A busca por mais rendimento e menos dor tem levado muitos praticantes de atividade física a recorrer a medicamentos por conta própria — uma prática comum, mas que pode trazer sérias consequências. Especialistas alertam para os riscos do uso indiscriminado de anti-inflamatórios, relaxantes musculares e até da tadalafila, substância indicada para disfunção erétil, mas cada vez mais usada como pré-treino, principalmente por jovens.
Um medicamento que virou “moda” nos bastidores das academias é a tadalafila, mais conhecida por sua indicação no tratamento da disfunção erétil. De acordo com o urologista Alexandre Sallum, do Hospital Santa Catarina – Paulista, o uso da substância como pré-treino se baseia em uma crença sem fundamento.
A ideia de que a tadalafila melhora o desempenho físico por causar vasodilatação é apenas especulativa. Não existe nenhuma evidência científica de que esse uso traga benefícios, e ele pode ser perigoso”, esclarece.
Entre os efeitos colaterais estão taquicardia, falta de ar, dor de cabeça intensa e alterações na pressão arterial. “Em casos mais graves, pode haver infarto ou AVC. O uso sem prescrição é um risco real, principalmente para quem já faz uso de outros medicamentos, como os anti-hipertensivos”, afirma Sallum.
O médico também alerta para um problema crescente: a dependência psicológica entre jovens. “Muitos acreditam que só conseguem ter bom desempenho sexual com o uso do remédio, o que causa um ciclo de insegurança e uso contínuo sem necessidade clínica.”
Influencer denuncia ambiente tóxico em academias após oferta de Tadalafila e decide treinar em casa
“Não vou colocar minha saúde em risco só para alcançar um corpo perfeito mais rápido”, afirma Arthur Urso
O influenciador digital Arthur Urso revelou recentemente sua decisão de abandonar as academias convencionais devido ao que descreve como um ambiente tóxico. A decisão veio após ele ter sido abordado por um frequentador que lhe ofereceu Tadalafila, medicamento utilizado para disfunção erétil, mas que vem sendo indevidamente empregado por alguns praticantes de musculação para potencializar o desempenho físico.
Arthur relata que, durante uma de suas sessões de treino, um indivíduo se aproximou oferecendo o medicamento, alegando que ajudaria na performance e nos resultados estéticos. “Fiquei surpreso e desconfortável com a abordagem. Não esperava que, em um ambiente onde buscamos saúde, houvesse essa pressão para o uso de substâncias sem prescrição médica”, afirmou o influenciador.
Preocupado com a cultura de uso indiscriminado de substâncias para potencializar resultados e com a atmosfera competitiva que, segundo ele, prevalece em muitas academias, Arthur decidiu investir em treinos personalizados em sua residência. “Quero focar na minha saúde de forma responsável, sem ceder a pressões externas ou recorrer a atalhos que podem ser prejudiciais”, explicou.
Especialistas alertam para os riscos do uso inadequado de medicamentos como a Tadalafila. Embora seja aprovada para tratar disfunção erétil, seu uso sem orientação médica pode levar a efeitos colaterais graves, incluindo problemas cardiovasculares.
Arthur espera que, ao compartilhar sua experiência, possa conscientizar seus seguidores e o público em geral sobre a importância de ambientes de treino saudáveis e da busca por resultados de forma ética e segura. “Precisamos repensar nossas prioridades e lembrar que a saúde deve estar sempre em primeiro lugar”, afirma Arthur Urso.
Antiinflamatórios e relaxantes musculares também são usados
Segundo o cardiologista Nilton José Carneiro, o uso frequente de anti-inflamatórios, especialmente sem orientação médica, pode afetar o sistema cardiovascular de forma significativa. “Esses medicamentos interferem diretamente nos vasos sanguíneos e na função renal, podendo descontrolar a pressão arterial e aumentar o risco de complicações como infarto, AVC e insuficiência cardíaca”, afirma o especialista. Esse risco é ainda maior em pessoas com doenças pré-existentes, como hipertensão, diabetes e tabagismo.
Carneiro destaca que a combinação entre o uso de anti-inflamatórios e exercícios intensos pode ser perigosa. “Durante a prática esportiva, o sistema cardiovascular já está exigido — há aumento da frequência cardíaca e da pressão. Somar isso ao uso desses fármacos pode potencializar efeitos adversos”, alerta. Ele lembra que dores crônicas devem ser tratadas de forma adequada, com acompanhamento de especialistas como fisiatras, ortopedistas e anestesiologistas. “Existem várias abordagens seguras para aliviar a dor sem recorrer ao uso indiscriminado de remédios.”
O ortopedista Fábio Datti, do Hospital Santa Catarina – Paulista, chama a atenção para outro hábito comum entre praticantes de musculação: o uso de relaxantes musculares após o treino. “Esses medicamentos podem mascarar dores que fazem parte do processo natural de adaptação e crescimento muscular, como as microlesões induzidas por treinos de resistência. O uso indiscriminado interfere até na recuperação, prejudicando a síntese de proteínas e o reparo dos tecidos musculares”, explica.
Datti lembra que os relaxantes musculares atuam no sistema nervoso central e podem causar efeitos como sonolência, tontura e dificuldade de concentração. Já os anti-inflamatórios, além de afetarem a função digestiva e renal, são hoje desaconselhados em tratamentos de lesões musculares agudas. “Eles atrapalham o processo inflamatório natural necessário para a regeneração dos músculos. O ideal é recorrer a estratégias como gelo, repouso, alongamentos, hidroterapia ou exercícios leves de baixo impacto.”
O uso consciente de medicamentos deve ser sempre guiado por orientação médica. A automedicação pode comprometer não só o rendimento, mas a saúde a longo prazo. “O exercício físico é um grande aliado da saúde, mas precisa ser feito com responsabilidade. Medicamentos não são pré-treino — e quando usados sem necessidade, viram um risco desnecessário”, finaliza Carneiro.
Com Assessorias