No Dia Mundial de Combate à Meningite, em 5 de outubro, cresce a urgência de reforçar a conscientização sobre a gravidade e a alta letalidade da doença — que é prevenível por vacinação. Entre 2010 e 2024, o Brasil registrou mais de 233 mil casos confirmados e 22.504 óbitos. Apenas em 2024, foram mais de 900 mortes, em sua maioria decorrentes das formas bacterianas da doença, que apresentam maior taxa de letalidade.

De acordo com o painel epidemiológico do Ministério da Saúde, nos últimos dois anos (2023 e 2024) foram registrados 1.551 casos de doença meningocócica no Brasil, que resultaram em 333 óbitos. Em média, foram 60 casos por mês em 2023 e 68 casos por mês em 2024. Somente em 2025, até setembro, já são 696 casos e 131 mortes, com uma média de 79 casos mensais, o que indica aceleração no ritmo de notificações da doença com relação ao último ano.

meningite é uma inflamação das meninges, que são as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, podendo ser causada por vírus, fungos ou bactérias. As formas bacterianas em geral são as mais graves e exigem atendimento imediato. Entre elas, a meningite meningocócica, provocada pela bactéria Neisseria meningitidis, também chamada de meningococo, é uma das mais preocupantes por sua rápida evolução e alta letalidade.

Os dados reforçam a gravidade da infecção: A taxa de letalidade da doença meningocócica invasiva (DMI) no mundo é de 10%. No Brasil chegou a 22% em 2024. Entre os sobreviventes, de 10% a 20% enfrentam sequelas graves, como amputações, perda auditiva ou comprometimento neurológico.

Brasil quer erradicar a meningite até 2030

O Dia Mundial de Combate à Meningite busca conscientizar a população e os profissionais de saúde sobre a gravidade da doença, suas formas de prevenção e a importância de diagnósticos ágeis e precisos. Para enfrentar o avanço da doença até 2030, o Ministério da Saúde instituiu em 2024 o ao Plano Nacional de Erradicação das Meningites.

O programa estabelece diretrizes em cinco pilares essenciais: prevenção e controle de epidemias; diagnóstico e tratamento; vigilância epidemiológica; apoio e assistência às pessoas afetadas; e comunicação e engajamento da sociedade.

A estratégia está alinhada às metas regionais e globais da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), orientando ações coordenadas nas três esferas de gestão do SUS para fortalecer as Redes de Atenção à Saúde (RAS), as vigilâncias epidemiológica e laboratorial, a imunização e a comunicação. O objetivo final é reduzir drasticamente a ocorrência e os óbitos por meningites bacterianas imunopreveníveis em todo o país.

A importância do diagnóstico preciso para salvar vidas

Um dos grandes desafios da meningite meningocócica é o diagnóstico precoce. Os primeiros sintomas, como febre, irritabilidade, dor de cabeça e náusea, são facilmente confundidos com outras infecções comuns, como a gripe.

Mas a evolução é rápida, e quando surgem manchas roxas na pele, rigidez na nuca ou sensibilidade à luz, o quadro já pode estar avançado”, alerta Ana Medina, farmacêutica, imunologista e gerente médica de vacinas da GSK.

A transmissão também é um desafio: assim como acontece com outras doenças respiratórias, o meningococo se espalha facilmente de pessoa para pessoa por gotículas e secreções respiratórias, em situações comuns como tosses, espirros, beijos ou compartilhamento de objetos como copos.

Todo mundo está em risco: ‘Aos 18 anos, a gente se sente invencível’

Todos podem contrair a doença. O principal fator de risco é a idade. Os menores de um ano de vida são os mais acometidos pela doença, com as maiores incidências. Além disso, adolescentes e jovens adultos também estão expostos. Até 23% deste grupo pode carregar a bactéria sem apresentar sintomas, sendo chamados de portadores assintomáticos. Esse grupo, além de poder ser acometido pela doença, é o principal transmissor da bactéria.

Foi o que aconteceu com Pedro Pimenta, que contraiu meningite meningocócica aos 18 anos: “A princípio, nas primeiras horas de sintomas eu achei que fosse apenas uma gripe forte, mas em poucas horas estava em coma na UTI, com apenas 1% de chance de sobreviver. A doença avançou tão rápido que precisei passar por amputações nos braços e nas pernas para continuar vivo”.

Aos 18 anos, a gente se sente invencível, e eu era um dos mais saudáveis da turma. É uma coisa que a gente não espera e que pode acometer qualquer pessoa. E essa doença evolui muito rápido, é gravíssima e altamente letal. Ou seja, é um milagre estar vivo. Mas ninguém precisa passar pelo que eu passei. É muito importante que as pessoas se conscientizem, se previnam e se protejam”, conta Pedro.

O depoimento reforça que a meningite meningocócica não escolhe idade ou histórico de saúde e evidencia a urgência da conscientização e da prevenção de crianças e adolescentes. Hoje, aos 34 anos, Pedro é um defensor ativo da prevenção da meningite e compartilha sua história de superação e alerta sobre a importância da prevenção da doença através das suas redes sociais e palestras.

Sobreviver à meningite mudou completamente a minha vida. Passei por momentos muito difíceis, mas consegui reconstruir minha história. Hoje sou casado e pai do Bernardo, de apenas quatro meses, e não tenho dúvida de que vamos manter a carteirinha de vacinação dele sempre em dia. Sei, pela minha própria experiência, o quanto a prevenção é fundamental para proteger quem a gente ama”, afirma o sobrevivente.

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Distinguir a meningite viral ou bacteriana é fundamental para salvar vidas

Entenda o papel dos testes moleculares no diagnóstico rápido e preciso

Diante da gravidade e da alta letalidade da doença, saber diferenciar os casos de meningite viral e bacteriana é um fator-chave para o tratamento. Isso ocorre porque ambas apresentam sintomas semelhantes, como febre alta, dor de cabeça intensa, rigidez na nuca, náuseas, vômitos e sensibilidade à luz.

No entanto, as meningites bacterianas têm um potencial de gravidade muito maior, podendo causar sequelas neurológicas e até levar ao óbito em poucas horas. Por isso, o diagnóstico rápido e preciso é fundamental”, explica  Allan Munford, gerente regional LATAM de diagnósticos sindrômicos da Qiagen.

Até pouco tempo atrás, a diferenciação entre meningite viral e bacteriana dependia de análises laboratoriais que podiam levar de dois a três dias para serem concluídas. Nesse intervalo, muitos pacientes recebiam tratamentos empíricos, com antibióticos ou antivirais, sem a certeza sobre o agente causador.

Testes moleculares identificam até 15 agentes causadores da meningite

Allan destaca que com a chegada dos testes moleculares este cenário vem se transformando positivamente. Com benefícios visíveis aos pacientes e ao sistema de saúde como um todo, a tecnologia permite, em cerca de uma hora, identificar até 15 diferentes agentes causadores da meningite e encefalite, incluindo bactérias, vírus e fungos.

A ferramenta laboratorial funciona por meio de uma metodologia de PCR em tempo real, que identifica diretamente o DNA ou RNA do agente infeccioso. A testagem é feita com a coleta do líquido cefalorraquidiano em um procedimento de punção na lombar. Após somente uma etapa de manipulação, a amostra já pode seguir para avaliação.

Cada minuto conta no manejo da meningite. Ao indicar o patógeno com rapidez e precisão, o teste molecular garante que o médico adote imediatamente o tratamento mais adequado, reduzindo complicações, sequelas e mortes. No caso da meningite bacteriana, o uso precoce do antibiótico correto pode ser decisivo para salvar vidas”, complementa Munford.

A nova normativa da ANS e a incorporação ao SUS

Como parte das estratégias previstas no Plano Nacional de Erradicação das Meningites, novos testes moleculares como teste o PCR multiplex direto rápido, passaram a ter cobertura obrigatória pelos planos de saúde privados e seguem para incorporação ao SUS.

O teste PCR multiplex direto rápido, capaz de identificar em cerca de uma hora os microrganismos responsáveis pela meningite e encefalite, passou a ter cobertura obrigatória pelos planos de saúde privados em 17 de fevereiro de 2025, conforme determinação da Resolução Normativa nº 627 da ANS, publicada em 14 de fevereiro no Diário Oficial da União.

A medida é consequência da Lei 14.307/2022, que estabelece que tecnologias recomendadas positivamente pela Conitec para incorporação ao Sistema Único de Saúde (SUS) devem, em até 60 dias, ser incluídas também no rol da saúde suplementar.

No caso do exame para meningite e encefalite, a aprovação foi analisada durante a 618ª Reunião Ordinária da Diretoria Colegiada da ANS (DICOL), em 10 de fevereiro de 2025, quando se deliberou sobre as novas tecnologias avaliadas pela comissão entre setembro e dezembro de 2024.

Com essa atualização, a RN nº 627 altera a RN nº 465 e regulamenta a cobertura obrigatória do PCR multiplex para detecção de múltiplos patógenos no líquor, reforçando a integração entre as políticas públicas e a saúde suplementar.

Quando falamos de meningite, não estamos lidando apenas com números, mas com histórias de famílias inteiras afetadas. E ver novas tecnologias sendo incorporadas tanto na saúde suplementar quanto no SUS mostra que estamos caminhando para um futuro em que o acesso ao diagnóstico rápido será uma realidade para todos os brasileiros. Isso significa mais equidade, mais qualidade no cuidado e, acima de tudo, mais vidas preservadas”, conclui o especialista da QIAGEN.

Imunização é a principal forma de prevenção contra a meningite meningocócica

Há diferentes vacinas disponíveis tanto no SUS quanto na rede privada

A vacinação é a forma mais efetiva de prevenção contra a meningite meningocócica. Há 13 sorogrupos identificados da doença, sendo os mais comuns os sorogrupos A, B, C, W, X e Y. Atualmente, existem vacinas diferentes para a prevenção de cinco sorogrupos: A, B, C, W e Y.

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) oferece gratuitamente vacinas contra quatro dos sorogrupos preveníveis por vacinação (A, C, W e Y). A vacina meningocócica C para crianças de 3 e 5 meses de idade, e a vacina meningocócica ACWY em dose de reforço aos 12 meses e para adolescentes de 11 a 14 anos como dose única ou reforço conforme situação vacinal.

Já no setor privado, existem vacinas contra todos os cinco dos sorogrupos: os quatro disponíveis para prevenção no PNI e também a vacina do sorogrupo B, que atualmente é o principal causador da doença meningocócica no Brasil. O SUS estuda incorporar também este imunizante.

De acordo com a GSK, as sociedades médicas recomendam a vacina meningocócica B e a meningocócica ACWY aos 3, 5 e 12 meses de vida. Já para adolescentes são duas doses das vacinas ACWY e B para não vacinados. 

Além da meningite meningocócica, há vacinas contra outras formas de meningites bacterianas, como a pneumocócica, a causada pelo Haemophilus influenzae tipo b e a tuberculosa, disponíveis nas redes pública e privada”, completa a fabricante.

Somado à vacinação, hábitos simples também ajudam a reduzir o risco de transmissão de várias doenças, incluindo a meningite meningocócica: lavar as mãos com frequência, cobrir a boca ao tossir ou espirrar, não compartilhar objetos de uso pessoal, manter ambientes ventilados e evitar aglomerações sempre que possível.

Com Assessorias

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