Conexão entre infecções e doenças hematológicas acendem debate após falecimento do famoso fotógrafo brasileiro
Conhecido internacionalmente, o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado morreu aos 81 anos, em Paris, França, deixando um legado profundo de imagens que capturaram a dignidade humana diante das adversidades e a urgência da preservação ambiental. Considerado um dos maiores fotógrafos contemporâneos, o mineiro construiu uma carreira marcada por seu olhar humanista, suas imagens em preto e branco e seu compromisso com causas sociais, ambientais e humanitárias.
No meio da ciência e da medicina, a morte do renomado fotojornalista levantou discussões sobre uma possível relação entre malária — doença que ele contraiu em viagens à África — e leucemia, condição que teria motivado sua internação. Mas, afinal, existe alguma ligação entre essas duas doenças?
Segundo o hematologista Evandro Fagundes, a resposta é clara: não há relação direta entre malária e leucemia. “A malária é uma doença infecciosa provocada pelo parasita Plasmodium, enquanto a leucemia é um tipo de câncer que se origina na célula-tronco hematopoética, responsável pela produção das células sanguíneas. São condições com origens completamente distintas”, explica o médico.
Ainda que algumas alterações no sangue possam ocorrer durante o quadro agudo da malária — como queda de plaquetas ou glóbulos brancos —, essas mudanças tendem a ser transitórias e reversíveis com o tratamento adequado. “Não é possível afirmar que a malária, por si só, leve ao desenvolvimento de leucemia anos depois”, acrescenta Fagundes.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são estimados para cada ano do triênio 2023-2025 cerca de 11.540 diagnósticos de leucemia, correspondendo a um risco de 5,33 por 100 mil habitantes, sendo 6.250 em homens e 5.290 em mulheres.
O papel da idade e de outras condições
O hematologista lembra ainda que a leucemia aguda é mais comum em pessoas acima dos 65 ou 70 anos, e que outras doenças hematológicas, como a mielodisplasia — um distúrbio que afeta a produção das células do sangue e pode evoluir para leucemia aguda — também são mais prevalentes nessa faixa etária.
“Do ponto de vista epidemiológico, a idade avançada é um fator importante de risco para doenças hematológicas. Mas, sem acesso ao prontuário ou mais informações oficiais, não podemos afirmar com precisão qual foi a evolução clínica do fotógrafo”, pondera o especialista.
E o tratamento da malária pode ter alguma influência?
Embora alguns tratamentos oncológicos estejam associados ao surgimento de leucemias secundárias — como a quimioterapia em pacientes com câncer de mama —, isso não se aplica ao tratamento da malária.
É difícil estabelecer qualquer correlação direta entre medicamentos utilizados contra a malária e o surgimento de leucemia anos depois”, finaliza Evandro Fagundes.
‘Sangue Latino’: Sebastião Salgado recebe homenagem no Canal Brasil
O trabalho de Sebastião Salgado transformou a fotografia documental em arte comprometida, sensível e politicamente engajada. Ele marcou o fotojornalismo, levando para o centro do debate global as histórias de trabalhadores rurais, refugiados, povos originários e comunidades em situação de vulnerabilidade.
Com lentes que deram origem a projetos icônicos como “Trabalhadores”, “Êxodos” e “Gênesis” e ‘Outras Américas’, Salgado também deixou um legado na preservação ambiental, à frente do Instituto Terra — fundado ao lado da esposa, Lélia Wanick Salgado —, referência na recuperação da Mata Atlântica.
O Canal Brasil abre espaço em sua grade para uma homenagem ao fotógrafo SebastiãoSalgado. Neste sábado (24), às 15h30, e no domingo (25), às 13h30, será exibido o episódio do programa “Sangue Latino”, gravado em 2013, no qual Salgado conversa com o jornalista Eric Nepomuceno sobre sua trajetória, suas obras e sua relação com a fotografia – paixão que guiou sua vida e que considerava uma linguagem universal.
Casa Firjan, no Rio, exige parte do legado de Salgado na exposição ‘Trabalhadores’
Em nota, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro lamentou e expressou profundo pesar pela morte do grande e premiado fotógrafo SebastiãoSalgado. “Seu olhar sensível rompeu fronteiras, expondo injustiças sociais e as contradições do mundo e projetou globalmente o talento do fotojornalismo brasileiro”. De acordo com a Firjan, Salgado, um ícone da fotografia do nosso tempo, deixa um legado de fortes imagens, que inspiram a todos
É com muita honra e reverência que irá expor parte desse legado na exposição “Trabalhadores”, que já estava prevista na Casa Firjan (em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro) e poderá ser vista a partir de 30 de maio”, cita a federação.
Essas imagens, feitas entre 1986 e 1992, são um convite à reflexão sobre o futuro do trabalho. Segundo Salgado, “é um trabalho que estava em meu coração, era a razão de meu ativismo político e do que eu acreditava que era o mundo da produção”.
Saiba mais sobre a história e o legado de Sebastião Salgado no Media Talks
Estima-se que um em cinco homens e um em seis mulheres terão câncer em algum momento da vida. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), estão previstos 704 mil novos casos