A Semana Mundial de Aleitamento Materno (#SMAM2023 ou WBW, na sigla em inglês) tem como tema a relação entre amamentação e emprego/trabalho. Mas no Brasil, onde a licença-maternidade é de 4 meses, como incentivar as mães a amamentarem seus bebês até os seis primeiros meses de idade, como recomenda a Organização Mundial de Saúde (OMS)? E como ficam as mães que não têm vínculo empregatício ou atuam na informalidade e precisam trabalhar?

Muitas mães enfrentam desafios ao amamentar seus bebês, especialmente quando retornam às atividades profissionais, após a licença-maternidade. O art. 396 da CLT estabelece que, para amamentar o próprio filho, até que este complete 6 (seis) meses de idade, a mulher terá direito, durante a jornada de trabalho, a 2 (dois) descansos especiais, de meia hora cada um.

“Como podemos promover a amamentação se existe essa diferença entre a indicação da OMS e a lei trabalhista brasileira?”, provoca Cinthia Calsinski, enfermeira obstetra e consultora Internacional de Lactação pela IBCLC. “Sem contar as trabalhadoras informais que sequer têm licença maternidade”, arremata.

Para se ter uma ideia desse quadro, o estudo Ocupação Materna e Duração do Aleitamento Materno Exclusivo, de 2021, apurou que aproximadamente 64% das crianças nascidas de mulheres que não tinham trabalho remunerado foram amamentadas exclusivamente até que completassem 4 meses e 46% foram amamentadas até os 6 meses de vida. Apontou ainda que mães com jornadas de trabalho de 8 horas ou mais amamentaram menos seus filhos, até no máximo quarto mês.

Organizada pela World Alliance for Breastfeeding Action (WABA, em inglês), a campanha atual tem a intenção global de mostrar o impacto da licença remunerada, do suporte à mãe no local de trabalho e das normas parentais emergentes sobre a amamentação. Em coro com a #SMAM2023, Cinthia reconhece a necessidade de políticas públicas para promover, de fato, a amamentação, mas entende que as empresas privadas também podem contribuir de maneira autônoma com esse cenário.

“Questões como flexibilidade para home office se for o caso, uma sala de apoio para ordenhar e armazenar leite, auxílio com profissional especializado no início da lactação e apoio no retorno ao trabalho para que não haja um desmame precoce são ações completamente possíveis”, sugere a consultora.

Por fim, Cinthia reforça o caráter expansivo da campanha, que não tem a intenção de apenas instruir mulheres, mas, sim, de contextualizar toda uma sociedade a respeito da importância desse momento da vida da mulher e do bebê.

“O Agosto Dourado tem a intenção de conscientizar as outras pessoas: o chefe, o amigo, o vizinho, os colegas de trabalho. São estes que precisam entender que também estão envolvidos, que fazem parte, que podem promover, cooperar e incentivar quem está passando por isso”, alerta a especialista.

‘Uma responsabilidade compartilhada pela sociedade’

O incentivo à amamentação no local de trabalho é uma das ações defendidas pela ONG Prematuridade.com., que no mês de agosto promoverá série de lives pelo Instagram (@ongprematuridadecom), atividades e debates com importantes especialistas sobre o assunto.

De acordo com a vice-diretora da ONG Prematuridade.com., Aline Hennemann, a conscientização sobre a amamentação no local de trabalho e, especialmente, o cuidado com os bebês prematuros, é uma responsabilidade compartilhada por toda a sociedade.

“Governos, organizações, profissionais de saúde, famílias e indivíduos devem trabalhar juntos para apoiar as mães que desejam amamentar e garantir que os bebês prematuros recebam todo o cuidado e atenção necessários para o seu crescimento saudável”, diz ela, que também é enfermeira neonatal e docente na área.

Segundo a OMS e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o aleitamento materno é considerado o melhor e mais completo alimento para os bebês até o sexto mês, sendo essencial para a saúde e desenvolvimento da criança.

“No caso de um prematuro, a amamentação desempenha um papel crucial. Além dos nutrientes essenciais e anticorpos necessários, a amamentação fortalece o sistema imunológico ainda imaturo, além de fortificar o vínculo emocional entre mãe e filho”, explica a vice-diretora da ONG Prematuridade.com.

Aline ainda defende que é crucial que as empresas implementem políticas de apoio à amamentação, fornecendo espaços adequados para a extração do leite materno e horários flexíveis para a realização dessa importante tarefa.

“Ao atuar nesse sentido, as empresas demonstram seu compromisso com a saúde e o bem-estar das mães e bebês, promovendo um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo”, diz.

Dicas de ouro para manter a amamentação mesmo na volta ao trabalho

Cinthia Calsinski, enfermeira obstetra e consultora internacional de Lactação (Foto: Divulgação)

Convicta de que as mulheres devem tentar manter a amamentação mesmo quando voltam ao trabalho, Cinthia compartilha uma lista de dicas para mães que vão enfrentar esse momento.

“O leite tem uma função incrível que chamamos de imunomoduladora, que faz com que ele se adapte às necessidades nutricionais e imunológicas do bebê. Mas, para que seja possível continuar amamentando na volta ao trabalho, será necessário vencer vários obstáculos difíceis. Mas, vale cada gota, cada dificuldade vencida, cada desafio superado”, incentiva.

  1. Quantas mamadas? Calcular aproximadamente quantas mamadas o bebê fará na sua ausência. Exemplo: se você se ausentará das 8h às 17h, o bebê em aleitamento exclusivo fará 3 mamadas nesse período;
  2. Quantos ml? Para cada mamada, serão necessários aproximadamente 120 ml a 150ml (bebês de 1 a 6 meses, em aleitamento exclusivo).

“Sabendo a quantidade diária que precisará, e o volume que consegue ordenhar a cada vez, você saberá a quantidade de ordenhas necessárias por dia para seu estoque”, indica Cinthia, acrescentando que os primeiros dias servirão como parâmetro, “porque a tendência do bebê é sempre mamar menos no copinho do que diretamente no seio”, conta.

  1. Qual recipiente? Não utilizar a mamadeira, para que não haja confusão de bicos, isso é uma dica bem importante. Use copo aberto, copo 360, copo de transição com ou sem canudo. São opções que sustentam a amamentação a longo prazo, diferente da mamadeira.
  2. E quando estiver em casa? É importante amamentar em livre demanda antes de sair e ao retornar, inclusive e principalmente durante a noite, quando a produção de prolactina é mais eficiente.
  3. Quando ordenhar? A ordenha deve ser feita inicialmente em intervalos regulares, preferencialmente respeitando a rotina do bebê ao seio. O ideal seria 1 ordenha a cada 3 horas durante o período de ausência, se o bebê estiver em aleitamento exclusivo.
  4. Como armazenar e usar o leite? De preferência, deve ser congelado imediatamente. Se não for possível, deve ser levado à geladeira e congelado logo que chegar em casa. Para descongelar, sempre que possível, passar do freezer para a geladeira para ser um processo gradual, e tirar o gelo/aquecer levemente em banho maria.
  5. Dica bônus: É importante ter um estoque como prevenção para os dias em que a ordenha não foi possível ou não tão efetiva.

Empresas investem em ações para incentivo à amamentação

O mês de agosto é dedicado em todo o mundo à conscientização sobre a importância do aleitamento materno. Criada há duas décadas pela OMS, a campanha Agosto Dourado (a cor está relacionada ao padrão ouro de qualidade do leite materno) enfatiza a estimulação ao ato de amamentar.

Neste ano, a World Alliance for Breastfeeding Action (WABA), a Aliança Mundial de Ação Pró-Amamentação – rede global de indivíduos e organizações dedicadas à proteção, promoção e apoio ao aleitamento materno – definiu que a temática devia estar  alinhada com os objetivos da Agenda 2030 que é “Fortalecer a amamentação: educando e apoiando”, no local de trabalho.

O tema da campanha deste ano – “Amamentação e o emprego/trabalho” – traz luz à importância do apoio das empresas e empregadores para que suas colaboradoras possam seguir amamentando após o retorno ao trabalho.

Na nova pesquisa do Instituto Great Place To Work, divulgada em março deste ano, o setor de biotecnologia e farmacêutico lidera o pódio, com 40% das empresas na lista das 10 melhores empresas com atenção à primeira infância, o que inclui ações de incentivo à amamentação. A Eurofarma, farmacêutica há 22 anos no Brasil, está entre elas.

Com Assessorias

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