Ver sua mãe doando, ainda quando era novo, foi o que motivou Luciano Germano da Cunha, atualmente com 50 anos, a ser um doador de sangue regular. Para ele, ser contribuinte assíduo de algo que remédio nenhum pode substituir, virou um compromisso anual.

A cada três meses o profissional da área da educação busca o Banco de Sangue do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), em São Paulo. Somente na instituição de saúde, Luciano doa, ininterruptamente há 6 anos. Porém, já é doador há mais de 15.

Esse ato é algo natural. Um compromisso que eu coloco na agenda todo começo de ano, para manter a regularidade, até mesmo por ser doador universal, já que sou tipo sanguíneo 0-. Para mim, sempre é um sentimento de dever cumprido. E não é nem um pouco custoso me direcionar ao banco e fazer o bem”, explica.

A jornalista Nathalia Gorga é um exemplo do impacto desse gesto. Nascida prematura, com apenas 890 gramas e seis meses de gestação, ela passou vários meses na incubadora e, em determinado momento, desenvolveu um quadro severo de anemia. Para sobreviver, precisou de mais de um litro de sangue.
Na época, o sangue dos pais e dos familiares não era compatível com o dela, devido ao tipo sanguíneo e outros fatores. Foi necessário buscar um doador externo. A mobilização foi fundamental, e um amigo da família, sensibilizado pela situação, realizou a doação que salvou sua vida.
Se estou aqui, mais de 30 anos depois, é graças a essa doação. Um gesto que faz toda a diferença na vida de qualquer ser humano”, afirma.

Campanhas para pedir e agradecer pelas doações

O tipo sanguíneo O – o mesmo de Luciano, que doa regularmente em São Paulo – é considerado um “doador universal” já que pode ser utilizado em emergências para qualquer paciente, independentemente da tipagem sanguínea.

No entanto, apenas cerca de 15% da população possui sangue Rh negativo, sendo que o tipo O- representa de 8% a 9%, o que contribui para a escassez frequente desse tipo nos estoques e nos gera preocupação”, explica Fabio Lino, diretor do Serviço de Hemoterapia do HSPE e responsável pelo Banco de Sangue da instituição.

Lino lembra que a doação de sangue é um ato de solidariedade que ganha ainda mais relevância quando pensamos em sua importância para o sistema de saúde. A divulgação constante na mídia sobre a necessidade da doação regular é essencial para manter os estoques dos bancos de sangue em níveis adequados.

Não precisa de agendamento para doar no  HSPE. O Banco de Sangue funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h, e aos sábados, das 8h às 16h. O acesso é pela Rua Pedro de Toledo, 1.800, Vila Clementino, São Paulo – Capital. Próximo à estação de metrô AACD-Servidor, linha lilás. Para mais informações, acesse aqui.

Em São Paulo, também é possível doar no  Hemocentro da Santa Casa, no Hospital das Clínicas, ou na Fundação Pró-Sangue.  Diversos hemocentros pelo Brasil também funcionam com agendamento online, facilitando o processo para os voluntários.

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Junho Vermelho e o Dia Mundial do Doador de Sangue

Campanhas de doação, como as realizadas em datas específicas, são fundamentais não apenas para pedir doações, mas também para agradecer e valorizar quem já doa regularmente. O Junho Vermelho, por exemplo, é uma iniciativa inspirada no Dia Mundial do Doador de Sangue, comemorado em 14 de junho. Em 2005, a data foi instituída pela Assembleia Mundial da Saúde como um dia especial para agradecer aos doadores e incentivar mais indivíduos a doar sangue livremente.

A ideia é “plantar a semente” que pode transformar um doador eventual em um doador regular, conhecido como “doador de repetição“. Assim, o objetivo das campanhas educativas deve ser justamente o de criar uma cultura constante, ampliando o número de pessoas que contribuem, garantindo estoques seguros o ano inteiro nos bancos de sangue.

É sempre importante lembrar que o volume de sangue coletado durante a doação é reposto pelo organismo em até 24 horas. Cada doação pode colaborar para salvar até quatro vidas, graças à separação do sangue em componentes diferentes.

Uma bolsa de sangue pode ser fracionada em até quatro componentes distintos: concentrado de hemácias (que ajuda no tratamento de anemias) – parte vermelha do sangue -, e concentrado de plaquetas, plasma fresco congelado e crioprecipitado (utilizados em distúrbios de coagulação) – parte amarela.

Um ato que atravessa séculos e salva vidas todos os dias

Segundo registros históricos compilados pela Britannica Education, a história da doação de sangue remonta ao século XVII. Em 1667, o médico inglês Richard Lower realizou uma das primeiras transfusões documentadas, ao transferir o sangue de um cordeiro para um homem. Na mesma época, na França, Jean-Baptiste Denis, médico do rei Luís XIV, também realizava experiências semelhantes.
Embora rudimentares e de alto risco, essas primeiras tentativas abriram caminho para o desenvolvimento de técnicas cada vez mais seguras, que transformaram a transfusão sanguínea em um dos procedimentos mais essenciais da medicina moderna.
No Brasil, a prática da doação de sangue existe, mas ainda enfrenta alguns desafios, especialmente na conscientização da população. Dados de 2022 do Ministério da Saúde mostram que aproximadamente 1,4% da população brasileira doa sangue regularmente, o que equivale a 14 doadores a cada mil habitantes e um total de 3.159.774 doações por ano no Sistema Único de Saúde (SUS). 
Esse índice está dentro da recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que sugere que entre 1% e 3% da população de cada país seja doadora. Em 2024, foram coletadas aproximadamente 3,3 milhões de bolsas de sangue pelo SUS em todo o país através de doações voluntárias de sangue.
Apesar disso, o Ministério da Saúde alerta que é fundamental ampliar o número de doadores para garantir estoques seguros e constantes, evitando riscos de desabastecimento.

Quer ser um doador de sangue?

É simples: basta apresentar um documento oficial com foto em um hemocentro ou outro serviço de doação de sangue em sua cidade, estar bem de saúde, ter entre 16 e 69 anos (lembrando que a primeira doação deve ser feita até os 60 anos) e pesar no mínimo 50 kg.  Menores de 18 anos devem apresentar o consentimento do responsável legal.

No dia da doação, é importante não estar em jejum, mas também evitar alimentos gordurosos nas quatro horas que antecedem o procedimento. Além disso, o doador deve estar bem descansado, tendo dormido pelo menos seis horas nas últimas 24 horas.
O tempo todo para doação dura cerca de uma hora e não traz qualquer risco à saúde. O intervalo entre as doações é de dois meses para homens e em três meses para mulheres. Quem nunca doou e não sabe o seu tipo sanguíneo pode ficar sabendo após fazer a doação. “O doador tem cinco dias úteis para retirar a carteirinha dele que atesta a doação e que contém resultados sobre os exames realizados no sangue coletado e qual é o seu tipo sanguíneo”, explica o HSPE.

Segurança na doação: como é feita a triagem dos doadores

Todo doador passa por uma triagem com para garantir a segurança do doador e do receptor do sangue doado. Primeiro, é feito o cadastro, com apresentação de documento com foto do doador e preenchimento de dados cadastrais. Depois, ocorre a pré-triagem: verificação de sinais vitais, como pressão arterial, temperatura, pulso e peso, além de teste de anemia (gota de sangue colhida do dedo).
Na sequência, o doador passa pela triagem clínica – uma entrevista confidencial com um profissional de saúde. Perguntas sobre saúde, uso de medicamentos, hábitos de vida, doenças, cirurgias, viagens recentes, comportamento sexual, entre outros. Se estiver apto, a doação é realizada (geralmente 450 mL) que dura cerca de 5 a 10 minutos.
Durante a pré-triagem, o doador pode ser temporariamente impedido de doar caso apresente alterações nos sinais vitais, como pressão arterial, temperatura, pulso, peso ou no teste de anemia. No entanto, a desclassificação também pode ocorrer na etapa seguinte, durante a entrevista clínica com o profissional de saúde.
Nessa fase, são avaliados diversos critérios de elegibilidade — como histórico de doenças, uso de medicamentos e comportamentos de risco — que podem contraindicar a doação. É nesse momento que o doador é informado de que, por razões médicas ou de segurança, não poderá realizar a doação naquela ocasião.

Com Assessorias

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