Apesar da classificação comum, os tipos de câncer infantojuvenil, que afetam crianças, adolescentes e jovens até 19 anos, se diferenciam dos casos em adultos, dadas  as próprias características de desenvolvimento nessa fase da vida. O processo de diagnóstico do câncer em crianças e adolescentes não é tão simples quanto no adulto, pois os sintomas que manifestam são inespecíficos e muitas vezes se assemelham aos de viroses e outras infecções.

É uma questão de observação constante para identificar a persistência desses sintomas e, a partir disso, iniciar uma investigação. O diagnóstico precoce desempenha um papel crucial no aumento das chances de cura entre os mais jovens. É essencial contar com orientações específicas para cada tipo de câncer, uma vez que eles podem apresentar sintomas distintos, e o diagnóstico será realizado com base na manifestação de cada sintoma observado.

“Quando falamos de câncer infantil, estamos nos referindo a um número grande de doenças, que são muito diferentes entre si. Até meados dos anos 1970, crianças e adolescentes com neoplasias recebiam o mesmo tratamento que os adultos, apesar de possuírem características biológicas e orgânicas bem distintas. Hoje, o cenário é bem diferente, com linhas de cuidado específicas para essa parcela dos pacientes, o que garante mais sucesso nos resultados”, diz o oncopediatra Sidnei Epelman, da rede Oncoclínicas.

Ele destaca que os mais jovens tendem a ter respostas mais positivas aos tratamentos. “O importante é garantir que tenham uma linha de cuidado que contempla não só esse olhar para o câncer, como também para a pluralidade de desafios que a fase de crescimento representa, garantindo a essas crianças e adolescentes as condições para se desenvolverem de forma plena em todos os sentidos”, enfatiza o oncopediatra.

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Principais sintomas e sinais

A ginecologista Erika Krogh, integrante da comissão de ginecologia infanto-puberal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), esclarece que os sintomas do câncer na população infantojuvenil frequentemente se assemelham aos sintomas de doenças comuns da infância e adolescência, como viroses.  “Isso torna o diagnóstico precoce desafiador. No entanto, pais e cuidadores devem observar alguns sinais e sintomas”, conta ela.

Esses sinais incluem febre persistente, perda de peso inexplicada, dores ósseas prolongadas, hematomas pelo corpo sem histórico de quedas, sangramento, sangramento gengival, anemia sem causa aparente, anemia persistente, sintomas inespecíficos como dor de cabeça, tontura, falta de equilíbrio, distúrbios visuais, edemas nos olhos, alterações na coloração da pupila, presença de caroços pelo corpo, especialmente nos linfonodos nas axilas e virilha, com consistência mais rígida e aderida aos planos profundos. Tosse persistente, falta de ar, febre noturna com sudorese, fadiga fácil e dores nas pernas e braços também são sintomas que merecem atenção para um diagnóstico adequado.

Nas últimas décadas, o tratamento e as técnicas de diagnóstico evoluíram muito, pautados também pelo maior conhecimento dos mecanismos genéticos que levam ao surgimento da doença. Isso vem mudando o cenário de tratamento, com a adição de novas alternativas terapêuticas que trazem impactos positivos na qualidade de vida desses jovens pacientes oncológicos.

Segundo Erika, a diferença no tratamento entre câncer infantojuvenil e câncer em adultos reside, em grande parte, na questão das doses, que são ajustadas conforme a toxicidade. Frequentemente, a mesma medicação pode ser utilizada, dependendo da tolerância individual. Para cada tipo de câncer, entretanto, há uma abordagem medicamentosa específica, embora não seja possível mencionar todas.

Ao lidar com crianças, é essencial tornar o tratamento o mais acolhedor possível. Muitas vezes, esses pacientes passam longos períodos internados em hospitais, tornando crucial a criação de um ambiente mais acolhedor e lúdico. Isso pode envolver a implementação de salas de recreação, realização de palestras informativas direcionadas às crianças, tornando o processo mais leve. Permitir visitas de colegas, evitando procedimentos desnecessários e dolorosos, é também parte integrante do cuidado destinado às crianças em tratamento “, pontua a médica.

Tratamento específico para crianças e adolescentes com câncer

As opções de tratamento variam de acordo com o tipo de câncer diagnosticado na criança, sendo preferível adotar abordagens menos invasivas sempre que possível. O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza locais específicos para o atendimento desses pacientes, incluindo Centros de Alta Complexidade na maioria dos Estados. Esses centros hospitalares possuem recursos humanos e tecnológicos adequados para oferecer assistência de alta complexidade, desde o diagnóstico até o tratamento e o acompanhamento posterior do paciente.

“Para os pais e cuidadores, é fundamental que as crianças realizem consultas periódicas com pediatras. Além disso, eles devem ser orientados a observar sinais e sintomas persistentes e, caso notem algo diferente durante a rotina, devem buscar atendimento médico. Os serviços de saúde proporcionam a oportunidade de consultas regulares, permitindo um acompanhamento contínuo com pediatras na atenção básica. A atuação efetiva da vigilância e promoção de saúde nesse contexto visa disseminar informações tanto para os profissionais de saúde quanto para as famílias, promovendo a prevenção e o diagnóstico precoce “, conclui a Dra. Erika.

O especialista reforça ainda que a jornada de combate ao câncer infantojuvenil contempla a realização de terapias em centros oncológicos dedicados ao tratamento de tumores pediátricos, a utilização de protocolos cooperativos e uma linha de cuidados de suporte, essencial para garantir um olhar plural para as necessidades de pacientes que estão ainda em fase de transformação e desenvolvimento, tanto físicos quanto emocionais.

“Os oncologistas pediátricos atuam, assim, em conjunto e integrados a equipes multidisciplinares, que contam com a colaboração de cirurgiões, radioterapeutas, patologistas, hematologistas, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas, entre outros profissionais”.

Oncologia de Precisão com sequenciamento genético

    

Exatamente por estarem em fases de grandes transformações em seus corpos, os tumores que atingem crianças e adolescentes também se comportam de forma diferente daqueles que surgem em adultos. Na maioria dos casos, os tumores nessa primeira fase da vida são constituídos de células indiferenciadas, o que permite uma melhor resposta aos tratamentos.

“As chances de cura, a sobrevida e a qualidade de vida são maiores quanto mais precoce e preciso for o diagnóstico, pois apenas com essas informações é possível determinar o tratamento mais efetivo para aquele paciente”, explica o oncopediatra Sidnei Epelman.

Nesse sentido, as ferramentas, tecnologias e inovações da Medicina de Precisão visam exatamente uma maior assertividade e efetividade no diagnóstico. Isso possibilita tratamentos cada vez mais personalizados, ou seja, que consigam atingir cada pessoa e sua doença da forma mais precisa possível.

O sequenciamento genético permite que seja possível conhecer detalhadamente o tumor, sua evolução e particularidades. Com isso, se torna possível pensar em soluções, inclusive pediátricas, para combater essa doença com menores efeitos colaterais e de forma mais efetiva, melhorando o prognóstico em diferentes casos e tipos de tumores.

“A análise genômica é uma das alternativas que vem sendo usada, inclusive em casos de tumores pediátricos, com bons resultados para a leucemia, o mais comum entre as crianças e adolescentes, e outros tipos de tumores que afetam essa parcela da população. Esse conhecimento científico avançado oferece um novo horizonte para a assistência integral, completa e totalmente individualizada, que respeita as necessidades e a história de vida de cada indivíduo”, pontua o especialista.

Com Assessorias

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