Quem deve morrer ou viver na luta por uma vaga de UTI em meio à pandemia do novo coronavírus no sistema público de saúde? O difícil dilema vivido por médicos na linha de frente contra a Covid-19 em países como Itália, Espanha e Estados Unidos, que precisam decidir quem tem ou não direito aos respiradores, está perto de se tornar realidade no Estado do Rio de Janeiro.

Após mais uma semana de escalada nos casos e aumento na ocupação dos leitos de UTI, que saltou de 63% para 85% em duas semanas na rede estadual, a  Secretaria Estadual de Saúde está analisando um protocolo técnico que visa estabelecer quem receberá um leito nos hospitais do estado, caso as unidades atinjam capacidade máxima de atendimento. A SES garante que o objetivo é aumentar a chance de sobrevivência dos pacientes “e não restringir quem terá acesso a leitos de terapia intensiva”.

O protocolo está sendo preparado em parceria com o Conselho Regional de Medicina (Cremerj), a Academia Nacional de Cuidados Paliativos, Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, da Sociedade de Terapia Intensiva e a Universidade Federal Fluminense, entre outras instituições. De acordo com a SES, estão sendo consideradas práticas utilizadas em países como Espanha, Itália e Estados Unidos.

Idade e doenças preexistentes serão levados em conta

Pelo protocolo, os pacientes serão avaliados e classificados de acordo com uma pontuação que vai de 0 a 24 pontos – quanto menos pontos no  prontuário, mais chances de ser encaminhado logo para receber o tratamento necessário em caso de os médicos precisarem fazer a difícil escolha. Assim, teriam mais chances de sobreviver em casos graves da doença.

Critérios como idade do paciente (os mais novos têm prioridade), doenças pré-existentes (diabetes, hipertensão e obesidade), funcionamento de órgãos (como pulmões, rins e coração); e e tempo de espera por um leito de UTI (ordem de solicitação da vaga) podem ser considerados, mas a SES ainda não confirmou.

A ideia, segundo a Secretaria, é evitar o maior número de mortes. Esta sexta (1) foi o dia que registrou o maior número de óbitos por Covid-19 no estado. São mais de 900 mortos, quase três vezes mais do que o registrado há dez dias. Quase 400 pacientes internados em estado grave esperam por respiradores.

O aumento do número de casos de Covid-19 tem sobrecarregado os hospitais públicos e, em especial, os leitos de terapia intensiva (UTI). O próprio secretário estadual de Saúde, Edmar Santos, acredita que, se o número de infecções continuar crescendo, em breve não haverá vagas para todos os pacientes. Ele chegou a defender a adoção do ‘lockdown”, bloqueio total de circulação de pessoas para evitar a propagação do vírus e retardar o colapso na rede, mas o governador Wilson Witzel é contrário à medida por enquanto.

Sindicato dos Médicos condena medida

O Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro divulgou nota de repúdio à decisão do governo do Estado de estabelecer um protocolo de “seleção” por pontos de quem vai ter atendimento nesta pandemia. Um trecho da nota ressalta que “é descabido que se cogite instituir protocolos de escolhas de vida ou morte num cenário em que a *desarticulação entre as  gestões federal, estadual e municipais ocasiona omissões: de um lado, milhares de leitos vazios, bloqueados. De outro, pacientes, famílias e profissionais de saúde em desespero”.

Ainda segundo a nota, cabe aos gestores, e têm autoridade para isso, requisitar todos os recursos disponíveis na saúde, públicos e privados, que sejam necessários para preservar vidas. A nota da diretoria do Sinmed reitera que “a seriedade do quadro epidemiológico não demanda gestores paliativos: requer decisões difíceis e a mobilização plena dos recursos em defesa da vida. Não é o que ocorre. Em calamidade, ninguém deve morrer enquanto não se esgotam os recursos disponíveis”,.

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Justiça manda desbloquear leitos de hospitais federais

A Justiça do Rio determinou que Estado e Prefeitura têm até cinco dias para colocar em operação todos os leitos de terapia intensiva previstos para entrar em funcionamento nos planos de contingência contra o novo coronavírus. No Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Uerj, vagas para pacientes com Covid-19 aparecem como previstas no sistema do SUS no Rio, mas não foram abertas por falta de equipamentos. O hospital tem hoje 60 leitos em UTI para infectados pelo vírus, 12 deles vagos na manhã de sexta-feira.

O número de profissionais de Saúde mortos pelo novo coronavírus no Rio já chega a 35. Sem profissionais e respiradores suficientes, hospital de campanha da Prefeitura, no Riocentro, começou a funcionar com 100 leitos; estão previstos 500 no total.

O Estado do Rio de Janeiro chegou na sexta-feira a 921 mortes causadas pela Covid-19, de acordo com o boletim divulgado no fim do dia. O órgão informou que o estado registrou um novo recorde de óbitos: 67 em um intervalo de apenas 24 horas. Ao todo, 10.166 pessoas já foram infectadas  e 311 mortes são investigadas. Levantamento da Universidade Federal Fluminense (UFF) revela que Duque de Caxias tem o maior número de mortes por 100 mil habitantes na Baixada Fluminense.

Com Assessorias e Agências

 

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