Moradora da Ilha do Governador, na zona norte do Rio de Janeiro, a dona de casa Isabele Ferreira da Silva Andrade é mãe de duas crianças do espectro autista, Pérola, de 7 anos, e Ângelo, de 3 anos. Ela explica que o menino tem “autismo moderado”, ou nível 2 de suporte com atrasos cognitivos e hiperatividade. Já a filha, mais velha, tem “autismo leve”, nível 1 de suporte, e epilepsia.

A dona de casa conta que, depois que saiu o diagnóstico de sua filha mais velha, seu pai também decidiu investigar e descobriu, com mais de 50 anos, que também era autista. “Ele teve muita depressão ao longo de toda a vida dele”. Isabele conta que decidiu levar a filha ao pediatra porque ela já tinha 2 anos e estava com o desenvolvimento atrasado.

Ela não falava muito. Falava uma língua que ninguém entendia. Vivia num mundo só dela, não brincava, não ria. Comecei a desconfiar. O pediatra me explicou o que era autismo e disse que ela precisava de acompanhamento. Eu a levei para o neurologista, para psicólogo, fonoaudióloga. Fiz alguns exames que deram alteração”, lembra Isabele.

A dona de casa Isabele Ferreira da Silva Andrade, mãe de dois filhos autistas, Pérola, de 7 anos, e Ângelo, de 3 anos (Foto: Isabele Ferreira/Arquivo Pessoal)

Já o filho não apresentava sinais de autismo até um ano de  idade. “Ele foi muito bem até 1 ano de idade. Depois de1 ano, começou a regredir. Parou de comer, parou de brincar, não queria mais andar. Chorava muito. Comecei a achar estranho”. Ao notar atraso no seu desenvolvimento, Isabela conta que o menino foi encaminhado ao Centro de Atenção Psicossocial (Caps) da prefeitura, onde foi avaliado por uma equipe multidisciplinar.

O filho menor está matriculado em uma creche municipal que tem cinco crianças autistas. No momento em que a professora percebe que o Ângelo precisa de mais atenção, ela se concentra nele, diz Isabele. Já a filha mais velha está em uma turma regular em escola municipal, e, na classe, há outro aluno com grau mais severo de autismo.

Eles têm mediadores na escola que se concentram mais nas crianças com autismo severo. As professoras dos dois são psicopedagogas, têm entendimento e sabem lidar”, conta Isabele.

Mães deixam suas carreiras para cuidar dos filhos

Com as duas crianças dependentes de sua atenção, Isabele teve que estacionar o trabalho como caixa de uma loteria. “Tentei continuar trabalhando, mas com as demandas da Pérola e do Ângelo, tive que parar de trabalhar para levar para as terapias. O cuidado é integral. Parei minha vida”, conta a dona de casa.

A situação de Isabele não é isolada. “Muitas mães atípicas acabam deixando suas carreiras para se dedicar integralmente aos filhos, e isso impacta diretamente sua autonomia financeira e emocional”, observa Katia Kintino, professora, mãe atípica e palestrante e idealizadora do TEA Baixa Renda, que reúne mães atípicas da Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Para mudar essa realidade, a organização foi a primeira do Rio a receber o Lab Periféricas, projeto de inclusão produtiva desenvolvido pelo Instituto As Josefinas, que beneficiará 100 mulheres empreendedoras da região. “O projeto resgata essas mulheres como protagonistas, mostrando que elas também podem empreender, gerar renda e melhorar suas vidas”, enfatiza Katia.

Projeto incentiva mulheres a criarem seus próprios negócios

Lab Periféricas capacitará 100 mulheres empreendedoras de Campo Grande e adjacências

Com foco no fortalecimento de empreendedoras periféricas, o Lab Periféricas oferece uma jornada completa de conhecimento e conexão para mulheres que sustentam seus negócios na Zona Oeste do Rio de Janeiro – sejam elas mães atípicas ou não. Ao todo, 100 participantes participarão de cinco encontros presenciais ao longo de 2025, onde terão acesso a conteúdos práticos, como desenvolvimento de habilidades socioemocionais.

O programa também conta com um espaço dedicado às crianças: o Mini Lab. Enquanto as empreendedoras participam dos encontros, seus filhos têm acesso a atividades lúdicas voltadas para a construção de um futuro sustentável, estimulando criatividade e pertencimento desde a infância.
Segundo Aira Nascimento, fundadora e diretora do Instituto As Josefinas, o Lab Periférica nasce com a missão de se expandir por toda a Zona Oeste, a maior região administrativa do Rio, que abrange bairros como Campo Grande, Santa Cruz, Bangu e Realengo, onde milhares de mulheres já empreendem de forma autônoma – muitas delas, mães atípicas.

‘Um polo de empreendedoras que sustentam suas famílias e movem a economia local’

Para ela, a iniciativa representa um marco para a região. “A Zona Oeste é um polo de empreendedoras que sustentam suas famílias e movem a economia local, mas ainda enfrentam desafios estruturais para crescer. O Lab Periféricas chega para fortalecer essas mulheres como protagonistas. Mais do que uma formação, estamos falando de transformação real, autonomia e futuro”. 

Com mais de 350 mil habitantes, Campo Grande é o bairro mais populoso da cidade do Rio e concentra um grande número de trabalhadoras autônomas e empreendedoras informais, que frequentemente operam seus negócios sem apoio estruturado. “O Lab Periféricas busca transformar esse cenário, conectando essas mulheres com ferramentas concretas para alavancar seus negócios”, diz a empreendedora social.

Letícia Villas Boas, coordenadora pedagógica do projeto, ressalta a importância de atuar no Lab Periféricas: “Como mulher gorda,  preta e periférica, ocupar um cargo de liderança neste projeto é a materialização do meu propósito de contribuir para políticas sociais que transformem minha comunidade”.

Com informações da Agência Brasil e Assessorias

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