Dados do Ministério da Saúde divulgados nesta quinta-feira (30) mostram um cenário de dengue preocupante na Região Sudeste quando consideradas as quatro primeiras semanas de 2025. Em todo o país, o total de casos prováveis no país foi de 139 mil para 169 mil casos, com aumento de 21 para 37 mortes em três dias. Os óbitos em investigação no Brasil eram 160 na segunda-feira e são 200 hoje, dos quais 138 são em São Paulo.

Os casos subiram de 82 mil para 99 mil no estado e as mortes de 14 para 28, dos quais 11 de pessoas com mais de 65 anos.O monitoramento realizado pela Secretaria Estadual de Saúde indica 102 mil casos prováveis, com 45 mil já confirmados.

No estado já são 44 os municípios que decretaram estado de emergência. Na segunda-feira eram 37. O aumento pode refletir maior engajamento das prefeituras, com atuação dos governos federal e estadual, que constituíram centros de vigilância dedicados às ações contra a dengue nos dias 9 e 23 de janeiro, respectivamente.

Já na Região Norte do Brasil segue no mesmo patamar de 2024, com números que a pasta classifica como “não muito exuberantes”. O Nordeste mantém a mesma linha, com uma pequena redução no total de casos. O Centro-Oeste e o Sul registraram o que o ministério se refere como “redução substancial”, sobretudo em decorrência da queda de casos no Distrito Federal, em Goiás, no Paraná e em Santa Catarina.

Nossa preocupação é o Sudeste. Quando olhamos os números, semana a semana, temos a impressão de que a situação está tranquila. Mas, quando mergulhamos o olhar sobre o Estado de São Paulo, estamos observando, semana após semana, o dobro do número de casos de dengue quando comparamos com 2024”, destacou o secretário-adjunto de Vigilância em Saúde e Ambiente, Rivaldo Venâncio.

Segundo Rivaldo, o estado de São Paulo saiu de um patamar de quase 50 mil casos nas quatro primeiras semanas de 2024 para praticamente 100 mil casos nas quatro primeiras semanas de 2025. “Ou seja, o dobro de casos. Bem diferente de Minas Gerais, onde há uma redução de aproximadamente 85% em números absolutos – de 123 mil para 16 mil casos, quando comparados 2024 com 2025”.

Chamo também a atenção para o montante de óbitos – tanto os óbitos já confirmados enquanto tal como os óbitos em investigação. Se considerarmos a possibilidade de dois terços desses 135 óbitos em investigação [no estado de São Paulo] sendo confirmados, estaremos em um patamar de mais ou menos 800 a 900 casos para cada óbito, o que é muito elevado.”

Total de casos em SP não surpreende, mas óbitos sim, diz Saúde

O secretário-adjunto de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde disse nesta sexta-feira (31) que a pasta não foi pega de surpresa com os quase 100 mil casos prováveis de dengue registrados em São Paulo nas primeiras semanas deste ano, mas sim pelo total de mortes associadas à doença no estado.

É muito para 100 mil casos prováveis. O aumento no número de casos prováveis de dengue não surpreende tanto porque já sabíamos da circulação, desde o final do ano passado, do sorotipo 3. O que surpreende é o elevado número de óbitos suspeitos por dengue”, completou Rivaldo Venâncio.

O secretário destacou que mortes por dengue estão “essencialmente” associadas ao que ele chamou de organização precoce da rede assistencial de saúde. “Esse é o determinante. Claro que determinados organismos, determinadas pessoas, por terem algumas condições clínicas anteriores à dengue, quando contraem a dengue, podem apresentar quadros clínicos mais graves, seja pelo dengue 3, 2 ou 1”.

Mas é importante que tenhamos em mente, sobretudo, que, até que se prove o contrário, uma morte por dengue é uma morte evitável. Fica aqui o nosso apelo para que toda pessoa com suspeita clínica de dengue procure imediatamente uma unidade de saúde para ser submetida a uma avaliação clínica”, ressaltou Rivaldo.

O secretário diz que tem observado, em algumas localidades do Brasil, que as pessoas subestimam a gravidade da dengue. ‘Ah, isso é dengue, não é nada, é simplesmente dengue’. Quando essa pessoa fica muito grave, ela procura a unidade de saúde e, por vezes, o quadro clínico já é irreversível. Por isso o apelo para procurar rapidamente a unidade.”

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Aumento é atribuído à dengue tipo 3

Em coletiva na tarde desta quinta-feira (30), o Ministério da Saúde atribuiu o aumento dos casos à circulação do sorotipo 3 da dengue, em expansão desde julho do ano passado. “Segundo o secretário adjunto da SVSA, essa variante do vírus tem sido determinante no aumento do número de infecções, especialmente em São Paulo e, em menor escala, no Paraná.”, explica a pasta, em nota.

Ainda de acordo com a pasta, a introdução de um novo sorotipo em uma população previamente exposta a outros sorotipos de dengue pode levar a um cenário de “epidemias significativas”. O aumento da incidência de dengue registrado entre 2000 e 2002, por exemplo, foi associado à introdução do DENV-3. Ao longo de 2024, o sorotipo predominante no Brasil foi o 1, identificado em 73,4% das amostras.

Para o secretário, o aumento na circulação do sorotipo 3 da dengue no Brasil figura como um dos principais causadores da elevação verificada pela pasta no número de casos da doença no Sudeste. “Em especial no estado de São Paulo e um pouco no Paraná também”, destacou.

Desde julho do ano passado, mês a mês, está crescendo a detecção do sorotipo 3 Brasil afora. Então, em algumas localidades que ainda não registraram dengue 3, muito provavelmente, é questão de tempo, infelizmente”, concluiu Rivaldo..

Menos de 20% do público-alvo no DF foi imunizado

Apenas 18,9% das crianças e dos adolescentes de 10 a 14 anos no Distrito Federal receberam as duas doses da vacina contra a dengue, que garante a imunização contra a doença. Os dados são da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Segundo a pasta, nem a metade das crianças e dos adolescentes na faixa etária definida como público-alvo recebeu a primeira dose contra a dengue no Distrito Federal – a cobertura, neste caso, é de 46%.

Neste mês, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) emitiu um alerta sobre a baixa procura pela vacina contra a dengue. O imunizante está disponível para 1,9 mil cidades onde a doença é mais frequente. Entretanto, apenas metade das doses distribuídas aos estados e municípios foi aplicada.

De acordo com o Ministério da Saúde, de janeiro de 2024 a 20 de janeiro de 2025, foram distribuídas 6.370.966 doses. A Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) indica que somente 3.205.625 foram aplicadas até o momento.

A Qdenga, produzida pelo laboratório japonês Takeda Pharma e aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), começou a ser distribuída no Sistema Único de Saúde (SUS) em fevereiro de 2024, em duas doses, com intervalo de 90 dias.

Por causa da capacidade limitada do fabricante, a distribuição das doses adquiridas pelo governo brasileiro precisou ser restrita ao grupo com idade entre 10 e 14 anos, que concentra o maior número de hospitalizações por dengue, depois dos idosos.

Um dos sorotipos mais virulentos do vírus da dengue

A dengue é uma doença viral transmitida pelo mosquito Aedes aegypti que afeta milhões de pessoas no mundo – sobretudo em países tropicais como o Brasil. O vírus pertence à família dos flavivírus e tem quatro sorotipos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Cada um deles, segundo o ministério, pode causar desde infecções assintomáticas até quadros graves da doença.

Os quatro sorotipos, segundo a pasta, são suficientemente distintos para que uma infecção por um deles não ofereça imunidade contra os outros. Isso significa que uma pessoa pode ser infectada até quatro vezes. O ministério alerta ainda que, enquanto a infecção por um sorotipo tem efeito protetor permanente contra ele e efeito protetor temporário contra os outros, infecções consecutivas aumentam o risco de formas mais graves da dengue.

O DENV-3 vem sendo detectado, ao longo das últimas semanas, em meio a testes positivos para dengue em todo o país – sobretudo em São Paulo, em Minas Gerais, no Amapá e no Paraná. O cenário preocupa autoridades sanitárias, já que o sorotipo não circula de forma predominante no país desde 2008, e grande parte da população está suscetível a ele.

O DENV-3 é considerado um dos sorotipos mais virulentos do vírus da dengue, ou seja, tem maior potencial de causar formas graves da doença. Estudos indicam que, após a segunda infecção por qualquer sorotipo, há uma predisposição para quadros mais graves, independentemente da sequência dos sorotipos envolvidos. No entanto, os sorotipos 2 e 3 são frequentemente associados a manifestações mais severas”, destacou o ministério.

Da Agência Brasil (atualizada em 31/01/25)

 

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