Em um cenário de crescente frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como as chuvas e as ondas de calor que afetaram a Rio de Janeiro nas últimas semanas, blocos de Carnaval se uniram ao movimento As Águas Vão Rolar e protocolaram uma carta junta à Prefeitura para solicitar medicas adicionais de segurança e ações para minimizar possíveis problemas com os eventos climáticos extremos durante a festa.
Um dos destaques é a distribuição gratuita de água: os blocos querem que a prefeitura garanta o fornecimento de água potável em locais de grande aglomeração, em conformidade com a Portaria nº 35/2023 do Ministério da Justiça. A previsão da prefeitura é que a cidade atraia 6 milhões para os blocos até o fim do carnaval.
A carta é dirigida Secretaria de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro, à Coordenação Municipal de Defesa Civil , Secretaria Municipal de Saúde e Comissão Especial de Organização do Carnaval de Rua 2025. Desde primeiro de fevereiro, o pré-carnaval oficial do Rio já teve mais de 1,5 milhões de foliões, segundo a Riotour.
A gestão de cultura e eventos tem que se atualizar e o Prefeito do Rio de Janeiro deve garantir água livre e acessível para as pessoas que participam do carnaval. Água é um direito”, conclui Jonaya de Castro, gestora cultural e diretora do Instituto Lamparina, que apoia o movimento.
Crise climática no Rio
Na carta, o movimento As Águas Vão Rolar ressalta que a situação climática atual, com previsões de um verão com temperaturas acima da média, reforça a necessidade de ações efetivas para proteger a vida e a saúde das milhares de pessoas que vão participar ou trabalhar no evento. Segundo o documento, a intensidade e a frequência de eventos climáticos extremos no Brasil estão em ascensão devido às mudanças climáticas.
Previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da agência norte-americana NOAA (sigla em inglês para Administração Oceânica e Atmosférica Nacional) indicam chuvas abaixo da média, mas com a possibilidade de eventos extremos, além de temperaturas superiores à média para o verão de 2025.
Estamos solicitando à Prefeitura soluções conectadas a adaptação climática, ao Rio que era 40 e agora está 50 graus, e que precisam ser incorporadas ao Carnaval da cidade, especialmente em um contexto meteorológico cada vez mais desafiador”, explica Maíra de Oliveira, diretora do Bloco Love Songs, que assina o documento.
Também assinam o documento os blocos Nova Bad, About Bloco, About Carnaval, Caetano Virado, Charanga Talismã, Cidade Pirata, Ibrejinha, Multibloco e O Baile Todo. A iniciativa conta também com o apoio da Coalizão pelo Clima no Rio de Janeiro.
Blocos chegam a propor até adiamento do Carnaval
Além da distribuição de água de graça nos blocos, outras recomendações da carta são:
- Preços acessíveis para água: recomendar que se estabeleça a distribuição e/ou a venda de águas em copo ou garrafa plástica com preço mais barato e acessível em comparação à venda de bebidas alcoólicas fermentadas ou destiladas.
- Flexibilidade nos horários: permitir alterações nos horários de concentração, desfile e dispersão dos blocos em caso de calor intenso ou chuvas fortes, priorizando a saúde pública.
- Novas datas: propor o adiamento da programação do Carnaval para os dias 15 e 16 de março em situações de calamidade.
- Limpeza e gestão de resíduos: assegurar apoio em infraestrutura de banheiros e limpeza pública durante os blocos, além de estabelecer o cumprimento das obrigações previstas no Decreto Rio nº 51.958, de 24 de janeiro de 2023, que dispõe sobre gerenciamento de serviços de limpeza adequados durante os eventos públicos e privados.
- Gabinete de crise: criar um gabinete que monitore em tempo real as condições climáticas e responda rapidamente a emergências durante o Carnaval.
- Plano de contingência: criação de um planejamento que não apenas atenda a emergências, mas que inclua medidas permanentes de prevenção.
Carnaval em São Paulo
Em São Paulo, o movimento As Águas Vão Rolar reuniu mais de 80 blocos e organizações da sociedade civil e entregou à Prefeitura, no início de fevereiro, documento similar que destaca a importância da distribuição gratuita de água e a criação do Gabinete de Crise.
Em anúncios oficiais, a Prefeitura descartou a possibilidade de mudar os horários dos blocos e divulgou que vai distribuir 2,2 milhões de copos de água durante a festa, o que representa menos de 15% do público esperado.
Confira íntegra da carta e os blocos que já a assinaram: https://asaguasvaorolar.com/