A miopia é um distúrbio visual que se caracteriza pela dificuldade de ver com clareza o que está longe. O erro refrativo do globo ocular foi demonstrado pela ginasta brasileira Rebeca Andrade, de 25 anos, que apertou os olhos para enxergar melhor sua pontuação, após participar das provas de ginástica nas Olimpíadas de 2024, em Paris. A cena viralizou e chama a atenção para o distúrbio visual enfrentado por cerca de 43% dos brasileiros, de acordo com pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO).
Com cerca de 2,5 graus de miopia em um olho e 2 graus de astigmatismo no outro, a ginasta Rebeca Andrade revelou em uma entrevista à revista Marie Claire, em fevereiro deste ano, a sua jornada nos treinos e competições, enfrentando um cenário visual desafiador. A atleta compartilhou como se habituou a executar suas séries com a visão turva.
Apesar das dificuldades, Rebeca dispensa o uso de lentes de contato, justificando seu receio de possíveis interferências durante as práticas. Em um ano de preparação intensa para as Olimpíadas, a rotina da atleta exige uma abordagem única para superar os obstáculos visuais.
O oftalmologista Edvaldo Figueirôa, do H.Olhos, hospital de olhos da Rede Vision One, explica que “quando a pessoa tem miopia, as imagens são focadas incorretamente, à frente da retina, fazendo com que a visão de objetos distantes seja percebida de forma turva”.
Geralmente o problema ocular é diagnosticado na infância ou na adolescência e após avaliação meticulosa, o oftalmologista poderá indicar óculos de grau para a correção visual. No entanto, “em algumas atividades profissionais e esportivas o dispositivo óptico pode causar alguns inconvenientes, como a redução do campo visual e dos reflexos do indivíduo”, afirma o Dr. Edvaldo Figueirôa.
Outro recurso para corrigir a miopia são as lentes de contato, mas que exigem cuidados constantes na manipulação e, em alguns casos, podem causar intolerância. A opção foi descartada pela ginasta brasileira Rebeca Andrade, apesar de possuir miopia acima de dois graus, além de astigmatismo. Em entrevistas, ela esclareceu que o motivo é o receio de que o pó de magnésio, usado para evitar escorregões durante as competições, caia sobre as lentes.
De acordo com o médico Edvaldo Figueirôa, “a cirurgia a laser é a escolha ideal para quem tem miopia e deseja conquistar a independência dos óculos e das lentes de contato de forma definitiva. O procedimento é realizado com laser de alta precisão, de forma rápida e indolor, com a aplicação de anestesia por colírios, mas é importante o oftalmologista avaliar os exames que qualificam o paciente para o tratamento”.
Confira o impacto da miopia na infância e na vida adulta
Muita exposição a aparelhos eletrônicos está impulsionando cada vez mais a dificuldade de enxergar de longe para os pequenos
O exemplo de Rebecca exemplifica bem o impacto que problemas oculares podem gerar na vida das crianças. O cuidado com os olhos deve começar desde o nascimento, quando o oftalmologista passa a fazer parte da rotina de saúde dos pequenos.
Segundo a oftalmopediatra Adriana Fecarotta, a primeira consulta da criança deve acontecer entre seis meses e um ano de idade, conforme recomendação das Sociedades Nacionais e Internacionais de Oftalmopediatria.
Mesmo que a criança não apresente sintomas, é possível medir o grau e confirmar o diagnóstico. Isso impacta positivamente para um tratamento precoce, que fará toda a diferença no desenvolvimento infantil ao longo dos anos”, comenta.
Em grande parte dos casos, quando a criança apresenta sintomas, o problema só é percebido durante a idade escolar. Um dos principais sinais é comentar que não consegue enxergar a lousa, por exemplo, se aproximar de objetos para ver melhor, ou, ainda, ter dor de cabeça frequente e apertar os olhos para ver melhor.
Nesses casos, é necessário que os pais levem a criança o quanto antes ao oftalmologista para fazer uma avaliação, que envolve desde exame físico dos olhos, reflexo de luz regular até testes para medir a sua capacidade para enxergar letras distantes.
O que pode causar miopia?
A faixa etária entre 6 e 8 anos de idade é aquela de maior risco ao desenvolvimento da miopia, se a exposição às telas for de tempo prolongado. Todas as idades estão propensas às telas, a diferença é que entre 6 e 8 anos o risco de desenvolvimento da miopia é maior. Nos casos de exposição excessiva. “Atividades prolongadas e intensas a curta distância podem prejudicar a visão da criança, podendo levar ao aparecimento da miopia”.
E quando se fala em números, um estudo feito pelo Hospital dos Olhos em 2022, apontou um aumento de 23% no diagnóstico de miopia entre crianças de 0 a 12 anos no primeiro semestre, somando 538 casos, em comparação com 425 no mesmo período de 2021.
Tratamento, grau e acompanhamento
O tratamento para miopia deve ser iniciado o quanto antes, com a adoção de óculos com lentes apropriadas para tratar a condição visual. “O quanto antes a criança começar a usar os óculos com as lentes adequadas, ela terá mais qualidade de vida e elevada a sua capacidade de aprendizagem”.
A miopia em crianças pode ser leve, moderada ou de alta severidade – casos acima de 5,00D. No entanto, a médica alerta para a velocidade de progressão da condição no público infantil. “As crianças se desenvolvem rapidamente e a miopia também pode aderir a essa evolução. Por isso é importante fazer um acompanhamento constante junto ao oftalmologista para ver se está havendo uma progressão ou não do problema, o que vai demandar ajustes nas lentes, algo que facilita a visão e garante maior conforto”, explica.
A boa notícia é que novas tecnologias também vêm surgindo e contribuindo para que o problema seja minimizado. Um deles é uma lente voltada para a desaceleração da progressão da miopia em crianças, a Essilor® Stellest®, que atua na correção da miopia e impede que os olhos se alonguem mais rápido do que deveriam. “Esse alongamento, que acontece em crianças míopes, é o responsável pela piora da condição”, conclui a médica.