- Apesar da queda recente nos casos de dengue em algumas regiões após um ano de recordes, a malária segue presente em áreas específicas do país. A grande maioria dos casos (99%) de malária está concentrada na Região Amazônica, abrangendo os estados do Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Mas os dados do Ministério da Saúde, divulgados nesta sexta-feira (24), Dia Mundial de Combate à Malária, chamam atenção para a doença também fora da Amazônia.
Embora o número de casos seja menor fora da região amazônica, a letalidade é mais alta. Por isso, vamos implementar um sistema de vigilância específico para os estados com registros fora da Amazônia. É preciso criar alertas e ações direcionadas para esses territórios”, disse o ministro Alexandre Padilha.
O chefe do Laboratório de Pesquisa em Malária da Fundação Oswaldo Cruz, Claudio Tadeu Daniel-Ribeiro, que compõe o comitê de especialistas que assessora o governo federal nas ações de controle da doença, também faz um alerta:
Embora 99% dos casos de malária ocorram na Amazônia, o mosquito transmissor da doença vive em 80% do território nacional. Então, a malária é um problema fora da Amazônia também, porque hoje as pessoas têm grande facilidade para se locomover, inclusive da Amazônia para a área extra-amazônica, ou vindo de outras áreas endêmicas, como a África, pro Brasil”, reforça o imunologista.
Segundo ele, um viajante infectado pode demorar até 30 dias para manifestar sintomas e se tornar uma fonte de novas infecções, ao ser picado por fêmeas do mosquito, que vão sugar o protozoário junto com o sangue, e transmiti-lo para outras pessoas.
Além disso, pessoas infectadas pela primeira vez tendem a desenvolver quadros mais graves, com chance maior de morte, por não terem nenhuma imunidade contra a doença. Por isso, Daniel-Ribeiro reforça a importância do diagnóstico adequado:
É preciso que os médicos fora da Amazônia tenham consciência de que um sujeito com febre, dor de cabeça, sudorese e calafrios, pode ter malária“.
Conheça a campanha do Ministério da Saúde contra a Malária
- 22% dos brasileiros só conhecem a doença pelo nome, revela estudo
Pessoas das regiões Norte e Centro-Oeste do país têm maior conhecimento sobre a doença, incluindo prevenção e tratamento
A malária segue presente em áreas específicas do país, porém, ainda desconhecida principalmente fora da Região Amazônica. Uma pesquisa realizada pela SC Johnson, fabricante de repelentes pessoais, revelou que 22% dos brasileiros dizem conhecer a doença apenas pelo nome, sem saber como é transmitida, como prevenir, quais os sintomas ou opções de tratamento.
O nível de conhecimento sobre a doença varia bastante entre as regiões do país. No Centro-Oeste, 30% dos entrevistados declaram ter um alto grau de informação sobre sintomas e formas de prevenção — o maior índice entre todas as regiões. Já o Sul apresenta o maior percentual de desconhecimento: 26,44% da população afirma conhecer apenas o nome “malária”.
Os dados evidenciam a importância de ações contínuas de sensibilização sobre a malária, que, embora menos frequente em centros urbanos, permanece endêmica na Amazônia. Cerca de um em cada 10 brasileiros (10,68%) afirma já ter contraído a doença ou relata ter um familiar que passou pela mesma situação. Na região Centro-Oeste, esse número sobe para 16,76%, enquanto no Norte, chega a 29,41%.
Falta de diagnóstico é obstáculo para eliminação da malária no Brasil
Um dos grandes entraves para a eliminação da malária é a falta de diagnóstico adequado, alerta o chefe do Laboratório de Pesquisa em Malária da Fiocruz, Claudio Tadeu Daniel-Ribeiro. Ele considera que as metas de reduzir em 90% os novos casos até 2030 e eliminar a transmissão no país até 2035 são factíveis, desde que a vigilância seja fortalecida em todo o Brasil.
A malária é causada por protozoários do gênero Plasmodium, transmitidos a partir da picada do mosquito Anopheles, popularmente chamado de mosquito-prego. Quase todos os casos registrados no Brasil são causados por duas espécies de Plasmodium – a vivax e a falciparum.
A primeira tem maior potencial de infecção, e responde por 80% dos casos, mas a segunda representa maior risco de morte. Antes de eliminar totalmente a transmissão, o Brasil também espera acabar com as infecções pelo Plasmodium falciparum até 2030.
O especialista da Fiocruz explica que a pessoa infectada pelo Plasmodium vivax já pode transmitir a doença a partir do primeiro dia, enquanto aquela infectada por Plasmodium falciparum só desenvolverá a forma infecciosa do protozoário após sete dias de contaminação.
Se tratar rapidamente a malária o indivíduo deixa de infectar novos mosquitos. Mas se não fizer o diagnóstico rápido e não correr para a região onde ele foi infectado para fazer ações de bloqueio de transmissão, você pode ter um novo surto ou até a reimplantação da malária em um lugar onde ela já foi eliminada”, complementa.
Hoje em dia, os serviços de saúde contam com remédios bastante eficazes para tratar a malária e interromper a cadeia de transmissão, além de testes de diagnóstico rápido, que podem ser realizados com apenas uma gota de sangue. Mas, há um grande desafio no horizonte: as mudanças climáticas.
A gente eliminou muito mais rapidamente a malária na Europa e na América do Norte, também porque o mosquito e o próprio plasmodium tem uma sensibilidade maior ao clima temperado. Então, se você aquecer demais a temperatura, a gente pode ter a reimplatação da malária em áreas onde ela já foi eliminada. E não há dúvida nenhuma que as alterações climáticas podem facilitar o desenvolvimento e o aumento da transmissão em áreas onde a doença ainda existe, porque as condições ambientais vão dificultar o controle do mosquito”.
Conheça os sintomas da malária
Transmitida exclusivamente pela picada da fêmea do Anopheles, a malária é causada por parasitas do gênero Plasmodium. Os sintomas mais comuns incluem febre alta, calafrios, suor excessivo, dor de cabeça, náusea e cansaço. Em alguns casos, também podem ocorrer dores musculares e vômitos.
Como os sinais iniciais se assemelham aos de outras infecções, o diagnóstico laboratorial é essencial. O tratamento varia conforme o tipo de parasita e a gravidade do quadro, sendo realizado com medicamentos antimaláricos disponíveis gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
As diferenças entre os vetores e as doenças que transmitem reforçam a importância de se proteger de forma adequada, considerando a região e o momento do dia. Em um país de dimensões continentais e grande diversidade ambiental, mesmo quem vive fora de áreas de risco deve estar atento. Em viagens a regiões com maior incidência, recomenda-se o uso de repelentes adequados, roupas de manga longa e, sempre que possível, mosquiteiros.
Entender os hábitos dos vetores ajuda a ajustar os cuidados ao contexto e contribui para uma prevenção mais eficaz. Os repelentes devem ser reaplicados conforme a orientação do rótulo e podem ser usados por diferentes faixas etárias, respeitando a idade mínima indicada e a concentração do princípio ativo. Apesar das diferenças entre os transmissores e as doenças envolvidas, o uso de repelentes segue sendo uma solução comum e eficaz tanto contra o Aedes aegypti quanto contra o Anopheles.
Aedes e Anopheles: Que Mosquitos são Esses?
Enquanto o Aedes aegypti — transmissor de doenças como dengue, Zika, chikungunya e febre amarela urbana — é mais conhecido da população e costuma se reproduzir em recipientes com água parada em áreas residenciais urbanas, o mosquito Anopheles, responsável pela transmissão da malária, tem hábitos noturnos e é mais comum em regiões rurais e de floresta, onde deposita seus ovos diretamente em água limpa.
O Centro para Ciência de Insetos e Saúde da Família da SC Johnson apoia a exposição “Aedes: que mosquito é esse?”, que esteve em cartaz no Castelo da Fiocruz, no Rio de Janeiro, e agora está disponível em formato virtual, ampliando o alcance das mensagens de prevenção. A mostra em versão itinerante está em Manaus, com um módulo dedicado à malária e o nome “Aedes e Anopheles: Que Mosquitos são Esses?”, fortalecendo o acesso à informação em uma das regiões mais afetadas pela doença.
O Centro também lançou o programa ‘Adeus Mosquito’, em parceria com a Fundação Amazônia Sustentável (FAS), com o objetivo de capacitar profissionais de saúde, educadores e lideranças comunitárias sobre formas eficazes de proteção.
Com informações do Ministério da Saúde, Agência Brasil e SC Johnson