Cigarro representa risco não somente para o câncer de pulmão

Além do câncer de pulmão, um dos mais agressivos e letais, tabaco é risco potencial para doenças cardiovasculares e câncer de bexiga

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Estudos científicos apontam que produtos como cigarro, cachimbo, charutos, entre outros, possuem mais de 4.700 substâncias tóxicas, entre elas a nicotina, que leva à dependência química. Essas substâncias inaladas pelo fumante estão relacionadas a mais de 50 diferentes enfermidades, entre elas vários tipos de câncer, como os de pulmão, laringe, estômago, pâncreas, fígado, além de doenças respiratórias e cardiovasculares.

O Dia Mundial sem Tabaco, celebrado no último dia 31, acende o alerta sobre doenças e mortes relacionadas ao tabagismo que é responsável por cerca de 90% das mortes por câncer de pulmão. Além disso, o cigarro pode provocar doenças cardiovasculares e acumular placas de gordura, cálcio e outras substâncias nas artérias, ocasionando maior risco de AVC (Acidente Vascular Cerebral).

A Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP) reconhece a necessidade de abordar os perigos do tabagismo, a fim de promover uma sociedade livre do fumo e das doenças que ele provoca, e destaca a importância da união de diversas especialidades médicas para disseminar informações sobre os danos causados por este vício.

Dentre os malefícios decorrentes do ato de fumar, as alterações cardiovasculares ocupam lugar de destaque. Alguns efeitos prejudiciais do tabagismo envolvem o desenvolvimento de placas gordurosas, cálcio e outras substâncias na superfície interna das paredes arteriais.

Com o passar do tempo, o crescimento dessas placas podem entupir ou romper a artérias e migrar por meio dos vasos e, como consequência, gerar complicações graves, como infarto, AVC, trombose e até mesmo a necessidade de amputação de membros.

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Tabagistas têm mais chance de desenvolver coágulos

Conforme o angiologista, cirurgião vascular e diretor da SBACV-SP, Júlio César Gomes Giusti, a camada interna dos vasos sanguíneos é representada pelo endotélio, que é considerado um órgão regulatório de grande importância na manutenção da integridade vascular e, além de modular o tônus desses vasos, também estabiliza os mecanismos inflamatórios e imunológicos dos mesmos. O tabagismo pode provocar um funcionamento inadequado do endotélio vascular, envolvendo principalmente o óxido nítrico, e desregular o relaxamento e a contração desses vasos.

Este desequilíbrio desencadeia um processo inicial de aterosclerose, caracterizado pela inflamação e formação de placas de gordura nas paredes dos vasos sanguíneos. Essa condição é responsável por doenças graves, como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, embolia pulmonar, obstrução das artérias das pernas e até mesmo aneurismas

Fumantes têm uma probabilidade muito maior de desenvolver coágulos sanguíneos, especialmente quando relacionados a outros fatores de risco, como obesidade, diabetes, hipertensão e doenças cardíacas.

Para pacientes fumantes que já possuem comorbidades, é fundamental contar com uma abordagem multidisciplinar, que envolve especialistas como angiologistas, cardiologistas, nutricionistas, psicólogos e outras áreas relevantes. Essa equipe de profissionais pode oferecer orientações sobre os distúrbios causados pelo tabaco, já que diversas condições de saúde estão relacionadas a sistemas e órgãos do corpo humano de forma interligada.

Conforme a cardiologista, nutróloga e culinary coach Karla Gouvea, o hábito de fumar leva ao aumento de substâncias como epinefrina e norepinefrina, que levam a uma aceleração dos batimentos do coração, da velocidade da passagem do sangue e, ao mesmo tempo, o estreitamento desses vasos dificulta o caminho do fluxo.

Todo esse processo está relacionado à hipertensão arterial sistêmica, além de graves complicações.  O tabagismo causa a inflamação do tecido que cobre as artérias pela parte interna, podendo provocar também um desequilíbrio neste processo de tônus pressórico.

Risco para pessoas de todas as idades

O tabaco representa um grave risco para a saúde de pessoas de todas as idades. Segundo a Dra. Karla, cerca de 40% dos adolescentes experimentam o cigarro, e desse grupo, 8% acabam desenvolvendo o hábito de fumar. A nicotina é altamente viciante, e muitos indivíduos se tornam dependentes após alguns dias ou semanas de uso.

Apenas 44% dos jovens conseguem resistir ao cigarro, e possuem uma maior propensão para desenvolver dependência em comparação com os adultos. A falta de uma decisão firme de não fumar e a desinformação sobre as consequências são fatores-chave que levam os jovens a experimentar o cigarro. “É essencial destacar que todo adolescente que usa cigarros, narguilés ou dispositivos de fumo eletrônicos está sujeito a diversos riscos relacionados à saúde” afirma a Dra. Karla.

A médica ainda ressalta que os fumantes passivos, expostos por longos períodos à fumaça do tabaco, absorvem em média três vezes mais nicotina, três vezes mais monóxido de carbono e até 50 vezes mais substâncias cancerígenas do que os fumantes ativos. Essa exposição pode resultar em uma série de problemas, desde reações alérgicas como rinite, tosse e conjuntivite, além do agravamento da asma em curto prazo, até doenças graves como câncer de pulmão, doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema pulmonar e bronquite crônica) e outras patologias sérias.

Câncer de pulmão tem alta letalidade no Brasil

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Chances de desenvolver câncer chega a 30 vezes mais entre pessoas que fumam (Foto: Reprodução de Internet)

O câncer de pulmão tem sinais inespecíficos e frequentemente confundidos com outras patologias pulmonares. Os sintomas mais característicos do tumor são: tosse persistente, escarro com sangue, dor no peito, rouquidão, falta de ar, perda de peso e de apetite, pneumonia recorrente ou bronquite, cansaço ou fraqueza. Ele é um dos tipos que mais leva à morte de pacientes no Brasil.

Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), em 2020, a doença vitimou cerca de 29 mil homens e mulheres — uma taxa de morte elevada em comparação ao número de diagnósticos da doença: 30 mil novos casos ao ano.

Segundo o Observatório do Câncer, um registro inédito do A.C.Camargo Cancer Center que reúne dados minuciosos dos casos de câncer tratados na instituição entre os anos 2000 e 2020, o câncer de pulmão está entre as dez neoplasias malignas mais comuns, tanto no sexo feminino quanto no masculino. Ao todo, foram 3.582 casos registrados.

Na maioria dos casos, os sintomas do câncer de pulmão aparecem apenas quando a doença já está avançada. A descoberta tardia reduz significativamente a chance de cura da doença e o tempo de vida do paciente. Quando o tumor é identificado em estágio avançado, apenas 18% das pessoas sobrevivem por 5 anos ou mais.

Se for diagnosticado em estágio inicial, a taxa de sobrevida em cinco anos sobe significativamente, alcançando 56%. Mas a minoria dos casos é diagnosticada em fase inicial.

Apesar de ser uma doença agressiva e um dos mais letais, o câncer de pulmão é uma doença evitável: 90% dos casos estão associados ao tabaco. Mesmo quem não fuma, mas convive com um tabagista, tem o risco de desenvolvimento de câncer de pulmão elevado: 30% a naus na comparação com uma pessoa que não seja fumante passivo

E atualmente existem recursos para o tratamento. Ainda de acordo com o Observatório do Câncer, foi identificado um aumento significativo da sobrevida global em 5 anos nos casos da doença tratados no A.C.Camargo. Conforme a instituição, nos primeiros quatro anos da pesquisa (2000-2004), a sobrevida nos homens era de 10,4%. Já nos anos finais (2015-2017), esse valor foi para 51,1%. Para as mulheres também houve acréscimo, a sobrevida inicial era de 18,8% e chegou a 59%.

Tabagismo também está associado ao câncer de bexiga

Por mais que muitos remetam o consumo de cigarro somente ao câncer de pulmão, o tabagismo pode ser um fator de risco para outras doenças, como o câncer de bexiga e está associado à doença em 50% a 70% dos casos.

Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) há estimativas de 11.370 casos de câncer de bexiga diagnosticados no Brasil, sendo 7.870 em homens e 3.500 em mulheres. Nesse tipo de neoplasia, parte das células do órgão começam a crescer e a se multiplicar de forma desordenada, criando tumores que podem invadir órgãos vizinhos.

“O tabagismo é um fator de risco importante para o desenvolvimento do câncer da bexiga, mas um fator evitável”, explica Diogo Rosa, oncologista do Grupo Oncoclínicas. “Sabemos que há mais de 60 substâncias cancerígenas no cigarro. As pessoas que fumam têm uma tendência maior a desenvolver o câncer e quando o desenvolvem tende a ser mais agressivo”.

Para o oncologista, o ideal é que o paciente pare de fumar assim que possível, e ressalta que uma pessoa que opta por parar de fumar tem uma chance menor de desenvolver câncer de bexiga, mas nunca deixa de ser igual àquela pessoa que nunca fumou.

Além do tabagismo, homens brancos e mais velhos integram o grupo de maior probabilidade de desenvolver esse tipo de câncer, além de pessoas expostas a componentes químicos como azocorantes, benzeno e benzidina, poeira de metais e agrotóxicos.

Entre os principais sintomas, o sangue na urina (hematúria) é o primeiro sinal de alerta do câncer de bexiga. Esse sangue pode ser visto a olho nu ou apenas detectado em exame de urina.

“Também pode haver obstrução urinária, muitas vezes causada por um coágulo dentro da bexiga, impossibilitando o paciente de urinar, o que pode ocasionar dor significativa. Outros sintomas como perda de peso, dores ósseas, fraqueza, podem estar associados a uma doença mais avançada já quando tem, eventualmente, acometimento de outros órgãos”, destaca Rosa.

A prevenção da doença consiste em hábitos saudáveis, evitando o tabagismo e se protegendo de riscos ocupacionais. “Se há um histórico familiar ou até mesmo uma síndrome genética é importante procurar um oncologista para que o acompanhamento seja feito”, finaliza o especialista.

Vapes ou pods preocupam especialistas

Estima-se que o tabaco seja responsável, anualmente, por mais de 8 milhões de mortes, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Não só isso, o hábito também é responsável por 25% de todas as mortes por câncer no mundo, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

Conforme a OMS, a epidemia da substância é uma das maiores ameaças à saúde pública que o mundo já enfrentou e é responsável pela morte de mais de 8 milhões de pessoas por ano. Dessas, mais de 7 milhões resultam do uso direto do produto e cerca de 1,2 milhão é resultado de não-fumantes expostos ao fumo passivo.

Todos os anos o Dia Mundial Sem Tabaco é promovido em 31 de maio, com o objetivo de alertar sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo. A data reforça a necessidade da conscientização sobre os danos causados por qualquer forma de tabagismo e a importância de preservar vidas.

As campanhas e a legislação antifumo têm tido impacto positivo no Brasil, que segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), reduziu o número de fumantes em 40%. Porém, o futuro ainda é um desafio e os novos modelos do uso de nicotina, como os vapes ou “pods”, preocupam os especialistas.

Para Jefferson Luiz Gross, líder do Centro de Referência em Tumores de Pulmão e Tórax A.C.Camargo Cancer Center, é preciso traçar um paralelo entre a história do cigarro comum e a do eletrônico.

“Nas primeiras décadas do século XX, os médicos recomendavam o tabaco para tratar ansiedade e depressão, por exemplo. Em curto prazo, não havia tantos efeitos. Demorou cerca de 40 anos, mais ou menos, para conhecer a dimensão dos problemas causados pelo cigarro”, explica.

Da mesma forma, o impacto real dos cigarros eletrônicos somente será visto de forma concreta a longo prazo. Porém, alguns dados já alertam sobre os danos provocados nos usuários: o vapor com nicotina do aparelho pode produzir formaldeído, substância que o torna de 5 a 15 vezes mais cancerígeno que o cigarro comum.

Para aqueles que buscam no vape uma forma de parar de fumar, o Dr. Jefferson Luiz Gross reforça que há outras maneiras mais seguras de auxiliar no combate ao vício. “O adesivo de nicotina, a goma de mascar e o spray nasal, associados a medicamentos e acompanhamento médico, são formas seguras e recomendadas para ajudar no combate ao tabagismo”, defende.

Vale reforçar que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determina que a comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar são proibidas no Brasil.

Epidemia do tabaco

O tabagismo é uma doença crônica resultante da dependência à nicotina, uma substância presente em diversos produtos que possuem tabaco em sua composição. O uso contínuo tem um impacto negativo na saúde e pode acarretar em uma série de problemas e doenças tanto para o usuário quanto para as pessoas que fazem parte do seu convívio social.

Para 2023, a campanha contra o tabagismo, tem como tema “Cultive alimentos, não tabaco”. O objetivo é incentivar os governos a acabar com os subsídios para o cultivo do tabaco e usar esses recursos para ajudar os agricultores a mudar para culturas mais sustentáveis que melhoram a segurança alimentar e a nutrição.

Desde o final da década de 1980, a gestão e governança do controle do tabagismo no Brasil vêm sendo articuladas pelo Ministério da Saúde por meio do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o que inclui um conjunto de ações nacionais que compõem o Programa Nacional de Controle do Tabagismo.

O Programa tem como objetivo reduzir a prevalência de fumantes e a consequente mortalidade relacionada ao consumo de derivados de tabaco no Brasil, potencializando ações educativas, de comunicação, de atenção à saúde, junto com o apoio à adoção ou cumprimento de medidas legislativas e econômicas para prevenir a iniciação do tabagismo, principalmente entre crianças, adolescentes e jovens.

Com Assessorias

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