O monitoramento epidemiológico da febre oropouche do Ministério da Saúde aponta que 13.842 casos foram confirmados no país em 2024. Já no início deste ano, o Brasil registrou mais de seis mil casos de febre do oropouche, sendo cinco mil apenas no Estado do Espírito Santo. De acordo com a pasta, o estado do Rio de Janeiro é o segundo maior em número de notificações confirmadas, com quase 900.

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, a Região Metropolitana é a que enfrenta neste momento um aumento expressivo da doença, principalmente nos municípios de Cachoeiras de Macacu, Guapimirim e Itaboraí, além de Macaé, no Norte Fluminense. Outras regiões, como o Noroeste Fluminense possuem casos isolados da doença.

Os eventos climáticos são os principais responsáveis pela explosão de casos de febre oropouche, de acordo com estudo publicado na revista científica The Lancet, que analisou dados de seis países da América Latina, incluindo o Brasil. “O risco de infecção provavelmente evoluirá de forma dinâmica nas próximas décadas, com potencial para surtos futuros em grande escala”, alertam os pesquisadores.

O artigo explica que mudanças nas condições climáticas podem favorecer o aumento da transmissão do vírus que causa a febre oropouche ao elevar as populações de maruins – mosquitos que transmitem o vírus da doença -, facilitando a transmissão das fêmeas de maruins para seus filhotes ou intensificar a replicação viral em mais animais.

No nosso país, a doença era considerada endêmica da Região Amazônica, com poucos casos isolados em outros locais. Mas, desde 2023, o número de registros vem aumentando, com diagnósticos inéditos em diversos estados. De 833 infecções confirmadas naquele ano, houve um salto para 13.721 em 2024, com pelo menos quatro mortes. Neste ano, até o dia 15 de abril, o Ministério da Saúde confirmou 7.756 casos e uma morte está em investigação.

Doença subnotificada

O estudo multidisciplinar analisou mais de 9,4 mil amostras de sangue colhidas, em 2021 e 2022, de pessoas saudáveis e febris, a partir de métodos in vitro, sorológicos, moleculares e genômicos. Os pesquisadores também produziram uma modelagem espacial combinando esses dados com os casos da doença registrados em toda a América Latina.

A taxa média de detecção de anticorpos IgG (que comprovam que a pessoa já foi infectada pelo vírus em algum momento da vida) foi de 6,3%, passando de 10% em regiões da Amazônia. Amostras positivas foram encontradas em indivíduos de 57% das localidades selecionadas.

Para os pesquisadores, isso aponta que a febre oropouche tem sido subdiagnosticada. Além disso, a identificação desses anticorpos em amostras colhidas durante surtos de dengue pode indicar que pessoas com oropouche receberam diagnóstico de dengue, considerando também a semelhança de sintomas entre as doenças.

Já os modelos espaço-temporais mostraram que as variáveis climáticas, como as mudanças de padrão da temperatura e da chuva, foram os principais fatores de influência para a disseminação da oropouche, contribuindo com 60%. Por isso, os pesquisadores acreditam que eventos climáticos extremos, como o El Niño, provavelmente tiveram um papel fundamental no surto iniciado em 2023.

Brasília (DF) 02/02/2024 - O Ministério da Saúde define a febre do Oropouche como doença causada por um arbovírus do gênero Orthobunyavirus, identificado pela primeira vez no Brasil,  em 1960, a partir da amostra de sangue de um bicho-preguiça capturado durante a construção da rodovia Belém-Brasília.
Foto: Conselho Federal de Farmácia/Divulgação
Mosquito maruim transmite a febre do oropouche – Conselho Federal de Farmácia/Divulgação
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Regiões de maior risco

O mapa resultante desses modelos mostra que o risco de aumento da transmissão é maior nas regiões costeiras do país, especialmente do Espírito Santo ao Rio Grande do Norte, e também em uma faixa que vai de Minas Gerais ao Mato Grosso, além de toda a região Amazônica.

Nas regiões com risco estimado elevado de transmissão do OROV [vírus da febre do oropouche], onde ainda não foram reportados casos, o aumento da vigilância é crucial para compreender e responder de forma eficaz aos surtos atuais e futuros”, recomendam os pesquisadores.

O estudo também defende que testes diagnósticos para oropouche devem ser priorizados, e as estratégias de controle vetorial, com as que são utilizadas para diminuir a proliferação do Aedes aegypti, devem ser adaptadas para incluir os maruins. Além disso, estimulam mais estudos sobre a doença e para o desenvolvimento de uma vacina.

Atenção aos sinais

Por conta disso, a população brasileira precisa ficar atenta aos sinais e sintomas. “Náusea, calafrios, diarreia, dores de cabeça, nos músculos e nas articulações são os principais sintomas, que aliás são bem parecidos com os da dengue, mas o diagnóstico desta febre deve ser obtido por meio de exames laboratoriais”, afirma Silvia Fonseca, infectologista, pediatra e docente do Idomed (Instituto de Educação Médica).
Os sintomas são parecidos com outras viroses, especialmente a dengue, mas raramente a febre oropouche pode causar doença grave ou óbito.
  • Dor de cabeça intensa;
  • Dor muscular;
  • Febre.

Saiba como se prevenir da febre oropouche

Segundo a especialista, a febre do oropouche é causada por um arbovírus (mosquito) do gênero Orthobunyavirus, identificado pela primeira vez no país na década de 60. Tal feito só foi possível porque o vírus foi encontrado a partir de uma amostra de sangue de um bicho-preguiça, que foi pego durante a construção da rodovia Belém-Brasília. Daí em diante, diversos casos isolados e alguns surtos foram relatados no Brasil, principalmente na região amazônica.

A febre oropouche é uma arbovirose, causada pelo vírus Orthobunyavirus oropoucheense. Esse antígeno é transmitido pelo mosquito Culicoides paraensis, popularmente conhecido como maruim, que vive em áreas vegetais úmidas e quentes.

Nicolle Oliveira, biomédica e docente da Estácio, dá algumas dicas para evitar a doença. “As pessoas podem fazer uso de repelentes, especialmente ao realizar atividades ao ar livre. Se possível, evitar áreas de muita exposição a picadas de vetores”, opina Nicolle.
De acordo com a biomédica, outras ações também podem contribuir para evitar a doença, removendo a água parada e limpando ambientes com acúmulo de matéria orgânica. “A instalação de telas em janelas, também irá contribuir para a proteção. Caso haja o surgimento de qualquer sintoma, busque a unidade de saúde mais próxima”, comenta a especialista.
Com informações da Agência Brasil e Idomed (atualizado em 18/04/25)
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