É lipedema, gordura localizada ou retenção de líquido?

Especialistas esclarecem principais dúvidas sobre o lipedema. Congresso em São Paulo teve cirurgia de lipedema ao vivo

Os quatro graus do lipedema (Foto: Divulgação)
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O lipedema – doença crônica que acomete cerca de 10 milhões de mulheres no país, segundo estimativas do Instituto Lipedema Brasil – vem ganhando destaque nos noticiários nos últimos tempos depois que várias famosas revelaram ter o problema, que muitas vezes é confundido com obesidade. Segundo especialistas, a cirurgia é a única maneira de remover as células adiposas doentes que o lipedema causa na mulher.

Mas, antes de tomar a decisão, como saber se é lipedema e não uma gordura localizada? Tem diferença? Tem! A gordura do lipedema está acumulada nos braços, quadris e, principalmente, nas pernas. Não é algo estético. Não é achar que está fora do peso ou com partes do corpo um pouco maiores do que o normal, por exemplo.

lipedema provoca dores reaisproblemas de locomoção e uma sensação de peso nesses membros. Estes locais ficam roxos com facilidade, sem precisar de atritos e há uma espécie de garrote na canela da mulher. Se existe a maioria destes sintomas, há uma grande probabilidade de ser lipedema e a recomendação é procurar um especialista.

Por isso, o médico Fábio Kamamoto, diretor do Instituto Lipedema Brasil e um dos pioneiros no tratamento cirúrgico da doença no país, e alguns médicos de sua equipe multidisciplinar respondem às principais dúvidas sobre esta doença que está cada vez mais conhecida pela população brasileira:

É lipedema ou gordura localizada?

gordura do lipedema é doente. Segundo o endocrinologista do Instituto Lipedema Brasil, dr. André Faria, o lipedema é uma doença do tecido adiposo, ou seja, uma doença da gordura. A sua inflamação leva à fibrose que, por consequência, leva aos edemas (inchaços), característicos da síndrome e em determinadas partes do corpo como braços, quadris e, principalmente, nas pernas.

Durante muito tempo, lipedema foi uma doença subdiagnosticada por médicos e pela sociedade. “Era mais fácil dizer à mulher que ela estava com obesidade do que orientá-la com ajuda e informação. Felizmente, esta realidade está mudando”, diz.

 

 

 

 

É lipedema ou retenção de líquido?

Lipo significa gordura e Edema significa inchaço. “O lipedema é o acúmulo de gordura em partes específicas do corpo como braços, pernas e quadris. É simétrico. Pode apresentar garrote no tornozelonão “some” com exercício físico ou dieta. Muitas vezes, a mulher com lipedema tem a gordura, mas não é só isso. Tem também a questão vascular, ou seja, tem as varizes expostas, manchas etc., a dor na articulação, e os sinais internos como dor à pressão, pernas pesadas, dor latente. Já o Linfedema é o acúmulo de líquido nos tecidos que resulta em um inchaço. É unilateral, inclui o pé, é assimétrico”, comenta o cirurgião vascular do Instituto Lipedema Brasil, Vitor Gornati.

A mulher com linfedema (à esquerda) x a mulher com lipedema (à direita) – Foto: Divulgação
Tenho lipedema diagnosticado. Operar é o melhor caminho? É seguro?

Sim, é importante procurar médicos que são especialistas em lipedema. Hoje, há centros de referência como o Instituto Lipedema Brasil, onde a mulher tem à disposição toda uma equipe qualificada para acompanhá-la em todo o tratamento e de forma segura. Se optar pela cirurgia, uma vez removida, esta gordura não volta mais, pois não há multiplicação dessas células. É possível remover por meio de lipoaspiração até 7% do peso da mulher.

No entanto, como não há tratamento ainda coberto pelo SUS ou pelos convênios, as mulheres que não puderem fazer o tratamento cirúrgico, podem apostar no tratamento clínico como uso de plataforma vibratória, que diminui o inchaço nas regiões; drenagem linfática para tirar o excesso de líquido; e, por fim, atividade física preferencialmente de baixo impacto. Estas ações amenizam os sintomas”, diz o dr. Fábio Kamamoto.

Em qual grau de lipedema é recomendável a cirurgia?

Há quatro tipos de estágios do lipedema (foto), segundo dr. Kamamoto, e tudo depende do desconforto da paciente. Segundo o especialista, certamente uma mulher com grau 4 terá mais problemas de locomoção do que uma mulher com grau 1, por exemplo, mas isto não impede que ela faça a cirurgia, se optar por isso. “O desconforto para ambas existe e é real”, finaliza.

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Dados científicos sobre a cirurgia de lipedema

Um estudo* americano observou um grupo de mulheres com lipedema durante 10 anos. Elas foram submetidas ao tratamento cirúrgico entre julho de 2009 e julho de 2019. Todas as pacientes preencheram um questionário relacionado à doença e tiveram um acompanhamento por um período de 20 meses. O estudo concluiu que elas relataram uma redução significativa nas queixas associadas à doença e melhora na qualidade de vida.

Um dos destaques do estudo é que houve perda de peso em todas as fases até três meses após a cirurgia. Os autores também descobriram que as mulheres tiveram uma redução significativa na necessidade de terapia descongestiva e que a percepção na melhora dos sintomas e qualidade de vida se mantiveram até 12 anos após o tratamento cirúrgico.

Congresso em São Paulo teve cirurgia de lipedema ao vivo

O lipedema ganhou destaque no SPecializando 2023, congresso promovido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Vascular, regional de São Paulo, de 30 de novembro a 2 de dezembro. Na sexta-feira (1/12) o evento contou com uma cirurgia de lipedema com transmissão ao vivo para todo o público presente no anfiteatro do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, em São Paulo.

O procedimento foi realizado pelo médico Fábio Kamamoto, um dos pioneiros no tratamento cirúrgico do lipedema no país, que atualmente dirige o Instituto Lipedema Brasil – o primeiro centro de referência da doença no país. Graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o médico é especialista em Cirurgia Plástica pelo Hospital das Clínicas da FMUSP, com mestrado e doutorado pela USP, e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. 

“Tivemos a oportunidade de compartilhar um conteúdo muito rico e relevante para o público médico presente, que precisa de informações técnicas sérias e embasadas depois de vermos tantas fake news recentes sobre a cirurgia de lipedema. A boa informação e a prestação de serviço, também nestes eventos, são fundamentais”, finaliza dr. Kamamoto.

Após a cirurgia, a equipe multidisciplinar do Instituto Lipedema Brasil – representada pelos médicos André Faria, Juliana Reis, Carolina Vitorasso e Vitor Gornati – participou de uma série de palestras sobre o lipedema, abordando temas como a fisiopatologia da doença, a jornada do tratamento clínico, o tratamento cirúrgico e as tecnologias para flacidez de pele, a fisioterapia no lipedema, o protocolo no pós-operatório e as questões anticoagulantes do ponto de vista vascular. A moderação ficará por conta do cirurgião vascular.

No domingo (3), a edição 2023 do International Meeting on Aesthetic Phlebology (IMAP XI), contou com palestra do médico brasileiro e um dos embaixadores do evento, Fábio Kamamoto, sobre o tratamento cirúrgico do Lipedema. O evento é o maior na área de Flebologia Estética no mundo e acontece entre os dias 1 e 3 de dezembro no Teatro B32, em São Paulo. Para a ocasião são esperados participantes de diversas nacionalidades, abrangendo, aproximadamente, 20 países.

O Instituto Lipedema Brasil é o primeiro no país a dedicar estudos, pesquisas e ensino à população e aos profissionais de saúde, o Instituto luta pela democratização do acesso ao tratamento da doença no país, como já acontece em outros países como os Estados Unidos. Atualmente, a campanha conta com mais de 30 mil assinaturas.

Fonte: Instituto Lipedema Brasil

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