No último domingo (3/11), James Van Der Beek, protagonista da série “Dawson’s Creek”, contou em entrevista publicada na revista People que foi diagnosticado com câncer colorretal. O ator, de 47 anos, diz que se sente otimista em relação ao seu tratamento. “Tenho lidado com esse diagnóstico de forma privada e tomado medidas para resolver, com o apoio da minha família incrível”.
Diagnósticos de câncer colorretal – também conhecido como câncer dio intestino grosso – em pessoas abaixo dos 60 anos estão cada vez mais comuns em um cenário que, segundo especialistas, é preocupante. É o que aponta o estudo publicado neste início de ano na “CA: A Cancer Journal of Clinicians”.
A pesquisa, realizada pela American Cancer Society (ACS), analisou a incidência da doença, assim como a mortalidade, em todas as faixas etárias de 1995 até 2020 na população dos Estados Unidos. A pesquisa mostrou que a taxa de mortalidade geral vêm caindo, mas que os diagnósticos em pessoas jovens sobem há décadas.
Os dados apontam que 13% dos pacientes diagnosticados com câncer colorretal têm menos de 50 anos, um percentual que cresceu 9% em comparação a períodos anteriores. Na pesquisa americana, para os jovens adultos, esse tipo de tumor tornou-se ainda a principal causa de morte nos homens e a segunda principal causa nas mulheres, atrás apenas do câncer de mama. No final da década de 1990, ocupava o quarto lugar entre homens e mulheres com menos de 50 anos.
De acordo com relatório publicado pela American Cancer Society (ACS), as taxas de câncer colorretal estão aumentando entre pessoas na faixa dos 20, 30 e 40 anos – ao mesmo tempo em que a incidência diminui em pessoas com mais de 65 anos.
Com base em dados do estudo da Universidade de Missouri-Kansas City, nos Estados Unidos, a pesquisa demonstra que, em duas décadas (de 1999 a 2020), a incidência desse tipo de tumor cresceu 500% na faixa dos 10 aos 14 anos; 333% dos 15 aos 19, e 185% dos 20 aos 24.
Para a médica oncologista Renata D’Alpino, especialista em tumores gastrointestinais e neuroendócrinos da Oncoclínicas, o aumento contínuo da incidência é “muito preocupante”.
Embora a gente saiba que o câncer é um doença de causa muitas vezes multifatorial, precisamos olhar o que mudou nessas últimas décadas em termos de fatores ambientais. E a epidemia de obesidade é provavelmente um fator que contribui para o aumento das taxas. Mas não é tudo e muitas pesquisas, estudos e trabalhos estão sendo feitos para tentar descobrir o que exatamente está causando um risco aumentado de câncer colorretal. Ainda não temos todas as respostas”, explica.
O crescimento dos casos de câncer colorretal é um aviso para a população, de que os jovens adultos estão perdendo os primeiros sinais de alerta do câncer colorretal, ou seja, não estão atentos aos primeiros sintomas que podem diagnosticar a doença. Muitas vezes o tumor só é descoberto tardiamente, diante de sintomas mais severos.
Para a médica, os novos dados reforçam a importância da conscientização sobre a manutenção do acompanhamento médico contínuo para o diagnóstico do câncer colorretal em estágios iniciais.
É preciso estimular o conhecimento da população em geral sobre como é feita a detecção precoce de tumores e disponibilizar os serviços necessários, que incluem a disponibilidade de médicos, exames e tecnologias. Quanto mais cedo descoberta a doença, melhor o prognóstico, com resultados positivos às terapias e maiores chances de cura”, frisa Renata D’Alpino.
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Câncer de intestino é o terceiro tumor mais recorrente no Brasil
Atualmente, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer colorretal é o terceiro mais incidente no Brasil. Para 2024 são previstos 45.630 novos casos da doença no país, o equivalente a 21,10 casos por 100 mil habitantes. Esse tipo de câncer ocupa a terceira posição entre os mais frequentes no Brasil, e pode atingir tanto homens quanto mulheres, embora seja mais incidente na população masculina.
Entre os fatores que podem aumentar o risco de câncer colorretal estão obesidade, sedentarismo, alimentação inadequada, tabagismo e alcoolismo. É importante enfatizar que apresentar um fator de risco não significa a doença se desenvolverá.
Há também fatores de risco que não podem ser alterados, como a idade. O câncer colorretal é mais comum após os 50 anos e entre pessoas com histórico pessoal ou familiar de pólipos adenomatosos ou câncer colorretal, histórico pessoal de doença inflamatória intestinal, síndromes hereditárias e diabetes tipo 2.
O câncer colorretal, quando descoberto precocemente, tem chances de cura entre 90% e 95%. Para pessoas que não apresentam sintomas e não possui histórico familiar, o recomendado é fazer o exame a partir dos 45 anos e repeti-lo conforme recomendação médica.
O câncer de intestino é um tumor maligno, que se desenvolve no intestino grosso (colón) ou em sua porção final (reto). É uma doença que surge a partir de mutações genéticas em lesões benignas, como os pólipos, lesões pequenas que crescem nas paredes do intestino e servem de alerta ao paciente.
A importância da colonoscopia como prevenção do câncer colorretal
Por ser silencioso, a maneira mais fácil de detectá-lo em suas fases iniciais é através da colonoscopia
A principal forma de diagnóstico e prevenção é através do rastreamento do exame de colonoscopia, em que um aparelho chamado colonoscópio, que conta com uma câmera na ponta, é introduzido no intestino e faz imagens que revelam se há presença de possíveis alterações. No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda iniciar o rastreio do câncer de cólon e reto da população adulta de risco baixo na faixa etária de 50 anos.
Mesmo antes de os sintomas e sinais aparecerem, o câncer colorretal pode ser diagnosticado com exame de colonoscopia. Semelhante à endoscopia, o procedimento capta imagens da porção final do intestino delgado, do intestino grosso (cólon) e do reto. Além de tumores, o procedimento pode detectar outras enfermidades, como doenças inflamatórias do intestino.
O exame é realizado sob sedação endovenosa, ou seja, permite que o paciente durma e não sinta nenhum desconforto durante o procedimento, que investigará possíveis lesões na superfície interna do intestino.
O procedimento dura em torno de 40 minutos e o paciente só deve realizá-lo caso esteja acompanhado, pois o uso de sedativos causa sonolência e alteram atenção e equilíbrio. “É um exame muito importante para o diagnóstico precoce do câncer colorretal. Com a detecção do tumor em fases iniciais, aumentam as chances de sucesso do tratamento”, explica Sérgio Teixeira, diretor médico da Ferring Brasil.
Além de sinais sugestivos do câncer intestinal, o exame identifica doenças inflamatórias do intestino, como a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, que também podem apresentar como sintomas diarreias crônicas e sangramentos nas fezes.
A melhor forma de investigar esses sinais e confirmar ou descartar a presença de câncer de intestino é com exame de colonoscopia. Na maioria dos casos, a colonoscopia deve ser feita entre 45 e 50 anos, com intervalos de 3 a 10 anos, a depender da recomendação médica. Se houver histórico familiar de câncer de intestino ou retocolite ulcerativa, a colonoscopia pode ser realizada antes.
O procedimento capta imagens da porção final do intestino delgado, do intestino grosso e do reto. Além de tumores, o procedimento pode detectar outras enfermidades, como doenças inflamatórias.
Após diagnóstico e identificação do estadiamento da doença, o paciente deve discutir com o médico qual tratamento será utilizado, considerando os benefícios à saúde e os possíveis efeitos colaterais. Atualmente, os pacientes podem contar com tratamento local, como cirurgia e radioterapia, e o tratamento sistêmico, que inclui a administração de medicamentos via oral ou via intravenosa, como quimioterapia e imunoterapia.
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Câncer colorretal costuma ser silencioso
O tumor colorretal se desenvolve no intestino grosso: no cólon ou em sua porção final, o reto. O principal tipo de tumor colorretal é o adenocarcinoma e, em 90% dos casos, ele se origina a partir de pólipos na região que, se não identificados e tratados, podem sofrer alterações ao longo dos anos, podendo se tornar o câncer.
Entre os fatores que podem aumentar o risco de câncer de intestino estão obesidade, sedentarismo, alimentação inadequada (principalmente dietas ricas em ultraprocessados), tabagismo e alcoolismo. É importante enfatizar que apresentar um fator de risco não significa que a doença se desenvolverá.
O câncer colorretal costuma ser silencioso e, de modo geral, causa sintomas apenas em estágios mais avançados”, explica Sérgio Teixeira, diretor médico da Ferring Brasil.
A oncologista Renata D’Alpino lembra que pessoas com histórico pessoal de pólipos ou de doença inflamatória intestinal, como retocolite ulcerativa e doença de Crohn, bem como registros familiares de câncer colorretal em um ou mais parentes de primeiro grau, principalmente se diagnosticado antes de 45 anos, devem ter atenção redobrada e realizar controles periódicos antes da idade base indicada para a população em geral.
Sangue nas fezes e hemorroidas merecem atenção
Sangue nas evacuações, alterações no hábito intestinal, constipação, cólicas e inchaço abdominal podem ser indicadores do problema. Além disso, existem sintomas pouco específicos que podem estar presentes também em outras doenças, como fadiga, perda de peso e anemia crônica.
O sinal de alerta mais comum é a detecção de sangue nas fezes, mas, além desse, outros sintomas que não devem ser ignorados são: dor abdominal, alterações nos hábitos intestinais, constipação ou diarreia sem causas aparentes; fraqueza; gases e cólicas abdominais; anemia e emagrecimento.
Apesar de o sangue nas fezes ser um indício inicial de que algo não vai bem na saúde, muitas pessoas costumam creditar essa ocorrência a outras causas convencionais, como hemorroidas, e acabam postergando a busca por aconselhamento médico e a realização de exames específicos. Isso faz com que muitas pessoas só descubram o câncer em estágios avançados.
Grande parte dos tumores de intestino aparecem a partir dos chamados pólipos, que são lesões benignas que crescem na parede interna do órgão, mas que se não identificadas preventivamente podem evoluir e se tornarem malignas com o passar do tempo”, explica a oncologista Renata D’Alpino.
Após os 50 anos de idade, a chance de apresentar pólipos aumenta, ficando entre 18% e 36%, o que consequentemente representa um aumento no risco de tumores malignos decorrentes da condição a partir dessa fase da vida e, por isso, ela foi estabelecida como critério para início do rastreio ativo
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Prevenção consiste em mudanças no estilo de vida
A prevenção primária e secundária à doença devem ser amplamente estimuladas. “A primária se refere a mudanças nos hábitos alimentares e de vida, como investir alimentos com mais fibras e laticínios e evitando carnes vermelhas e processadas. Essas mudanças de estilo de vida consistem ainda em combater a obesidade, praticar atividades físicas regularmente e evitar o tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas”, destaca Renata D’Alpino.
Já a prevenção secundária se baseia em exames que avaliam a presença de sangue oculto nas fezes e de imagem, com destaque para a colonoscopia – principal ferramenta para identificar o câncer colorretal.
Esse procedimento é capaz de identificar problemas mais graves e silenciosos, como o caso do câncer, além da doença de Crohn e retocolite ulcerativa. Por isso, é fundamental que informações de qualidade sejam transmitidas à sociedade com o objetivo de conscientizar sobre a importância da colonoscopia e, principalmente, alertar que o exame pode salvar vidas”, complementa a especialista.
Renata D’Alpino reforça que hábitos de vida saudáveis são considerados fatores protetivos que contribuem para a redução de riscos da doença. Por isso, é fundamental investir em uma dieta rica em fibras e prática de exercícios físicos regulares. Esses cuidados podem não só auxiliar na prevenção do câncer colorretal, como no combater o crescimento dos casos de câncer como um todo.
Atenção aos diagnóstico precoce e mudança de protocolo
Para a oncologista da Oncoclínicas, um ponto de grande relevância no combate ao câncer colorretal é o estabelecimento de uma recomendação mais clara para triagem de casos assintomáticos, quando não há sinais de sintomas clássicos que podem levantar suspeitas – caso de sangramentos corriqueiros visíveis nas fezes – entre a porção da população com menos de 50 anos.
Entre as ações possíveis, a especialista destaca uma iniciativa liderada pela US Preventive Services Task Force que considera que testes menos invasivos poderiam ser iniciados precocemente e repetidos com intervalos menores em comparação à colonoscopia. Além disso, prevê mudar a idade de rastreamento para os 45 anos, devendo ser repetido a cada 5 anos em caso de resultados normais, como já vem sendo sugerido desde 2019 pela ACS.
Nos EUA o debate sobre uma possível mudança de protocolo, passando a adotar a idade de 45 anos como recomendada para o início do rastreio periódico, está sendo baseada na avaliação de centenas de levantamentos e ensaios clínicos que levam em conta o perfil de pessoas assintomáticas na faixa etária acima dos 40 anos.
Uma forma possível de ampliar as chances de prevenção seria a indicação de pesquisa das fezes, por meio de testes imunoquímicos e testes de sangue oculto nas fezes em pessoas mais jovens e que não apresentam mudanças de saúde perceptíveis. De acordo com os resultados, havendo achados suspeitos, a colonoscopia seria então realizada”, ressalta a Renata D’Alpino.
Com Assessorias