um fator de risco importante para ao aparecimento da doença.

Segundo a endocrinologista Jaqueline Pais, e coordenadora Médica da Clínica Médica do Hospital Icaraí, é importante o correto diagnóstico para o tratamento adequado, evitando assim as complicações crônicas.

“Geralmente o DM1 aparece em crianças e adolescentes, e o DM2 costuma aparecer após a idade de 40 anos e está mais associado à obesidade e ao envelhecimento. Porém, com a alta taxa de obesidade infantil, a diabetes tipo 2 pode ocorrer mais precocemente”, explica a endocrinologista.

Para o médico Marcelo Miranda, endocrinologista do Vera Cruz Hospital, observou-se um aumento de novos casos de diabetes durante a pandemia.  “O isolamento social agravou a falta de atividade física, o consumo excessivo de carboidratos e gorduras, de alimentos industrializados e fast food, além do maior ganho de peso. Todos esses são fatores preponderantes para o desenvolvimento de diabetes tipo 2, o mais comum, e que se relaciona com hábitos de vida”, conta o especialista.

Mas, segundo ele, estudos apontam também mais casos novos de diabetes tipo 1, que não depende desses fatores. “Acredita-se que a infecção pelo coronavírus teve um papel direto na capacidade do pâncreas em produzir insulina”, explica.

Ainda de acordo com o endocrinologista, a redução da atividade física é mais um desencadeante do diabetes, mas outro fator importante é o maior tempo parado e em frente à tela do computador e do celular, mesmo para quem conseguiu manter uma prática de exercícios físicos, o que acaba anulando parte dos benefícios da atividade física. “O ganho de peso e de gordura abdominal decorrente desses maus hábitos agrava ainda mais o risco de diabetes“, adverte.

Diabetes e a Covid-19 não são aliados

A médica clínica alerta ainda que os diabéticos compõem um grupo de risco da Covid-19. “O problema é que esse grupo possui maior risco de desenvolvimento da forma grave da doença. Eles podem precisar de internação hospitalar”, explica Gisele.
A complicação em diabéticos acontece, segundo a médica, porque o excesso de açúcar no sangue leva à alteração no sistema imunológico, predispondo a sintomas respiratórios mais exacerbados. Esses pacientes também possuem um maior risco para descompensação metabólica, de acordo com ela. Por isso, a importância de manter tratamentos contínuos.

Segundo o Atlas de 2019 da International Diabetes Federation, o Brasil tem 16.8 milhões de pessoas com diabetes, ocupando o 5º lugar no ranking mundial. A estimativa para 2045 é de 20 milhões. E inevitavelmente, por conta de todo efeito que a doença causa no sistema imunológico e processo inflamatório, pessoas com diabetes estão sempre no grupo de risco de pandemias e infecções virais, como é o caso da Covid-19.

“Pessoas com diabetes e obesidade, que geralmente estão associadas, foram as mais predispostas à forma grave e mortalidade por Covid-19, independentemente da idade. O binômio ‘diabesidade’ é a real pandemia do século e se não tratada adequadamente serão sempre as mais suscetíveis em pandemias futuras” explica o coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Ricardo Cohen.

Em um estudo publicado na SOARD (Surgery for Obesity and Related Diseases) em janeiro deste ano, envolvendo 339 pacientes infectados pelo coronavírus que foram hospitalizados em Wenzhou, na China, a presença de diabetes foi associada a um risco cerca de quatro vezes maior da forma grave de Covid-19. Durante a pandemia de gripe H1N1, a obesidade e o diabetes também foram diretamente relacionados com maior mortalidade pela infecção.

“No Brasil, essas doenças sozinhas já são responsáveis por mais de 70% das mortes, principalmente por causas cardiovasculares, como infartos e derrames. O que observamos é que enfrentamos essas duas epidemias há décadas, sem grandes estratégias para combatê-las”, diz o médico.

Médicos, instituições e a Organização Mundial da Saúde apontam a preocupação com o controle de doenças crônicas e progressivas, enquanto o mundo ainda enfrenta a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus.

“Muitos casos podem ter se agravado ainda mais durante o isolamento social. É importante salientar que estamos falando de uma doença silenciosa, podendo levar anos para manifestar sintomas, e as pessoas não devem negligenciar sua saúde. Além do uso correto das medicações já prescritas, o retorno ao médico é fundamental para ajustes necessários, a fim de manter a doença sob controle”, comenta a endocrinologista Tarissa Petry, do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão.

Com Assessorias

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