O protetor solar é uma prescrição universal no mundo da Dermatologia. Capaz de proteger a pele dos efeitos nocivos dos raios UV, que incluem fotoenvelhecimento e manchas, esse produto também é indicado para minimizar o risco do câncer de pele. Mas por que será que a maior adesão ao uso desse produto não está freando as taxas de melanoma e outros tumores de pele? E como a incidência desse tipo de câncer está aumentando, o que há de errado?
Em estudo recente, publicado na revista Cancers, pesquisadores descobriram que os canadenses que vivem na Nova Escócia e na Ilha do Príncipe Eduardo – províncias com altas taxas de incidência de câncer de pele do tipo melanoma, o mais agressivo – eram mais propensos a relatar o uso de proteção solar, mais conscientes dos riscos da exposição ao sol para a saúde e mais aptos a seguir as recomendações de fotoproteção. Isso foi denominado como “o paradoxo do protetor solar’.
“As pessoas estão aderindo ao uso do produto e isso é ótimo. Mas elas estão pensando que o protetor solar dá uma autorização para passar horas em exposição direta ao sol. Em muitos casos, elas sequer reaplicam o produto”, explica Danilo S. Talarico, médico pós-graduado em Dermatologia Clínico-Cirúrgica e professor nos cursos de Dermatologia, Tricologia, Transplante Capilar (Cirurgia Capilar) e Medicina Estética.
Erros de interpretação no estudo
Ele salienta que dados do aumento de casos de câncer, mesmo com um número maior de pessoas usando o protetor solar, não descredibilizam o produto.
“Esses dados de forma alguma devem desencorajar o uso do protetor solar e também não colocam em risco e nem descredibilizam sua eficácia. Mas servem de alerta para mostrar que outras medidas além do protetor solar são necessárias”, alerta o médico.
O estudo mostra que há erros interpretativos por parte da maioria das pessoas. A pesquisa mostrou que indivíduos com níveis mais elevados de exposição solar também tendem a usar mais, mas não uma quantidade adequada de protetor solar ou outras medidas de proteção solar, proporcionando outra falsa sensação de segurança.
Ondas de calor e atividades ao ar livre
Apesar de usar mais protetores solares, eles também receberam mais exposição solar devido às temperaturas mais quentes – com as recentes ondas de calor causadas pelas mudanças climáticas – e à tendência cada vez mais frequente de se praticar atividades ao ar livre.
“Além disso, temos outras três possíveis razões: uma predominância de ocupações ao ar livre que envolvem níveis mais elevados de exposição solar; uma cultura de envolvimento em hobbies/atividades ao ar livre; e temperaturas mais quentes aumentando a exposição aos raios UV”, explica o médico.
Segundo o Dr. Danilo, é necessário ter moderação na hora de se expor ao sol. “As pessoas podem e devem aproveitar o ar livre, mas sem se queimar ou bronzear. Para isso, o uso do protetor solar é indicado”.
Ainda segundo o especialista, o protetor deve ser um produto com, no mínimo, fator de proteção solar (FPS) 30 e que deve ser reaplicado a cada duas horas – e a cada saída do mar. “Acessórios como bonés, chapéus, óculos, roupas de proteção UV também devem ser usados. Mas, o mais importante, é evitar a exposição direta demasiada”, finaliza o Dr. Danilo.
Segundo ele, mesmo que tenha alta eficácia, protetor solar não é uma autorização para ficar horas em exposição direta. Portanto, proteger-se do sol e criar outras medidas de prevenção, como uso de roupas e acessórios, também é válido.
“No geral, os pacientes não aplicam protetor solar suficiente ou ficam ao sol por horas após a aplicação do protetor solar pela manhã. Isso confere uma falsa sensação de segurança”, ressalta.
Números do câncer de pele no Brasil
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), no Brasil, o número de casos novos de câncer de pele não melanoma estimados, para cada ano do triênio de 2023 a 2025, é de 220.490, e as mulheres são as maiores vítimas (118.570 casos).
O câncer de pele não melanoma é o mais frequente no país. Em homens, é mais incidente nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste. Quanto às mulheres, o câncer de pele não melanoma é mais incidente em todas as Regiões brasileiras.
Já o melanoma, o tipo de câncer de pele mais mortal, é uma forma de tumor cutâneo que pode ser prevenido limitando a exposição ao sol. O número de casos novos estimados, segundo o Inca, é de 8.980, mas, com relação ao melanoma, os homens são as principais vítimas (4.640).