A população carioca encolheu nos últimos 12 anos, como mostrou o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado no final de junho. Em 2010, a cidade do Rio de Janeiro contava com 6.320.446 moradores e passou a ter 6.211.423 em 2022, uma redução de 109.023 pessoas (1,7%). Outros 26, do total de 92 municípios, também tiveram sua população reduzida, o que levou o Estado do Rio, como um todo, a ter um crescimento populacional de apenas 0,40% no período, chegando a 16.054.524 habitantes.

Uma das explicações, segundo especialistas, está na crise econômica e na desindustrialização do estado, que reduziu os empregos e a capacidade de reter moradores, que acabaram migrando para outros estados e até países. Mas outra explicação pode vir dos hospitais e clínicas. É que muitas famílias estão optando por ter menos filhos, muitas delas motivadas pelas dificuldades financeiras. E o Sistema Único de Saúde (SUS) tem facilitado esta decisão.

Somente na cidade do Rio de Janeiro, em apenas dois anos, o número de vagas disponibilizadas na rede pública municipal de saúde para as cirurgias de laqueadura para as mulheres e de vasectomia para os homens aumentou quase seis vezes, saindo de 3.046 para 17.068. A média mensal é de 1.600 vagas abertas para laqueadura e 2.000 para vasectomia apenas nas quatro unidades municipais que realizam os procedimentos, fora as outras das redes federal e estadual.

Segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a cidade bate recorde de oferta desses procedimentos visando o planejamento familiar, sexual e reprodutivo. Somente nos seis primeiros meses de 2023, já foram abertas mais de 17,8 mil vagas para os dois procedimentos. O procedimento teve o tempo de espera reduzido de 247 dias em 2020 para cerca de 50 dias atualmente. e a fila para vasectomia hoje está zerada.

Ainda de acordo com a pasta, o aumento na oferta de laqueaduras e vasectomias é resultado dos investimentos da Prefeitura do Rio para zerar, até 2024, as filas do Sisreg – o Sistema Nacional de Regulação. A SMS informa que aumentou a capacidade dos hospitais da rede municipal para a realização de diversos procedimentos e cirurgias eletivas, atendendo assim à demanda reprimida.

Vasectomia: menos de 2 meses da consulta até a cirurgia

O Super Centro Carioca de Cirurgia, no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla (HMRG), em Acari, é o maior prestador de serviço de vasectomia da rede municipal, com 3.970 pacientes atendidos no primeiro semestre deste ano, mais de 800 deles somente em maio.

O motorista de aplicativo Fabiano Rodrigues, de 33 anos, foi o primeiro paciente a realizar a cirurgia de vasectomia no HMRG, em 2022. Pai de dois filhos e casado há mais de 15 anos com a influenciadora digital Camila Paes, entrou na fila pelo procedimento em 2019. Por conta da suspensão das cirurgias eletivas durante a pandemia, acabou tendo seu processo atrasado.

Logo após a retomada das cirurgias, conseguiu realizar o procedimento: “Recebi um atendimento muito bom no Hospital Ronaldo Gazolla, deu para notar o profissionalismo de todas as equipes”, diz ele.

Bruno, que já tem dois filhos, tomou a decisão de fazer a vasectomia motivado pela situação financeira (Foto: Acervo pessoal)

A suspensão das cirurgias eletivas na pandemia acabou deixando uma demanda reprimida, que hoje consegue andar com celeridade, como no caso do Bruno Palafoz, de 27 anos. Ele levou menos de dois meses desde a primeira consulta até a realização da cirurgia:

“Foi um tempo de espera muito rápido. Tive uma ótima experiência e recomendo muito a unidade”, disse Bruno, que é casado há 13 anos, tem dois filhos, e foi motivado a realizar o procedimento como forma de planejamento familiar, devido à situação financeira.

Na rede municipal, o procedimento é ofertado ainda nos hospitais municipais Francisco da Silva Telles e Rocha Faria.  Já nas redes federal e estadual, é oferecido nos hospitais federais Cardoso Fontes, de Bonsucesso, e da Lagoa; nos hospitais estaduais dos Servidores do Estado e Carlos Chagas. O Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, da Unirio, e a Policlínica Piquet Carneiro, da Uerj, também oferecem a vasectomia.

Ao todo, em 2022, foram ofertadas mais de 219 mil vagas para cirurgias de diversos tipos, contra 89,4 mil em 2020. Em 2023, até o mês de março, já foram 137,4 mil vagas disponibilizadas. Somente as três unidades da rede municipal foram responsáveis por 72,8% dos 9.596 dos atendimentos realizados este ano até o momento.

Tempo de espera para laqueadura caiu para 163 dias

Já a laqueadura tem o Hospital da Mulher Mariska Ribeiro, em Bangu, como o maior prestador do serviço da rede, com 3.411 pacientes atendidas entre janeiro e junho deste ano, mais de 500 somente no último mês.

A cirurgia é realizada ainda nos hospitais municipais Ronaldo Gazolla, da Piedade, Pedro II e Francisco da Silva Telles; no estadual Carlos Chagas; e no Instituto Fernandes Figueira, da Fiocruz. As cinco unidades municipais foram responsáveis por 77% dos 8.222 atendimentos deste ano.

O tempo de espera caiu de 233 dias em 2020 para 163 em 2023, apesar do expressivo aumento da demanda desde março deste ano, devido às novas regras da lei da laqueadura. A nova lei ampliou o público elegível para a cirurgia para toda mulher acima de 21 anos ou com pelo menos dois filhos, independente da idade.

Mulheres se sentem mais seguras após laqueadura

Aline, que tem 3 filhos, não queria mais engravidar, mas temia se sentir ‘vazia por dentro’. Após a laqueadura, ela se sente mais segura (Foto: Acervo pessoal)

A garçonete de hotelaria Aline Ramos, de 33 anos, decidiu fazer a laqueadura por conta de um cisto que a impedia de tomar anticoncepcionais. Casada há quatro anos e mãe de três filhos, a mais nova de 1 ano, ela conta que tinha “medo de se sentir vazia por dentro” após a cirurgia, mas conta que se surpreendeu e hoje está ótima:

“Me sinto muito segura, minha última gestação não foi planejada e agora muda tudo. Eu tinha até vergonha da cicatriz, mas ficou muito boa. Atendimento nota 10 na unidade! Me trataram muito bem, explicaram tudo com atenção total”.

Mãe de 4 filhos, Marta Ribeiro, passista de escola de samba, tinha problemas com os contraceptivos e optou pela laqueadura aos 37 anos (Foto: Acervo pessoal)

Já a passista de escola de samba Marta Ribeiro, 37 anos, tomou a decisão pois os medicamentos contraceptivos causavam muitos enjoos e ela acabava deixando de tomá-los. Mãe de quatro filhos não planejados, ela conta que no início o marido não concordava com a cirurgia, por medo de que algo desse errado, mas ela insistiu e conseguiu fazer o procedimento.

Marta diz que agora poderá se dedicar mais ao Carnaval e sente que foi a melhor escolha: “Me sinto muito bem, tive uma recuperação muito boa. Fui muito bem atendida no Mariska Ribeiro. Para mim, o atendimento foi excelente!”, conta.

Outros métodos contraceptivos nos postos de saúde

Além da vasectomia e da laqueadura, que são métodos contraceptivos permanentes, a SMS disponibiliza em sua rede de atenção métodos temporários, que podem ser revertidos caso a paciente ou o casal decidam ter filhos.

É o caso dos dispositivos intrauterinos (DIU) hormonal e de cobre, que são implantados nas próprias clínicas da família e centros municipais de saúde e têm eficácia semelhante à da laqueadura.

As unidades também dispõem das pílulas anticoncepcionais e dos preservativos, que evitam ainda as infecções sexualmente transmissíveis.

Para decidir sobre qual o melhor método para o seu caso, a mulher ou o casal podem conversar com seu médico ou enfermeira de sua equipe de saúde da família, para orientações.

Com informações da SMS-Rio

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