A maior dificuldade está no fato de que os sintomas do câncer de ovário são inespecíficos e facilmente confundidos com outros problemas digestivos ou ginecológicos. Muitas mulheres convivem com inchaço abdominal, dor pélvica e alterações urinárias sem imaginar que podem estar diante de algo mais grave”, explica Caetano da Silva Cardial, cirurgião oncológico e mastologista.
Sintomas e fatores de risco
Os principais fatores de risco para esse tipo de tumor são: idade superior a 50 anos, histórico familiar de câncer de ovário ou de mama ou colorretal, terapia hormonal pós-menopausa e infertilidade ou ausência de filhos, além da presença de mutações genéticas nos genes BRCA1 e BRCA2.
Os sinais mais comuns são inchaço abdominal persistente, dor pélvica ou abdominal, dificuldade para se alimentar ou sensação de saciedade rápida, alterações urinárias. Outros sintomas também precisam de atenção como: alteração no ciclo menstrual, dificuldade para comer ou sentir-se cheio rapidamente, alterações nos hábitos intestinais (prisão de ventre, diarreia) e cansaço extremo.
Em razão de ser uma doença silenciosa com números alarmantes, especialistas destacam a importância da prevenção e do acompanhamento regular.
Precisamos falar mais sobre a doença e sobre a importância do diagnóstico e isso se faz com informação. Quanto mais cedo identificarmos os riscos, maiores as chances de sucesso no tratamento e na preservação da qualidade de vida da paciente”, ressalta Dr. Caetano.
Novos métodos para o diagnóstico da doença
Embora o ultrassom transvaginal e o marcador tumoral CA-125 sejam ferramentas valiosas no acompanhamento de mulheres com sintomas sugestivos ou histórico familiar de câncer de ovário, eles não são recomendados como exames de rotina para todas as pacientes. Isso se deve à possibilidade de resultados imprecisos, incluindo falsos positivos e negativos, que podem levar a intervenções desnecessárias ou à falsa sensação de segurança.
Esses exames podem ajudar a identificar alterações nos ovários, mas ainda não são eficazes o suficiente para serem usados como rastreamento em larga escala, como acontece com a mamografia para o câncer de mama”, explica o médico.
Atualmente, há métodos de imagem mais sensíveis e específicos para a avaliação de neoplasias ginecológicas, como a ressonância magnética multiparamétrica e o PET-CT com 18F-FDG, que desempenham papel fundamental na avaliação de extensão tumoral e na detecção de recorrências. Além disso, marcadores tumorais séricos, embora inespecíficos, podem ser úteis no seguimento clínico de determinadas pacientes.
Inteligência artificial como aliada nos exames de imagem
Recentemente, ferramentas baseadas em inteligência artificial têm sido integradas à análise de exames de imagem, contribuindo para a identificação precoce de padrões radiológicos sutis, o que representa um avanço promissor no refinamento diagnóstico e na personalização do tratamento.
Além disso, existem estudos promissores com fluorescência que utilizam a expressão de receptores tumorais específicos – como o OTL38 que se liga no receptor de alfa-folato expresso parte dos cânceres do ovário que podem auxiliar o cirurgião a ressecar lesões pequenas difusas no abdome. O interessante é que existem imunoterápicos que atuam no mesmo neste mesmo receptor, sendo uma terapia-alvo promissora”, diz Luiz Lessa, ginecologista oncológico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Segundo o especialista, essas inovações vêm modificando significativamente a evolução natural da doença e aumentando as chances de sobrevida destas pacientes. Além de possibilitar, novos protocolos de quimioterapia personalizada e terapias-alvo molecular na abordagem terapêutica.
Estamos entrando em uma era de medicina de precisão. Tratamentos mais direcionados, baseados no perfil genético do tumor, e abordagens cirúrgicas mais precisas com a finalidade de reduzir efeitos colaterais e aumentam a eficácia. O panorama do câncer de ovário mudou e, o desenvolvimento tecnocientífico médico das novas terapias para o câncer do ovário serão um divisor de águas” afirma Dr. Lessa.
O papel da medicina nuclear no diagnóstico do câncer de ovário
No Maio Verde — mês dedicado à conscientização sobre a doença — especialistas alertam para a importância da informação, dos exames de imagem e dos avanços da medicina nuclear como aliados no combate a esse tipo de câncer, que atinge milhares de mulheres todos os anos.
O diagnóstico precoce é essencial para o sucesso do tratamento e a medicina nuclear tem desempenhado um papel cada vez mais fundamental no rastreamento, estadiamento e acompanhamento do câncer de ovário. A avaliação clínica é normalmente acompanhada de exames de imagem, como ultrassonografia transvaginal e tomografia computadorizada.
O tratamento do câncer de ovário pode envolver cirurgia, quimioterapia, radioterapia e, em alguns casos, terapias-alvo. A escolha depende do estágio da doença, da idade da paciente e de outros fatores clínicos. A medicina nuclear também pode ser utilizada para avaliar a eficácia do tratamento em tempo real, ajustando estratégias conforme a resposta do organismo.
Câncer de ovário e a importância do rastreamento genético
Exame identifica alterações no DNA da paciente e contribui para escolha de terapias personalizadas
O mapeamento genético é hoje uma das estratégias mais eficientes para identificar mulheres com predisposição à doença e traçar um plano de acompanhamento individualizado. O teste do gene BRCA procura alterações no DNA que aumentam o risco de câncer de mama e de ovário. Ele utiliza uma amostra de sangue ou saliva para identificar essas alterações.
Além das mutações no BRCA, outras alterações genéticas também podem aumentar o risco de câncer de ovário. Nesses casos, a realização de um painel multigênico — um teste genético que analisa simultaneamente diversos genes associados ao câncer hereditário — torna-se uma ferramenta valiosa para uma avaliação de risco mais abrangente.
Os resultados dos testes genéticos nem sempre são claros e precisam de interpretação médica. “Um resultado positivo indica a presença de uma alteração genética associada a um risco aumentado de câncer, mas não garante que a doença se manifestará. É essencial consultar um especialista para compreender o resultado e planejar estratégias de monitoramento e prevenção adequadas para a paciente”, comenta Luiz Lessa, ginecologista oncológico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Se você tem dois ou mais parentes de primeiro grau com histórico de câncer de mama ou casos múltiplos de tumores relacionados como ovário, endométrio, cólon ou reto, pâncreas e próstata, é recomendável buscar orientação de um mastologista ou ginecologista oncológico para avaliar a necessidade de realizar um teste genético”, finaliza o especialista.
Conscientização salva vidas
Diante da agressividade da doença e dos desafios no diagnóstico, a informação e a prevenção são aliadas essenciais. A detecção precoce pode aumentar significativamente as chances de cura, por isso, é fundamental que as mulheres estejam atentas aos sinais do corpo e mantenham seus exames ginecológicos em dia.
Neste mês de conscientização, especialistas reforçam que a união entre tecnologia, medicina de precisão e atenção à saúde da mulher pode transformar a realidade do câncer de ovário, promovendo diagnósticos mais assertivos e tratamentos mais eficazes.
Com Assessorias