O Estado do Rio de Janeiro tem ótimos motivos para celebrar o Dia Mundial do Transplantado (6 de junho). O  Programa RJ Transplantes, da Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ), bateu recorde histórico de captação de órgãos e transplantes em 2022. Os números foram os maiores da série histórica, iniciada em 2010.

Após o recuo por conta da pandemia de Covid-19, no ano passado, houve 1.152 notificações de possíveis doadores, 349 doações e 2.650 transplantes. Em 2023, nos meses de janeiro a abril, já foram realizados 542 transplantes.

O resultado é atribuído a investimentos na capacitação das equipes das Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), que funcionam dentro das unidades de saúde, e na melhoria da estrutura para que essas doações tenham êxito.

Há um helicóptero dedicado ao programa, o que agiliza e aumenta a eficácia do sistema de captação e transplante no estado. Em 2022, o helicóptero da Superintendência de Operações Aéreas (SOAer) transportou 145 órgãos para transplante. Em dois anos de atividades, foram 296 órgãos transportados, levando esperança de nova vida a quem precisa.

Hospital de Araruama realiza sua primeira captação de pulmão

O Hospital Estadual Roberto Chabo, em Araruama, na Baixada Litorânea, realizou – pela primeira vez – uma captação de pulmão. O procedimento, considerado de altíssima complexidade, aconteceu na tarde da última segunda-feira (29/5) e recebeu apoio do helicóptero do RJ Transplantes.

Uma verdadeira força-tarefa foi montada logo após o início do protocolo de morte cerebral de uma estudante do curso de administração, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). A logística contou com, além dos médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, o apoio do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar e da equipe administrativa do hospital.

“Contatamos os familiares para fazer o comunicado do óbito e, em seguida, pedir autorização para doação dos órgãos. Assim que obtivemos o aceite familiar acionamos o RJ Transplantes, que programou toda a logística”, detalhou Michele Guedes, coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar para Doação de Órgãos e Tecidos do Hospital Roberto Chabo.

Familiares da paciente participaram de todas as etapas do processo de captação. Um dos momentos mais emocionantes foi o chamado “corredor humano”, formado pelos funcionários do hospital que, com palmas, agradeceram o ato de doação.

“Ela era uma pessoa alegre, que gostava de ajudar as pessoas. E até neste momento de partida ela continuou ajudando quem precisava de um órgão para viver”, declarou o marido da estudante, Edson Campos, bastante emocionado.

Além do pulmão, a equipe de transplante fez a captação de coração, fígado, pulmões, rins, córneas e ossos. Todos os órgãos captados foram doados para pacientes que necessitam de um transplante e estão aguardando em lista única, definida pela Central de Transplantes da Secretaria de Estado de Saúde e controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes.

Para o coordenador do RJ Transplantes, Alexandre Cauduro, o momento é considerado um marco para o SUS na Baixada Litorânea.

“É de grande importância a conscientização da doação de órgãos. Existem muitas pessoas aguardando na fila de transplantes. É também a primeira vez que o RJ Transplantes, por meio do Roberto Chabo, realiza um procedimento dessa complexidade na região. Isso mostra o quanto temos avançado tanto no sistema de saúde quanto na conscientização da população” , afirmou Cauduro.

DOAÇÃO DE ÓRGÃOS NO HERC

Com 83 leitos ativos, sendo nove de UTI, o Hospital Estadual Roberto Chabo recebe pacientes regulados dos municípios de Araruama, Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Casemiro de Abreu, Iguaba Grande, Rio das Ostras, São Pedro D’Aldeia e Saquarema.

A unidade conta com um ambulatório de pós-operatório. No setor, os pacientes são reavaliados por neurocirurgião, cirurgião geral, cirurgião pediatra, intensivista, cirurgião plástico, oftalmologista, bucomaxilofacial, cirurgião vascular e ortopedista.

Centro de Transplantes Complexos do Hospital do Fundão começa a operar

A equipe do Centro Nacional de Transplantes Complexos (CNTc), do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), fez sua primeira cirurgia – um transplante de fígado – no último dia 27 de maio. Nesse início, o CNTc terá seis leitos para o Centro de Terapia Intensiva (CTI) e oito para a Enfermaria.

O Hospital do Fundão, como é conhecido, é a primeira unidade pública de saúde do país a sediar um programa de transplantes com capacidade de realizar procedimentos complexos, como transplantes combinados, transplantes contra barreiras imunológicas e o desenvolvimento de um programa de reabilitação intestinal, incluindo o transplante intestinal e multivisceral.

“O projeto, além de propulsionar os transplantes no país, aumentará a capacidade de atendimento à alta complexidade para nossos pacientes”, disse Marcos Freire, diretor do HUCFF, que se orgulha do fato de a UFRJ inaugurar o programa no país. “Este transplante, com esta nova equipe já do CNTc, marca o início oficial da atuação do nosso Centro de Transplantes”, conclui.

O CNTc será referência nacional na realização de transplantes complexos e reabilitação intestinal, com capacidade de fortalecer o Sistema Nacional de Transplantes por meio do compartilhamento de uma estrutura hospitalar já existente, altamente especializada, de domínio nacional. A unidade também será um centro de formação de equipe para o desenvolvimento dos transplantes no Sistema Único de Saúde (SUS). 

HUCFF, referência em transplantes

O projeto para criação de um centro de transplantes complexos no país vem sendo desenvolvido pelo Ministério da Saúde há mais de um ano, após entendimento de que o HUCFF seria a unidade adequada, por sua capacidade de atendimento em média e alta complexidades, além da importante expressão na formação de profissionais e desenvolvimento de pesquisa.

Em 1993, houve o primeiro transplante de fígado, com equipe médica da França, acompanhada pelo professor Joaquim Ribeiro Filho, na época coordenador dos transplantes hepáticos no Hospital.

“Trabalhei com o professor Joaquim Ribeiro, pioneiro dos transplantes aqui no Hospital, e estar agora como professor e coordenador deste Centro grandioso é uma forma de retribuir ensinando a outras pessoas”, pontua Eduardo Fernandes, cirurgião de referência nacional em transplante hepático e atual coordenador do CNTc.

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Três avanços na medicina que podem salvar mais vidas

Como novas tecnologias e medicamentos podem aumentar o número de transplantes

Com muita frequência, as pessoas que estão esperando por transplantes de órgãos que salvam vidas não conseguem realizar o procedimento. Um dos maiores desafios é a falta de órgãos doados em condições viáveis.

Avanços médicos promissores trazem novas possibilidades para a realização de mais transplantes e assim salvar mais vidas, afirma Mauricio Villavicencio, diretor cirúrgico de transplante cardíaco e pulmonar na Mayo Clinic em Rochester.

“A insuficiência cardíaca é uma epidemia em todo o mundo. Um transplante cardíaco representa o padrão-ouro para o tratamento avançado desse distúrbio. Mas o número de pessoas que morrem na lista de espera permanece elevado. Com o uso desses avanços médicos, esperamos mudar essa situação”, afirma o Dr. Villavicencio.

Aqui estão três avanços que podem expandir o conjunto de doação de órgãos e assim salvar mais vidas:

1. Mais doações após morte circulatória

Tradicionalmente, as doações de órgãos vêm principalmente de doadores que sofrem morte cerebral enquanto os corações ainda permanecem batendo. Cada vez mais, os órgãos doados vêm de doadores que morrem depois que o coração para de bater. No passado, corações e pulmões vindos dessas mortes eram normalmente descartados.

Os avanços médicos agora permitem que especialistas em transplante usem esses órgãos. Os especialistas em transplante podem ressuscitar o coração em uma máquina de circulação extracorpórea ou em um dispositivo de perfusão fora do corpo para se tornar um doador. Aproximadamente 20% a 30% de todas as doações de órgãos estão vindo desses doadores.

2. Sistemas de perfusão de órgãos

A criação de sistemas de perfusão de órgãos (dispositivos mecânicos que ajudam os órgãos a permanecerem viáveis fora do corpo) está mudando os transplantes de órgãos. Um exemplo disso é a tecnologia “Heart in a box” (coração em uma caixa), um dispositivo portátil que ressuscita um coração que havia parado de bater e o mantém batendo até que possa ser transplantado.

“Essa tecnologia permite o transplante cardíaco a longa distância. Quando um coração é colocado em uma caixa térmica, ele deve ser transplantado em até quatro horas. A tecnologia “Heart in a box” dobra o tempo em pelo menos oito horas”, comenta o Dr. Villavicencio.

Um sistema de perfusão de órgãos semelhante e disponível para pulmões é chamado de perfusão pulmonar ex vivo. Ele preserva o pulmão doado em uma máquina fora do corpo. Os pulmões também podem ser restaurados para uma condição adequada para transplante.

3. Órgãos de doadores com hepatite C

Atualmente, órgãos de doadores com hepatite C podem ser transplantados com segurança para pacientes na lista de espera. Essa mudança é possível graças à nova geração de medicamentos antivirais altamente eficientes.

Depois que os órgãos são transplantados, os pacientes iniciam o tratamento antiviral que normalmente elimina o vírus do corpo em sete dias, diz o Dr. Villavicencio. No passado, esses possíveis doadores de órgãos teriam sido desconsiderados.

*Das Assessorias da SES-RJ, HUCFF (via Conexão UFRJ) e Mayo Clinic

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