O Brasil deve registrar este ano 66.280 novos casos de câncer de mama, segundo projeções do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Somente no Estado do Rio de Janeiro, onde está instalado, o órgão estima 9.150 novos casos da doença a cada ano do triênio 2020-2022, sendo 4.440 apenas na capital.
Apesar dessa triste realidade, que coloca o Estado do Rio como a segunda unidade da federação em número de casos e de mortes pela doença, o mamógrafo móvel, que levava o exame a mulheres nas periferias da capital e em diversas cidades fluminenses, está há três anos sem funcionar. O motivo? Falta de licitação por parte do Governo do Estado.
Críticas à falta do serviço deram o tom do ato realizado nas escadarias do Palácio Tiradentes, antiga sede da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), na noite desta quinta-feira (30/9) para marcar a abertura da programação do Outubro Rosa, que este ano tem como tema‘Cuido de mim, cuido de todas’.
Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, a deputada Enfermeira Rejane (PCdoB) cobrou a reativação do mamógrafo móvel por parte do Governo do Estado e que o Instituto Nacional do Câncer (Inca) funcione como um hospital para cirurgias de câncer de mama. E chamou a atenção para a necessidade de incentivar a retomada dos exames regulares e cuidados com a saúde, que foram prejudicados com a crise sanitária provocada pela covid-19.
“Não é festa, queremos convocar a sociedade para essa luta que é de todos, mas, infelizmente, as autoridades fecham os olhos. Mais de 800 mil mulheres estão com a mamografia atrasada no país por conta da covid. Agora já estamos vacinando; é preciso urgentemente ter um programa que traga essas mulheres. Muitas chegam em fase terminal porque não fizeram o diagnóstico precoce”, destacou Rejane.
Deputadas perderam parentes para a doença
Ainda durante o ato nas escadarias do Palácio Tiradentes, deputadas da bancada feminina da Casa cobraram ações por parte do Estado para o enfrentamento do câncer de mama, que mais afeta as mulheres, depois do câncer de pele. E revelaram que a doença está mais perto do que se imagina.
Renata Souza (Psol), vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, se solidarizou com as famílias que perderam vítimas para a doença sem atendimento adequado em saúde pública”, ressaltou. “Eu perdi uma tia com câncer de mama, é destruidor para a família. Se a política pública não funciona, tira oportunidade de vida dessas mulheres”, disse a deputada.
Alana Passos (PSL) contou que perdeu uma irmã em 2008 para o câncer de mama. “Sou da Baixada e sei que muitas mulheres lá nunca fizeram preventivo e mamografia. O câncer tem pressa”, disse ela, se comprometendo também a levar a situação das mamografias no Estado do Rio ao governo federal.
Tia Ju (REP) reforçou que o diagnóstico precoce é um problema urgente e grave. “A Covid atrapalhou e agora é preciso correr contra o tempo. Em questão de um mês o câncer de mama pode avançar e se alastrar para outros órgãos, como cérebro e intestino. Apelo ao governador para que agilize essa licitação e a carreta da mamografia volte a circular”, disse.
Rosane Félix (PSD) destacou a necessidade de licitar a mamografia e ampliar este serviço no estado, além de reforçar as ações de prevenção e conscientização, especialmente entre as mulheres, principais vítimas do câncer de mama. “Muitas vezes cuidamos tanto dos nossos e não da gente”, comentou.
Presente ao ato, a subsecretária estadual de Políticas Públicas para Mulheres, Glória Heloiza Lima da Silva, ficou de levar as demandas das deputadas aos demais secretários, inclusive o de saúde, com quem ficou de tratar da reativação do mamógrafo móvel. Heloíza também revelou que sua mãe faz tratamento contra o câncer de mama há quase 5 anos. “Estou sofrendo na pele, a dor bateu na minha porta, mas existe vida além do câncer”.
Conheça algumas leis aprovadas
A Assembleia Legislativa do Rio tem aprovado uma série de leis determinando ou autorizando o Governo do Estado a implementar políticas públicas voltadas ao enfrentamento do câncer de mama e outros tipos de câncer ginecológico. Entre elas, estão as que prevêem:
disponibilizar unidades móveis de prevenção ao câncer de mama e do colo do útero em todos os municípios fluminenses;
realizar a imediata cirurgia de reconstrução da mama às mulheres mastectomizadas;
oferecer exames de detecção de mutação genética em mulheres com histórico familiar de câncer de mama ou de ovário, e
custear próteses mamárias de silicone a pacientes que sofreram mutilação da mama durante o tratamento da doença;
oferecer fisioterapia de reabilitação a mulheres mastectomizadas.
Campanha Outubro Rosa na Alerj
A campanha anual de Outubro Rosa também promove a conscientização sobre a prevenção e diagnóstico precoce do câncer de colo do útero. Somente no Estado do Rio, a doença responde por 5.400 do total de 16.590 casos estimados para todo o país. Em 2019, foram 2.299 mortes por câncer de mama e 555 por câncer de cólo do útero no estado.
O prédio histórico no Centro do Rio, que por mais de 60 anos foi a sede da Alerj, ficará mais uma vez iluminado o mês todo em adesão à campanha. Em 2021, a campanha contará com diversas atividades coordenadas pela Comissão na Alerj.
Na nova sede, na Rua da Ajuda, haverá caixas de coleta para o recebimento de doações de lenços, perucas e outros acessórios a serem distribuídos a instituições de apoio às mulheres que enfrentam a queda de cabelos por conta do tratamento quimioterápico contra o câncer.
Haverá duas lives sobre o tema nos dias 14 e 21, às 18 horas, no Youtube da Alerj. No dia 29, acontece a Feira Rosa, com uma série de serviços gratuitos como verificação de pressão arterial, teste de glicose, orientação jurídica sobre os direitos da mulher frente ao câncer e exposição de produtos produzidos por ONGs ligadas à economia solidária. Encerrando a programação, será realizado o “Futebol da Resistência”: Todas contra o Câncer”.
Com Alerj