A jornalista e modelo Lygia Fazio, de 40 anos, não resistiu a um AVC (acidente vascular cerebral) que sofreu há cerca de um mês, quando passava por procedimentos para retirada de PMMA aplicado nos glúteos, que acabou se espalhando pelo corpo, causando várias infecções. Desde o ano passado, ela tratava as sequelas de complicações que o uso de silicone líquido provocou no seu organismo.
Familiares e amigos lamentam a morte e contam a luta de Lygia para reverter a aplicação do produto realizada há 3 anos. A amiga e jornalista Meiri Borges relata que Lygia se preocupava com a beleza, como todas as mulheres, e mesmo após negativa de aplicação pelos médicos, injetou o PMMA em local clandestino, o que classifica como uma bomba-relógio na vida da amiga.
O PMMA – ou polimetilmetacrilato – é um material sintético e, de acordo com a cirurgiã plástica Patrícia Marques, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, só pode ser utilizado em casos específicos e em pequenas quantidades.
No Brasil, o PMMA para preenchimento subcutâneo precisa ser registrado na Anvisa, pois é um produto de uso em saúde da classe IV (máximo risco), mesmo assim, a substância atrai cada vez mais mulheres pela proposta de resultados instantâneos.
Composto por microesferas de um material muito parecido com um plástico acrílico, o PMMA se espalha pelo tecido da região após ser aplicado.
“O PMMA é bastante procurado por não ser absorvido pelo corpo, mas pode causar reações imprevisíveis a longo prazo. Ele ‘endurece’ no local aplicado e pode causar complicações com sequelas irreversíveis, como infecções crônicas e deformidades”, alerta a cirurgiã.
A especialista explica que uma vez injetado, o PMMA se espalha pelo tecido e não pode ser facilmente retirado, diferente de uma prótese de silicone, que pode ser removida a qualquer momento ou a aplicação do ácido hialurônico, que também é um tipo de preenchimento com muito mais segurança.
Alternativas melhores
Patrícia Marques esclarece que a bioplastia, também conhecida como plástica sem bisturi, é um procedimento não cirúrgico que utiliza substâncias de preenchimento – como o polimetilmetacrilato (PMMA) – para remodelar áreas da face e do corpo, mas não é a técnica mais segura para dar volume em qualquer parte do corpo.
As próteses de silicone e a lipoenxertia com a transferência da gordura para a região onde se deseja mais volume são as cirurgias mais indicadas. O PMMA nunca pode ser utilizado como um substituto do silicone, principalmente em pacientes que buscam a técnica para aplicação nos glúteos, como foi o caso de Lygia, porque a dose utilizada nessa região precisa ser grande, bem maior que a de um simples preenchimento.
Uso de silicone industrial é problema de saúde pública, diz cirurgião
Médico orienta sobre riscos e cuidados que a população deve ter ao fazer uma bioplastia
As chamadas bioplastias genéricas, que criminosamente usam silicone industrial líquido em procedimentos para aumentar o volume de glúteos, mamas e coxas, devem ser tratadas como problema de saúde pública no Brasil. O alerta é do cirurgião plástico e presidente da Associação Brasileira de Médicos com Expertise em Pós-Graduação (Abramepo), Eduardo Costa Teixeira.
O médico, que é professor titular da Escola de Medicina e Cirurgia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), estuda e trata sequelas decorrentes dos implantes ilegais de silicone industrial no Hospital Universitário Gaffrée Guinle (HUGG), no Rio de Janeiro.
“O uso descontrolado dessa substância, que é proibida pela Anvisa e até considerada crime, está aumentando a procura por tratamento em consultórios médicos e nos serviços públicos e vem causando cada vez mais mortes e sequelas graves”, reforça o médico.
Segundo Teixeira, as intervenções ilegais vêm sendo feitas em clínicas clandestinas, salões de beleza, academias e até em quartos improvisados por pessoas que não são da área da saúde, sem qualquer tipo de treinamento. A prática é ilegal e configura crime contra a saúde pública. Quem aplica a substância pode responder pelos crimes de exercício ilegal da medicina, curandeirismo e lesão corporal.
Estudo de casos
O cirurgião estudou o atendimento a 68 pacientes que procuraram o hospital para tratar as sequelas de procedimentos ilegais. Em 43 casos, a infecção precisou ser tratada com cirurgias para drenagem do silicone.
“Em 5 casos, foram necessárias intervenções mais amplas, com remoção de tecido. Uma paciente teve infecção no pós-operatório, que evoluiu para infecção generalizada, e precisou ser internada na UTI”, comenta.
Confira dicas para quem quer aumentar glúteos de forma segura
O silicone industrial, que é indicado para limpeza de carros e impermeabilização de azulejos, causa danos extensos porque se espalha pelo corpo e é impossível de ser retirado completamente.
“O produto provoca deformações, dores, infecção generalizada, embolia pulmonar e, muitas vezes, morte. Estamos falando de um produto potencialmente letal que vem sendo aplicado em espaços clandestinos de forma livre. O pior é que isso acontece sem que haja qualquer resistência por parte dos órgãos que deveriam fiscalizar e impedir essa prática”, comenta.
O uso de silicone líquido é feito para substituir erroneamente o PMMA (polimetilmetacrilato), produto autorizado pela Anvisa, desde que seja aplicado por profissionais médicos treinados.
“O grande problema é que as chamadas ‘bombadeiras’ oferecem procedimentos que chegam a custar até 10 vezes menos que a bioplastia feita por profissionais de saúde em clínicas regularizadas e utilizando a matéria-prima adequada, que é o PMMA. Essa diferença no preço ocorre justamente porque o silicone é muito mais barato que o material seguro”, explica o cirurgião.
Atenção ao registro da Anvisa
O especialista lembra que as complicações em pacientes que utilizam o silicone líquido industrial são constantemente divulgadas pela imprensa.
“É preciso que tanto o governo quanto entidades médicas fiscalizem com maior rigor essa prática. Precisamos de campanhas informativas para alertar as pessoas sobre o risco de usar o silicone líquido, orientando sobre as medidas de segurança para fazer esses tipos de tratamentos”, comenta o médico.
O cirurgião alerta que todos os produtos usados em procedimentos médicos e estéticos no Brasil devem ter o registro na Anvisa, que faz uma análise técnica de eficácia e segurança.
A Anvisa orienta que o produto só pode ser administrado por profissionais treinados. Para cada paciente, o médico deve determinar as doses e o número de injeções necessárias, dependendo das características de cada paciente, das áreas a serem tratadas e do tipo de indicação.
A agência também esclarece que o produto não é contraindicado para aplicação nos glúteos para fins corretivos, porém, não há indicação para aumento de volume, seja corporal ou facial.
A importância do profissional habilitado
Teixeira reforça que o paciente que quer fazer um procedimento desses deve procurar um médico capacitado, com referência e se certificar de que o material utilizado seja o PMMA.
“Muita gente pode dizer que usa o PMMA, mas utiliza o silicone líquido. O PMMA é leitoso, não é incolor. Outra dica é levar um acompanhante para se certificar do produto que está sendo usado e, principalmente, desconfiar de preços muitos mais baixos. A economia, neste caso, pode custar a vida”, ressalta o médico.
Patrícia também alerta: “Cabe sempre consultar um profissional médico credenciado e responsável para avaliar a aplicação de acordo com a correção a ser realizada e as orientações técnicas de uso do produto”.
Palavra de Especialista
Os riscos da moda de aumentar o bumbum
Por Josué Montedonio*
A maioria das mulheres deseja um bumbum maior e mais empinado. Na busca pelo resultado perfeito, muitas vezes acaba optando por procedimentos que terão sequelas permanentes e o que era sonho passa a ser pesadelo. Quando a combinação de dieta e exercícios não atinge o objetivo esperado, alguns procedimentos podem ajudar a conquistar o bumbum turbinado.
O “Brazilian butt lift” ou aumento glúteo está em moda no mundo todo e para isso pode-se fazer o preenchimento com gordura ou colocar próteses. Para aumento com gordura, dependemos de uma área doadora suficiente para um preenchimento adequado. Associado com a lipoaspiraçãoo, além do aumento, consegue-se um contorno harmônico e gracioso da região.
Quando o paciente não dispõe dessa gordura, podemos optar pela próteses de silicone. As próteses são colocadas através de um pequeno corte no sulco intergluteo (dobrinha que separa os dois lados) e posicionadas dentro da musculatura para ficarem protegidas. A promessa de resultados milagrosos, rápidos, baratos deve ser sempre olhado de forma cautelosa”, explica.
Mas alguns “profissionais” oferecem opções de preenchimento com silicone liquido, metacril (PMMA) ou outros materiais não absorvíveis pelo organismo, a chamada bioplastia, que provoca, em grande parte dos casos, resultados desastrosos. Isso acontece porque o organismo não consegue absorver o PMMA. Ele entra como um gel e logo depois endurece. Ocorre uma reação inflamatória, e em muitos casos há necrose dos tecidos. O produto pode ainda migrar para outras áreas do corpo e provocar graves deformações.
Na duvida de qual melhor opção no seu caso, procure um cirurgião plástico credenciado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
* Cirurgião plástico e membro da American Society of Plastic Surger e da International Confederation for Plastic, Reconstructive, and Aesthetic Surgery.
Com Assessorias
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