Nesta segunda-feira (9), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do Mounjaro para o tratamento de sobrepeso e obesidade. O medicamento, que chegou na indústria farmacêutica brasileira no mês passado, estava autorizado somente para o tratamento do diabetes tipo 2, mas muitos utilizavam para auxílio na perda de peso.
Apesar do clima de celebração diante da nova promessa de emagrecimento fácil, especialistas vêm com reserva o anúncio, enfatizando os riscos associados à medicação e os estudos que destacam que o peso volta após a interrupção do uso da caneta emagrecedora de Mounjaro.
Precisamos ter cuidado com os efeitos adversos do uso deste medicamento, especialmente gastrointestinais e o risco de hipoglicemia, mas nada se comparado com os efeitos adversos e riscos da cirurgia bariátrica“, alerta o médico Enrico Andrade, professor da FINT – Faculdade e Instituto Nikola Tesla. de Campinas (SP).
Um estudo realizado pela Universidade de Oxford, com pacientes com obesidade que utilizaram análogos do GLP1 – hormônio que desempenha um papel importante no controle do apetite – trouxe uma estimativa: o peso seria recuperado em 11 meses após o uso. Ao focar nos medicamentos mais novos, isso aconteceria em cerca de 1 ano e 8 meses.
De acordo com o estudo, em média, os participantes perderam 7,9 kg ao final do tratamento com qualquer medicamento da classe dos GLP-1, e 16,1 kg usando as versões mais novas. Após interromper o uso, a taxa de recuperação de peso foi de 0,7 kg por mês para todos os análogos do GLP-1, e 0,8 kg/mês para os mais recentes, com uma estimativa de recuperação de 8,3 kg e 9,6 kg dentro do primeiro ano após a interrupção do tratamento, respectivamente.
Caneta emagrecedora promove ‘pouca mudança mental’
O especialista em Neurociência do Comportamento, da plataforma Wefit, Alan Martins alerta que o uso de medicamentos pode ser um ponto de partida importante, especialmente para quem precisa de uma intervenção inicial eficaz.
No entanto, se não houver um acompanhamento multidisciplinar e abordagem completa que considere aspectos, como autocontrole em relação à alimentação, disciplina na mudança de hábito e cuidado com saúde física e mental, a tendência é de que o ciclo de perda e ganho de peso se repita.
O tratamento com as canetas emagrecedoras funciona semelhante a uma cirurgia bariátrica onde ocorre mudança física relevante, mas na maioria dos casos, pouca mudança mental. Sabemos que a sociedade busca resultados imediatistas mas nada adianta perder peso de forma rápida para recuperar tudo novamente. Precisamos nos atentar na importância do processo, entender nosso corpo e mente para ter autocontrole em relação à alimentação, ter disciplina na mudança de hábito e entender as necessidades do nosso corpo com auxílio do nosso emocional”, pontua Alan.
Segundo ele, a perda de peso é essencial para melhora da saúde em geral, porém, para resultados a longo prazo, é necessário além do uso de medicamentos e sim, inserção de atividades físicas, mudanças alimentares, cuidados com a saúde mental e acompanhamento médico.
Atualmente, existem diversas tecnologias capazes de auxiliar no processo contínuo de emagrecimento, a fim de dar suporte às pessoas que precisam mais do que diminuir números na balança e sim tratar de doenças crônicas como obesidade e até mesmo compulsão alimentar”, enfatiza o especialista.
Palavra de Especialista
Monjaro como tratamento para a perda de peso: seria o fim da cirurgia bariátrica?
Por Enrico Andrade*
A Anvisa aprovou a ampliação da indicação do Mounjaro (tirzepatida, da Eli Lilly) para o tratamento de sobrepeso (IMC ≥ 27 kg/m²) com comorbidades e obesidade (IMC ≥ 30 kg/m²), deixando de ser uso off-label e passando a constar formalmente em bula.
O Mounjaro possui um mecanismo duplo de ação (GLP 1 + GIP): diferente de solução de semaglutida (Ozempic/Wegovy), atuando simultaneamente em dois hormônios intestinais, ampliando o efeito sobre saciedade e o controle glicêmico.
Os resultados foram superiores em relação a perda de peso em 72 semanas a perda média de 16 % (dose 5 mg) a 22,5 % (dose 15 mg) versus 0,3 % com o placebo, sendo que 40 % dos pacientes perderam mais de 40% do peso corporal, resultados comparáveis à cirurgia bariátrica, e muito superiores à semaglutida.
Portanto, agora pacientes com IMC ≥27, associado a comorbidades são agora elegíveis ao uso da tirzepatida e poderiam ser a nova alternativa terapêutica a cirurgia bariátrica.
No entanto, precisamos ter cuidado com os efeitos adversos do uso deste medicamento, especialmente gastrointestinais e o risco de hipoglicemia, mas nada se comparado com os efeitos adversos e riscos da cirurgia bariátrica. Também não podemos esquecer da redução da eficácia de contraceptivos orais devido a alterações no esvaziamento gástrico.
Há alguns anos, a medicina vem evoluindo muito com estes medicamentos, o Mounjaro representa um avanço significativo no arsenal terapêutico contra a obesidade e o diabetes, mas termos muitos outros lançamentos nos próximos três anos.
Muitas substancias similares e com mecanismo de ação em mais de dois hormônios, já estão em estudo clínicos e logo deverão ser lançados no mercado, com resultados muito mais eficazes e menores efeitos colaterais, assim, realmente poderemos ver uma diminuição considerável nas indicações de cirurgias bariátricas.
*Professor da FINT – Faculdade e Instituto Nikola Tesla