Enxergar é fundamental para nossa interação com o mundo! Nossa visão possibilita que percebamos formas, cores, tamanhos e movimentos de pessoas e objetos que estão ao nosso redor. Recebemos a maioria das informações a partir dos nossos olhos e ter uma visão saudável impacta diretamente a qualidade de vida. Ter ou não uma boa visão faz toda a diferença em ações simples como ler, caminhar ou reconhecer um rosto amigo.
Mas, infelizmente, a dificuldade de enxergar afeta milhares de brasileiros. De acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 19% da população brasileira têm algum tipo de deficiência visual. Deste total, mais de 6 milhões têm questões severas. No Brasil, surgem aproximadamente 550 mil novos casos por ano, de acordo com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO).
Apesar dos números alarmantes, um levantamento da SBO revela que 11,6% dos entrevistados nunca consultaram um oftalmologista, evidenciando a lacuna no cuidado à saúde ocular no país. Em 7 de maio é o Dia do Oftalmologista, uma boa oportunidade para focar na sua visão.
Mas quando é hora de procurar um oftalmologista?
Hoje em dia o primeiro contato que se tem com a saúde ocular é através do teste do olhinho, que deve ser feito nos recém-nascidos. O primeiro exame oftalmológico é realizado assim que o bebê nasce, sendo também conhecido como ‘teste do reflexo vermelho’.
É um teste realizado durante a primeira semana de vida do bebê para avaliar as estruturas do olho, garantindo que estão corretamente desenvolvidas. Este teste normalmente ocorre na maternidade, mas pode também ser feito na primeira consulta com o pediatra, devendo ser repetido algumas vezes durante os dois primeiros anos de vida”, explica Henrique Rocha, presidente da Sociedade Goiânia de Oftalmologia (SGO).
Segundo ele, a primeira consulta com um oftalmologista deve ocorrer nos primeiros meses. “Recomendamos uma consulta de rotina ainda no primeiro ano de vida, idealmente nos primeiros 6 meses, mesmo que não haja queixa alguma”, diz o oftalmologista.
Rocha explica que os olhos são os órgãos que mais se desenvolvem no primeiro ano de vida. “Existem meios de examinar e avaliar a acuidade visual mesmo de bebês, quando necessário. Conseguimos ainda avaliar o grau, o fundo de olho, a pressão ocular, tudo sem que a criança precise informar”.
O especialista lembra que as crianças desenvolvem a visão cerebral até os sete anos, no geral, por isso é essencial ter uma rotina de consultas nessa fase. Por isso, é muito importante que a criança seja levada ao oftalmologista regularmente para que sejam diagnosticados possíveis erros de refração ou doenças oculares.
É importante elas frequentarem, independentemente de queixas ou não, um oftalmologista para ver se existe alguma alteração. Porque, por exemplo, a criança pode ter um olho que funciona muito bem e outro que não e ela nunca soube dessa diferença porque ela nasceu desse jeito. Se ela não desenvolver esse olho antes dos 10 anos, ela pode ficar amblíope: um olho que estruturalmente é normal, só que ele não tem potencial de visão cerebral e não tem como estimular esse olho depois”, alerta.
Consultas regulares ao oftalmologista ao longo da vida
Presidente da Sociedade de Oftalmologia de Pernambuco e diretor médico do Hospital de Olhos de Pernambuco (HOPE), Vasco Bravo Filho, reforça que “os cuidados com a visão devem ser adotados por toda a vida e quanto mais envelhecemos, maior é a probabilidade de desenvolvermos doenças oculares”.
A partir dos 40 anos a maioria das pessoas começa a apresentar presbiopia, a chamada vista cansada. Aos 50 aumentam as chances de glaucoma e catarata. E, a partir dos 60, de degeneração macular relacionada à idade (DMRI)”, diz o oftalmologista, que é especialista em doenças da retina.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a catarata é responsável por 51% dos casos de cegueira global, afetando cerca de 20 milhões de pessoas. Apesar dos números expressivos, muitos casos poderiam ser evitados com diagnóstico precoce e tratamento adequado. A doença, que provoca a opacificação do cristalino, costuma se manifestar com o avanço da idade, mas também pode ocorrer por fatores como diabetes, uso prolongado de corticosteroides e exposição excessiva ao sol sem proteção.
Segundo Henrique Rocha, muitas vezes a ida ao oftalmologista só acontece quando aparece alguma dificuldade de enxergar, mas deve-se consultar regularmente. “Em geral a consulta de rotina deve ser anual em adultos saudáveis, mas a frequência recomendada varia com a idade e com a saúde ocular do paciente”, diz.
Pessoas com histórico familiar de doenças oculares ou que tenham algum sintoma de problema ocular, devem ir ao oftalmologista com maior frequência. Da mesma forma, aqueles com mais de 40 anos ou com doenças crônicas como diabetes ou hipertensão arterial também devem fazer exames de rotina mais vezes”, destaca o médico.
Sinais de alerta
Henrique Rocha elenca ainda os sinais de alerta para se procurar um oftalmologista. “Dificuldade para enxergar de perto ou de longe, visão turva ou embaçada, visão dupla, manchas escuras na visão, sensibilidade à luz, cores desbotadas, dor intensa nos olhos, vermelhidão, coceira, sensação de queimação, inchaço, olhos secos, lacrimejamento excessivo, dores de cabeça constantes. Todos são sintomas de que é preciso agendar uma ida ao especialista”, alerta.
A vida moderna também afeta a saúde dos olhos, o que se torna uma necessidade a mais de não postergar as consultas oftalmológicas. “A poluição, tanto do ar quanto a visual, e a exposição excessiva a telas que todos sofremos podem ter impactos negativos na saúde ocular, causando desconforto, fadiga e várias doenças. É importante tomar medidas para minimizar esses riscos, como fazer pausas durante o uso de telas, usar óculos escuros ao ar livre e avaliar a saúde ocular regularmente com um especialista”, salienta o presidente da SGO.
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Avanços nos tratamentos e expectativas em relação à terapia genética
Além de fazer uma homenagem ao profissional responsável pela prevenção e cuidado das doenças oculares, o O Dia do Oftalmologista também chama atenção para uma das áreas da Medicina que mais registra avanços tecnológicos nos diagnósticos e tratamentos, para oferecer maior conforto e bem-estar a pacientes de todas as faixas etárias, que apresentam problemas de visão.
Nas últimas duas décadas, a grande revolução nos tratamentos se deve aos medicamentos que são injetados dentro do globo ocular para controlar o edema da mácula, a parte central da retina, e as doenças responsáveis por esse inchaço, como a DMRI, a retinopatia diabética e a oclusão venosa, que é um derrame dentro do globo ocular”, diz Vasco Bravo Filho.
De acordo com o médico, “esses medicamentos possibilitam prevenir a cegueira, impedir a progressão da perda visual e, em alguns casos, recuperar a visão. Há outros remédios mais modernos em desenvolvimento, cuja promessa é proporcionar o aumento dos intervalos entre uma administração e outra. Isso representa um grande benefício aos pacientes, especialmente para os idosos, que não precisarão mais ir constantemente ao hospital para receber as injeções”.
A catarata, por exemplo, registra um salto no tratamento. A técnica cirúrgica é extremamente segura e consiste em substituir o cristalino opaco, lente natural do olho que perdeu sua transparência em decorrência do envelhecimento, por uma lente artificial.
Hoje temos lentes intraoculares desenvolvidas por tecnologias cada vez mais avançadas, capazes de corrigir ao mesmo tempo erros refrativos como miopia, hipermetropia, astigmatismo ou presbiopia, a chamada vista cansada, aumentando a chance de maior independência do óculos após a cirurgia”, complementa o oftalmologista.
No campo da genética as expectativas também são promissoras. Vasco Bravo Filho acredita que um dia a análise do sangue do paciente vai ajudar a medir a frequência de aplicação das drogas. Ele conta que “nos últimos congressos europeu e brasileiro de retina, uma pesquisa genética mudou as células da retina de forma que ela passou a produzir as substâncias que eram injetadas no olho, aumentando a distância entre uma aplicação e outra dos remédios. Mas ainda são necessários mais estudos”.
Com Assessorias