Por Andrea Ladislau*

Férias é tempo de brincar à vontade. Mas algumas brincadeiras, ditas como inocentes, nem sempre são tão inocentes assim. Comprova-se isso quando pensamos em nossas crianças e em insinuações do tipo: “Que lindos!!! São namoradinhos”. Típicas brincadeiras que fomentam a “adultização” de nossos pequenos.

Isto porque a infância é conhecida como o período da inocência e quando crianças não compreendemos o mundo a nossa volta como os adultos, pois estamos em fases distintas, cognitivamente falando. Portanto, existe uma sensibilização enorme no que diz respeito a promover a aceleração destes estágios de desenvolvimento.

infância necessita de um olhar um pouco mais cuidadoso, mas às vezes, ao lidarmos com nossas próprias crianças esquecemos de que um dia vivenciamos aquele período e acabamos por projetar nelas comportamentos nossos, de adultos. Um desses comportamentos é o namoro, algo intrinsicamente adulto que atribuímos a criança como se fosse algo normal.

Mas vamos pensar juntos, qual o maior problema disso?

A grande questão é que o desenvolvimento é pautado por etapas, cada etapa possui o seu nível de importância para um desenvolvimento saudável. E quando atribuímos a uma criança o ato de namorar, estamos precocemente “adultizando” uma fase que não deveria ser “adultizada”.

O resultado é que, quando uma criança fala que namora, ela imita um comportamento que vê em casa ou na sociedade a sua volta, sem compreender o que aquele comportamento significa. O perigo encontrado ao incentivar o namoro de crianças é o encurtamento da infância e a sexualização precoce. Esse encurtamento acontece quando se leva ao universo infantil um conteúdo (o namoro) que pertence ao universo do adolescente e do adulto.

Ou seja, assim como os marcos do desenvolvimento infantil e outras diversas situações do universo das crianças, não existe nenhum manual ou regra que determine qual a idade certa para começar a namorar. No entanto, não devemos romantizar o crescimento precoce.

A compreensão do sentimento amoroso e do desejo sexual é algo do mundo adulto, pois, por mais que a sexualidade esteja presente desde o nascimento, a criança ainda não entende sua complexidade. Ela busca o outro pelo desejo de contato humano, e olhar isso através da ótica da erotização.

É algo provocado pelos adultos e que as empurra para um tipo de interação para qual ainda não estão preparadas e que pode lhes causar muita angústia.

Psicanalista alerta para os riscos da adultização e erotização infantil (Foto: Reprodução de internet)

O que a família pode fazer?

Mas e se a criança um dia chegar em casa dizendo que têm um namoradinho, o que fazer?

Nosso papel como pais, responsáveis e educadores é explicar que namoro é coisa de adulto e que as crianças possuem amigos e colegas. Lembre-se que a criança não tem maturidade para compreender o que significa namoro e por isso não deve ser estimulada a tanto.

É importante que ela receba a orientação de que, certas coisas, só poderá fazer quando “crescer”. Respeitando suas etapas e períodos de crescimento.

Portanto, apesar de termos evidências de que a erotização da infância acontece hoje com uma naturalidade assustadora, não podemos nos omitir ao dever de educar e orientar a criança, abominando atos que possam roubar a inocência.

Afinal, criança feliz é aquela que vive a infância sendo criança e que completa em sua plenitude, todas as etapas de seu desenvolvimento infantil.

Andrea Ladislau, doutora em Psicanálise Contemporânea (Foto: Pedro Costa)

*Andrea Ladislau é pós-graduada em Administração Hospitalar e Psicanálise e doutora em Psicanálise Contemporânea. Possui especialização em Psicopedagogia e Inclusão Digital. É também graduada em Letras e Administração de Empresas, palestrante, membro da Academia Fluminense de Letras e escreve para diversos veículos. Na pandemia, criou no Whatsapp o grupo Reflexões Positivas, para apoio emocional de pessoas do Brasil inteiro.

Contatos: Instagram: @dra.andrealadislau / Telefone: (21) 96804-9353 (Whatsapp)

Andrea Ladislau colabora para a seção Palavra de Especialista toda quarta-feira. Dúvidas e sugestões para palavradeespecialista@vidaeacao.com.br.

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