Transtornos alimentares são desordens complexas, causadas e mantidas por diversos fatores sociais, psicológicos e biológicos. Eles figuram entre as patologias psiquiátricas e, nos últimos tempos, vêm apresentando maior crescimento em termos de incidência em toda população, trazendo prejuízos físicos, psíquicos, afetivos e sociais.

Com a grande evolução tecnológica e o aumento no consumo das redes sociais, estamos observando uma valorização exacerbada dos padrões estéticos, resultando em muita pressão para se alcançar o corpo ideal, o que nos sinaliza que esses transtornos estão bastantes comuns. 

Essa alteração dos hábitos e dos comportamentos alimentares prejudica a saúde mental e física do indivíduo. A grande questão é que não se trata apenas de sofrimento do corpo, todo o psiquismo adoece quando um transtorno alimentar é identificado.

Vários são os transtornos alimentares, mas alguns são mais incidentes que outros, como por exemplo a anorexia, uma restrição alimentar severa, que leva a desnutrição e a perda importante do peso. Ela se caracteriza pelo medo intenso de se engordar e, através da distorção da imagem corporal, o indivíduo não consegue, de forma alguma, se perceber emagrecido.

Também temos a bulimia – quando ocorre a ingestão de grande quantidade de alimento com uma certa frequência, compulsivamente. E ao perder o controle e conscientizar-se deste fato, a pessoa tenta compensar o excesso ingerido através de vômitos autoinduzidos, laxantes/diuréticos, jejum ou exercícios em excesso.

Falando em compulsão, não podemos esquecer da compulsão alimentar. Trata-se de um transtorno bem semelhante a bulimia, porém sem a compensação em vômitos. Definida por episódios compulsivos que trazem desconforto físico pela quantidade ingerida, associado a um sentimento de culpa e vergonha.

E não menos preocupante é a Síndrome do Comer Noturno. Como o próprio nome sugere, é uma necessidade que o indivíduo tem de comer para poder dormir, mesmo já tendo realizado a última refeição da noite. Os assaltos noturnos à geladeira são constantes nesse caso.

Ainda podemos encontrar mais dois transtornos alimentares frequentes: a ortorexia e a vigorexia. O primeiro é a obsessão por alimentos saudáveis, causando prejuízos na interação social e uma restrição alimentar importante. Já o segundo é um tipo de delírio emocional obsessivo pelo ganho de músculos a todo custo, acompanhado por uma alimentação restrita, muito específica, com intuito de auxiliar no aumento da massa muscular de maneira descontrolada.

Porém, apesar de saber que as compulsões estão muito relacionadas à ansiedade e à depressão, é importante destacar que para haver o transtorno alimentar, os episódios devem ser recorrentes e não apenas uma eventualidade. Além disso, um mesmo paciente pode apresentar vários transtornos, uma vez que eles estão interligados. 

Dados estatísticos nos mostram que as mulheres, mais do que os homens, são afetadas e fiscalizadas na difícil missão de manter um corpo eternamente jovem, belo, saudável e magro. Independente de gêneros, estudos psicanalíticos buscam encontrar as causas para os transtornos alimentares.

Algumas pontuações são claras e bastante evidenciadas, como é o caso da obesidade – na qual percebe-se que a comida ocupa o lugar da falta, servindo para preencher um vazio, amenizar vácuos inconscientes que nada tem a ver com a comida. Uma necessidade de saciar uma fome desperta por outros gatilhos, transferindo para a comida todas as emoções não gerenciadas.

Outro fator importante diz respeito às dietas milagrosas que prometem felicidade e sucesso imediato, levando o ser humano a verdadeiras atrocidades com o corpo e o emocional. E dentro deste cenário, entende-se que tanto a anorexia quanto a bulimia são guerras declaradas à gordura corporal. 

Essa compreensão das várias faces dos transtornos alimentares está além do corpo e dos alimentos. Passa por severas distorções da forma como o indivíduo se enxerga, da autoimagem e da forma como sua mente relaciona-se com o mundo ao redor, ou seja, o espelho corporal que se tem de si mesmo e a fobia por julgamentos alheios.

Como superar os transtornos alimentares

Superar os transtornos alimentares é um desafio constante. O primeiro passo é a pessoa querer se curar, pois, em muitos casos, é possível que outros transtornos psíquicos – como depressão, fobia, pânico, bipolaridade, alteração de humor, ansiedade e outros – estejam associados.

Por isso, é importante ter em mente que o trabalho terapêutico não acontece de forma rápida. Uma rede de apoio é fundamental, já que durante o processo são possíveis algumas recaídas – motivo pelo qual o tratamento passa por uma abordagem terapêutica multidisciplinar, envolvendo nutricionistas, psicanalistas e psiquiatras. 

Portanto, os transtornos alimentares são uma condição grave, de comportamentos persistentes, que afetam de forma negativa a saúde do indivíduo, gerando emoções desconfortáveis, dificultando o convívio e o desenvolvimento das habilidades sociais. Fato é que o estigma do peso e a busca pelo corpo perfeito, cada dia mais presentes na nossa sociedade, alteram o diálogo saudável entre o que comemos e o nosso corpo.

Sendo assim, o mais importante é identificar como está configurada a relação com a alimentação e tomar consciência do tipo de transtorno alimentar que possa estar se manifestando. Afinal, você não é o seu transtorno. Essa clareza emocional auxilia e muito o indivíduo na busca pelo sucesso do tratamento.

Além disso, o ponto de partida está em verificar se essa conexão com os alimentos traz alguma dor ou prejuízo. Se a constatação for afirmativa, é bem possível que exista – um ou mais – distúrbios instalados impedindo o equilíbrio físico e mental.

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