Estudo divulgado em março de 2023 pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, do inglês Center for Disease Control and Prevention), comprovou que uma em cada 36 crianças de até 8 anos são autistas nos Estados Unidos, uma prevalência 22% maior que o estudo anterior, divulgado em 2021. Segundo a Revista Autismo, se fizermos a mesma proporção desse estudo do CDC com a população brasileira, poderíamos ter cerca de 5,95 milhões de autistas no Brasil.
Esses números passam a ser mais desconhecidos ainda quando falamos da Síndrome do X Frágil, uma condição genética correlata ao autismo, que consiste na deficiência intelectual hereditária mais frequente na população mundial. Essa deficiência se apresenta-se em graus variáveis e pode ter sinais comportamentais importantes, muitas vezes dentro do Transtornos do Espectro do Autismo (TEA).
Como ela apresenta muitos sintomas e sinais inespecíficos, torna-se bastante difícil a definição de um quadro clínico específico das pessoas com essa condição. Por essa razão, muitas pessoas são diagnosticadas com autismo, Transtorno do Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDAH), Síndrome de Asperger ou alguma outra condição correlata ao TEA. No Dia Mundial da Síndrome do X Frágil (22 de julho), ouvimos especialistas para explicar melhor sobre esta doença rara.
Hoje sabemos que em torno de 40% a 60% dos pacientes com X Frágil também apresentam autismo. Nesses casos, normalmente são pessoas com quadro clínico mais acentuado”, explica Luz María Romero, gestora do Instituto Buko Kaesemodel (IBK).
Número de pessoas com SXF pode variar de 24,7 mil a 52,7 mil no Brasil
Os números são alarmantes, principalmente se pensarmos na prevalência de casos para uma população com milhões de habitantes. Ou seja, se nos basearmos no número de habitantes no Brasil com a prevalência de casos registrados no Instituto Buko Kaesemodel e na proporção de dados do CDC, teríamos aproximadamente 24.725 pessoas com a Síndrome do X Frágil.
Já com os dados do pelo Fragile X Research Foundation (FRAXA), fundação internacional de rastreio e estudo da Síndrome do X Frágil, o número passa a ser de 46.463 pessoas com SXF, sendo 31.969 homens. Já em comparativo aos dados reais de casos registrados ao longo da última década pelo Programa Eu Digo X, a estimativa é de 52.750 pessoas com a SXF, destes 34.633 homens.
Para trabalhar com a orientação das famílias que possuem casos semelhantes, estudar mais a respeito da Síndrome do X Frágil, e principalmente conscientizar a classe médica e as famílias da importância de um diagnóstico precoce, foi criado o Programa Eu Digo X, dentro do Instituto Buko Kaesemodel.
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Para o Doutor em Genética, Roberto Herai, que é professor do curso de Medicina e coordenador do Laboratório de Neurogenética e Bioinformática da Escola de Medicina e Ciências da Vida da PUC-PR, e também coordenador de pesquisas do Instituto , um rastreamento a respeito do número de pessoas com a Síndrome do X Frágil no Brasil, assim como é feito no estudo da prevalência de TEA pelo CDC, é de extrema importância
Somente a partir desse levantamento vamos conseguir ter uma aproximação com a realidade do Brasil. Com o rastreio realizado, podemos estimar a proporção de casos no Brasil e prevenir e rastrear casos futuros”, pontua Herai.
O especialista observa que a população brasileira é bastante miscigenada. Outros países já possuem estudos em andamento e, portanto, melhores recursos para rastreio e tratamento Para um levantamento aproximado de números de casos da Síndrome do X Frágil no Brasil, o Dr. Herai comenta que um ponto de partida seria iniciar o levantamento pela cidade de Curitiba, capital do Paraná.
Hoje a cidade possui número de habitantes, miscigenação de raças e estrutura de saúde pública que possibilitam que um estudo epidemiológico seja conduzido de forma eficiente, para que os dados sejam utilizados e replicados em diversas partes do mundo”, salienta.
Hoje o que sabemos a respeito da SXF é oriundo de estudos epidemiológicos que analisam a quantidade de casos de pessoas com a síndrome para uma determinada região. Neste contexto, os principais estudos de prevalência da SXF são a partir de dados coletados pelo CDC (EUA), pelo Fragile X Research Foundation (FRAXA) e pelo Programa Eu Digo X do Instituto Buko Kaesemodel.
“Para nós, que atuamos diariamente com famílias de pessoas com a Síndrome do X Frágil, seria fundamental o apoio de um governo municipal para consolidar os dados epidemiológicos levantados pelo Programa Eu Digo X. É somente desta forma que podemos amenizar o sofrimento de muitas pessoas que ficam em uma busca interminável por um diagnóstico, para que assim possam de fato usufruir de uma melhor qualidade de vida, com tratamentos e terapias específicas, além de acompanhamento adequado da condição que seu ente querido possui”, alerta Luz María.
Teste genético ajudaria no diagnóstico preciso
A Síndrome do X Frágil é uma condição genética hereditária, ou seja, transferida dos pais para os filhos, sendo que um pai portador da alteração genética normalmente tem filhas também portadoras ou sem a mutação genética. Já as mães portadoras da mutação genética que causa a síndrome, podem ter filhos com mutação completa ou também portadores da síndrome.
Seria um sonho que todas as pessoas diagnosticadas com autismo e outras deficiências intelectuais também fossem submetidas ao teste genético para diagnóstico da SXF, assim como todas as pessoas que possuem outros casos de autismo na família ou outros transtornos mentais”, conclui o médico.
Para o Dr. Herai, o ideal, nesse momento, com o apoio do governo, é localizar os pontos focais, tais como Apaes, hospitais e outras instituições vinculadas com atendimento de autismo e outros tipos de deficiências intelectuais, para que as pessoas atendidas realizem o cadastro no Programa Eu Digo X.
Com esses dados podemos consolidar as informações que temos a respeito da SXF, e também dar início a um levantamento mais preciso a respeito do tipo de deficiência intelectual que as pessoas atendidas em instituições de saúde possuem, incluindo dados de histórico familiar sugestivo, que também podem ser determinantes para indicar a necessidade de diagnóstico da Síndrome do X Frágil”, finaliza.
O Instituto ainda auxilia no diagnóstico da Síndrome do XFrágil, bem como disponibiliza diversas ações e projetos que propiciam o bem-estar e qualidade de vida às famílias.
Fonte: Instituto Buko Kaesemodel